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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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Transtorno Bipolar: o que você precisa saber?

Caracterizado pelas mudanças de humor, transtorno pode oscilar da euforia e aumento de enrgia à depressão

Por Analice Gigliotti
21 fev 2024, 11h25

Todo dia 30 de março é marcado pelo Dia Mundial do Transtorno Bipolar. A data não foi escolhida aleatoriamente: trata-se do dia do aniversário do pintor holandês Vincent Van Gogh, diagnosticado com transtorno bipolar após sua morte, em 1890, aos 37 anos. A data é importante para trazer conscientização sobre uma doença que, segundo a Organização Mundial de Saúde, atinge 140 milhões de pessoas.

Porém, tão importante quanto esclarecer o que é o transtorno bipolar, é fundamental também clarear o que ele não é, já que vive cercado por preconceito e ideias pré-concebidas (e geralmente erradas).

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, existem dois tipos de bipolaridade. O bipolar tipo 1 é caracterizado por quadros de mania, e o bipolar do tipo 2, com hipomania. Ambos não precisam, necessariamente, cursar com depressão. Hipomania reúne todos os sintomas da mania, mas de forma mais branda, com alteração de humor menos elevada, e que não demanda internação.

As mudanças de humor em pacientes bipolares vão muito além das experiências cotidianas da maioria das pessoas, de se sentirem um pouco tristes ou felizes. Alguém com transtorno bipolar pode ter períodos longos ou curtos de estabilidade, mas pode, logo em seguida, entrar em fase de depressão ou, no outro extremo, experimentar euforia, nas já referidas formas de mania ou hipomania. Eles também podem experimentar um “estado misto”, onde sintomas de depressão e mania ocorrem ao mesmo tempo.

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O transtorno bipolar pode afetar pessoas de todas as idades. Assim como outros transtornos mentais, seus sintomas são geralmente notados pela primeira vez em adolescentes e adultos jovens. Pesquisa britânica da Fundação Bipolar UK, quase 50% das pessoas apresentam sintomas antes dos 21 anos. Ainda segundo os ingleses, jovens tiveram mais resultados positivos para bipolaridade do que pessoas mais velhas: 3,4% das pessoas de 16 a 24 anos e 0,4% entre as pessoas com idade entre 65 e 74 anos tinham bipolaridade. Trata-se de um transtorno com tantas sutilezas que é possível levar até oito anos do início da doença até se chegar ao diagnóstico.

Apesar de ser impossível obter um número exato da prevalência da bipolaridade, tendo em vista que os pesquisadores usam métodos e critérios diferentes de medição de dados e diagnóstico, estima-se que de 1% a 5% da população global tenham a doença.

Não existem padrões típicos de sintomas. Em alguns casos, os sintomas de depressão e mania se misturam. Em casos extremos, há relatos de psicose. Um pequeno número de pessoas com bipolaridade experimenta ciclos rápidos, onde as suas emoções mudam em sucessão veloz.

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É importante ressaltar que pessoas com bipolaridade podem viver uma vida “normal” com um humor relativamente estável durante semanas, meses ou até anos. Mas tanto o humor maníaco quanto o depressivo podem ser incrivelmente destrutivos.

Na fase de mania, o humor do paciente fica expansivo e irritável, com significativas mudanças nos níveis de energia e atividade. A pessoa pode se sentir eufórica, muito animada, extremamente confiante ou superior aos outros, com maior excitação sexual que o normal, irritável, com os pensamentos acelerados. Neste estado, é comum que indivíduos falem muito, tomem decisões impulsivas, gastem dinheiro de forma imprudente, digam coisas inapropriadas ou grosseiras, usem mais álcool e drogas, e durmam pouco.

Já a fase da depressão – que não afeta necessariamente todas as pessoas com bipolaridade –, os sintomas típicos incluem tristeza, desânimo ou desesperança. Os sintomas podem variar de leves a graves e esses períodos podem ser muito debilitantes. O paciente pode se sentir desesperado, triste e choroso; cansado; sem autoconfiança; desinteressado; lentificado. Nestes casos, é normal que a pessoa acabe perdendo interesse por coisas que geralmente gosta, durma mais ou menos do que o normal e altere seus hábitos alimentares, passando a comer pouco ou muito. A depressão grave pode levar ao pensamento suicida e se não for tratado chegar, infelizmente, à sua concretização.

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Mas o que causa a bipolaridade? Os sintomas bipolares resultam de um desequilíbrio do sistema neurológico que torna difícil para o cérebro regular o humor. Como resultado, o humor de alguém pode se tornar instável ou fixo nos estados extremos de depressão, mania ou hipomania.

Estudos com gêmeos indicam que a bipolaridade é, principalmente, uma condição genética. Se um gêmeo for bipolar, seu irmão idêntico tem 70% de chance de desenvolver a doença. Não existe um único gene responsável pela bipolaridade, mas um conjunto de mais de cem mil genes que também estão ligados à esquizofrenia, ansiedade e depressão.

Algumas famílias apresentam altos níveis de herdabilidade (quando a condição é transmitida de geração em geração), enquanto outras apresentam níveis muito baixos. Os pesquisadores ainda não sabem por que há uma variação tão grande, embora alguns acreditem que ela possa estar ligada à exposição à adversidade em uma idade jovem – às vezes devido ao fato de os próprios pais apresentarem sintomas bipolares não diagnosticados ou controlados.

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Pessoas que vivem com bipolaridade podem experienciar a doença de diferentes maneiras. A condição pode ter um impacto devastador tanto nos pacientes como nos seus familiares, por exemplo. Durante os episódios maníacos e depressivos, bipolares podem fazer coisas das quais se arrependem, como gastar as economias da família em carros e presentes para estranhos, cometer erros no trabalho ou ter casos extraconjugais.

Quem convive com este transtorno afirma que culpa e vergonha são sentimentos comuns como consequência do seu comportamento. Raiva e frustração também aparecem ocasionalmente, por terem perdido anos das suas vidas e não serem capazes de realizar todo o seu potencial.

Esses sentimentos negativos, baixa autoestima e experiências traumáticas podem causar estresse, tornando ainda mais difícil manter um humor equilibrado. Alguns ficam presos num ciclo vicioso e acabam precisando recorrer a internações frequentes.

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Os tratamentos primários para o transtorno bipolar incluem medicamentos e psicoterapia para controle dos sintomas. Outra alternativa são grupos de apoio, que colaboram no compartilhamento de informações e experiências.

Por tudo isso que datas como o 30 de março, Dia Mundial do Transtorno Bipolar, são tão importantes, não apenas para aqueles que tem a doença, mas também para quem os cerca. Informação e conscientização são o melhor caminho para acabar com preconceitos e ampliar o número de pessoas diagnosticadas e atendidas corretamente.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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