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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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Remédios e direção de automóveis: por que a combinação pode ser perigosa?

Aumento das vendas alerta sobre os perigos de conduzir sob efeito de medicamentos psiquiátricos

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 27 mar 2024, 12h17 - Publicado em 27 mar 2024, 12h08

É cada vez mais disseminada e aceita pela sociedade a ideia que bebida alcoólica e volante não combinam. Há alguns anos iniciativas como a Lei Seca, que flagra motoristas que consumiram álcool, se tornaram corriqueiras em grandes cidades como o Rio – e, por consequência, muitos cariocas passaram a deixar o carro na garagem quando sabiam que iriam beber álcool.

No entanto, é importante criar consciência que não apenas o álcool põe a vida do motorista (e dos outros!) em risco: diversos medicamentos também podem afetar a capacidade de uma pessoa dirigir com segurança.

Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), é fundamental falar sobre o tema diante do aumento do consumo de medicamentos controlados após a pandemia: o uso de remédios para ansiedade cresceu 10% entre 2019 e 2022; os  sedativos, por exemplo, saltaram 33% em vendas. De acordo com a Fundação Instituto de Administração (FIA), em parceria com o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (IBEVAR), a compra de remédios já responde por 6,5% dos gastos das famílias brasileiras.

Benzodiazepínicos, por exemplo, são capazes de afetar quase todos os domínios cognitivos; anto-histamínicos podem trazer efeitos sedativos, retardar o tempo de reação do motorista, bem como prejudicar seu desempenho psicomotor. Os hipnóticos Z potencializam sensações de sedação, diminuição do estado de alerta, lapsos de atenção e instabilidade corporal. Por fim, os opioids – indicados para tratamento de dores – são capazes de reduzir o tempo de reação do motorista, retardar reflexos e coordenação motora, aumentar o déficit de atenção e diminuição da visão periférica.

Por todos esses fatores, desde 2015 o consumo de remédios foi incluído entre os fatores de risco para sinistros de trânsito pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2018, a Organização das Nações Unidas (ONU) agregou esse entendimento em resolução sobre segurança viária. No Brasil, até o momento nenhuma legislação aborda os riscos da interface entre medicamentos e a direção.

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Esta não é a primeira vez que a Abramet sinaliza preocupação com a combinação de remédios e trânsito. A exemplo do que já acontece em outros países, como França e Espanha, a Associação chegou, em 2009, a recomendar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a utilização de um “símbolo de alerta” para as embalagens dos chamados Medicamentos Potencialmente Prejudiciais ao Condutor de Veículos Automotores. No entanto, a sugestão não foi adotada pelas autoridades.

A ideia não é vilanizar os medicamentos, tendo em vista seus conhecidos benefícios, mas ao contrário, ampliar o conhecimento de quem os consome. O trânsito no Brasil está entre os três que mais matam no mundo, perdendo apenas para China e Índia: cerca de 33 mil mortes ao ano, de acordo com o Ministério da Saúde. Portanto, qualquer iniciativa que busque salvar vidas e reduzir este número trágico, como o alerta acerca dos medicamentos, deve ser apoiada e incentivada.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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