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Analice Gigliotti

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Comportamento

Estudo britânico conclui que consumo moderado de álcool não é saudável

Nova pesquisa aponta que não há nível de consumo que não acarrete consequências para a saúde

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 28 abr 2022, 20h12 - Publicado em 22 abr 2022, 10h58
Mulher recusa uma taça de vinho.
Nova pesquisa britânica conclui que consumidores ocasionais de bebidas alcoólicas não estão livres de prejuízos do álcool. (Shutterstock/Reprodução)
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Um dos argumentos mais recorrentes entre quem consome bebidas alcóolicas é que elas podem fazer bem à saúde, se ingeridas com moderação. Volta e meia, ouvimos que uma dose diária seria bom para o coração. Mas agora, um artigo publicado na prestigiada revista Jama Networtk Open aponta que não há nível de consumo de álcool que não implique em riscos de doenças cardíacas. 

O novo estudo envolveu o que há de mais moderno em termos de análises de genes e informações médicas de quase 400 mil pessoas do UK Biobank, banco de pesquisas britânico que se debruça sobre a relação dos genes com a saúde. De acordo com o estudo, o consumo semanal de bebida alcóolica dos entrevistados é de 9,2 doses – volume quase 30% superior ao que pretensamente seria recomendado como doses toleráveis para uma semana.

Os cientistas se dedicaram a entender o que leva uma pessoa a beber mais ou menos. A resposta está em variações genéticas que determinam tal predisposição. A principal conclusão do estudo é que não há um nível de consumo de álcool que não cause algum risco à saúde do coração. Ele pode até ser menor para quem consome até sete doses por semana (não todas no mesmo dia, naturalmente), mas cresce rapidamente diante de níveis maiores de álcool no organismo.

O que os pesquisadores constataram é que o estilo de vida de quem consome poucas doses por semana é mais saudável. Além de beberem pouco, praticam exercícios, fumam menos e se alimentam melhor. Portanto, não é que o álcool proteja o coração, como muito se apregoa por aí – ao contrário, essas pessoas são mais saudáveis apesar da bebida alcoólica.

A pesquisa britânica vai de encontro ao que já havia apontado o Journal of Studies on Alcohol and Drugs, em 2020. Segundo eles, o perigo não reside apenas no consumo excessivo – pequenas doses também podem ser danosas à saúde e levar à internações e óbito. “Consumidores ocasionais de bebidas alcoólicas não estão livres de prejuízos do álcool”, sentenciou o pesquisador Adam Sherk, da University of Victoria in British Columbia, no Canadá. É importante salientar que mesmo estes, os moderados, tem benefícios a curto prazo ao parar de beber: a qualidade do sono, o estado de atenção durante o dia e maior facilidade em perder peso. Segundo o estudo canadense, mesmo consumindo as doses indicadas pelas autoridades, cidadãos foram hospitalizados ou morreram em decorrência de doenças causadas pelo álcool.  

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Alguns grupos devem, obrigatoriamente, se manter distantes da bebida alcóolica, como grávidas, indivíduos em uso de medicamentos psicotrópicos e menores de idade, por exemplo. Quanto aos outros, é fundamental que saibam que não existe quantidade de doses a ser recomendada com segurança. Em outras palavras: não há consumo de álcool sem algum risco implícito. “Não beba, mas se beber, não ultrapasse uma dose por dia. Quando se trata de consumo de álcool, menos é melhor”, arremata Sherk. Touché.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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