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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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Estudo britânico aponta ligação entre depressão e poucas horas de sono

Idosos com predisposição genética para dormir pouco têm maior risco de desenvolver sintomas depressivos

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 2 nov 2023, 09h44 - Publicado em 31 out 2023, 15h08

Novos estudos desenvolvidos nos melhores centros acadêmicos do mundo não param de trazer novas perspectivas sobre como a saúde mental é diretamente impactada pelo estilo de vida que levamos. A mais recente constatação vem da Inglaterra. Segundo uma pesquisa britânica, dormir com frequência menos de cinco horas por noite pode ser um fator de risco para a depressão. A University College de Londres, um dos centros mais respeitados do mundo, partiu de dados do “Estudo Longitudinal Inglês sobre Envelhecimento” para avaliar a predisposição genética dos participantes do estudo ao transtorno psiquiátrico para compreender uma antiga questão: o que viria primeiro, a insônia ou os sintomas depressivos? E qual a relação entre eles?

O sono abaixo do ideal e a depressão aumentam com a idade, e com o fenômeno mundial do envelhecimento populacional, há uma necessidade crescente de compreender melhor o mecanismo que conecta a depressão e falta de sono.

Para chegar à conclusão de que dormir menos que o ideal é anterior à depressão foi preciso considerar uma estimativa chamada Escores de Risco Poligênico (PGS). Os PGS são os índices da propensão genética para uma determinada característica, possibilitando descobrir a relação entre sono e depressão.

Depois de analisarem dados genéticos e de saúde de mais de sete mil pessoas com idade média de 65 anos e que dormiam, em média, sete horas por noite, os pesquisadores descobriram que quem apresentou predisposição genética mais forte para dormir pouco (ou seja, menos de cinco horas por noite) tinha 2,5 vezes mais probabilidade de desenvolver sintomas depressivos. Já aquelas com sintomas depressivos tinham um terço mais de chances de sofrer de sono curto.

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Desta forma, a boa noite de sono faz parte da estabilidade da saúde física e mental. Isso ocorre porque vários processos orgânicos, fisiológicos e metabólicos acontecem durante o sono, como a liberação de hormônios — de insulina ao hormônio do crescimento —, além de alguns processos cerebrais, como a consolidação da memória e das experiências apreendidas durante o dia e regulação das emoções.

Hoje, a insônia já é classificada como um transtorno psiquiátrico e não um sintoma de outras condições. O consumo desenfreado de remédios indutores de sono confirma que não se trata de um ou outro caso isolado, mas sim um fenômeno social. A insônia não se caracteriza apenas pela quantidade de horas dormidas, como foi analisado pelo estudo britânico, mas também pela qualidade do sono que anda cada vez pior.

Há uma série de comportamentos que auxiliam na manutenção do sono de qualidade, como evitar o consumo de cafeína após as 16 horas, não permanecer em frente ao celular ou computador na hora de dormir, manter regularidade na hora em que se recolhe para dormir, atentando para um ambiente escuro e sem barulhos, por exemplo.

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Se a privação de sono causa problemas durante a noite, ela também traz prejuízos durante o dia, quando a pessoa deveria estar descansada. Piora na cognição, na atenção, na memória e perda de habilidade motora são apenas algumas das consequências que uma noite mal dormida acarreta no dia seguinte. Além disso, ter insônia ou sono restrito com duração de menos de seis horas por noite pode estar relacionado a problemas cardíacos e diabetes, por exemplo.

O próximo passo da pesquisa britânica é investigar uma eventual relação de causa e efeito entre a falta de sono e a ocorrência de ansiedade, transtorno bipolar e esquizofrenia. Para nós, brasileiros, pode ser muito útil: somos o país com o maior índice de casos de ansiedade do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Investigar a zona de interseção entre os transtornos mentais e o estilo de vida pode ser a chave para uma vida mais leve e saúdável.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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