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Comportamento
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Alimentos ultraprocessados e depressão: qual a relação entre eles?

Estudo brasileiro indicou que alimentos estão ligados a sintomas depressivos

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 21 Maio 2024, 09h03 - Publicado em 21 Maio 2024, 08h29
Diversos alimentos ultraprocessados sobre uma mesa.
Alimentos ultraprocessados: estudo da USP confirma, mais uma vez, os malefícios que este tipo de alimento faz à saúde. (Pixabay/Reprodução)
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Cientistas da USP (Universidade de São Paulo) que se dedicam a estudar os padrões alimentares dos brasileiros, no Estudo NutriNet Brasil, concluíram que o consumo demasiado de ultraprocessados – bebidas açucaradas, cereais matinais e pães, bolos e doces industrializados – está diretamente relacionado ao aparecimento de sintomas depressivos por quem tem dois quintos das refeições baseadas neste grupo alimentar. O trabalho foi publicado na revista científica Clinical Nutrition e financiado pela Fapesp, a partir de um estudo populacional com mais de 16 mil indivíduos. Os pesquisadores também observaram um aumento de 10% de sintomas depressivos a cada 10% a mais de alimentos ultraprocessados no cardápio diário.

A nova pesquisa brasileira endossa outros estudos internacionais que apontam os malefícios dos ultraprocessados. Um exemplo é o estudo laboratorial publicado no Journal of Affective  Disorders, apontando que o consumo de ultraprocessados está diretamente associado à depressão, inflamações e danos ao sistema mesocorticolímbico (sistema de recompensa). Ainda nesta linha, o prestigiado JAMA (Journal of American Medical Association) publicou outro estudo que acompanhou mais de 31 mil mulheres de meia idade, no período de 2003 a 2017 e a conclusão foi a mesma: milhares de novos casos de Transtorno Depressivo foram constatados entre as participantes com consumo alto de ultraprocessados (diferente do estudo brasileiro, em que apenas sintomas depressivos foram identificados).

Para evitar ainda mais o agravamento do preocupante quadro de saúde pública, a OMS recomenda a taxação de 20% sobre alimentos ultraprocessados (no Brasil, hoje, ela está por volta de 4%). Estudos acadêmicos e a experiência de outros países, como França, Reino Unido, Portugal e alguns estados americanos comprovam que aumentar os impostos desse segmento de produto é bom não apenas para a saúde, mas também para o sistema econômico.

Se o país atendesse a recomendação da OMS, o consumo cairia em 19% e, ainda assim, a arrecadação do governo saltaria para 4,7 bilhões ao ano, gerando 70 mil novos empregos. Segundo estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), se a alíquota de imposto chegasse a 50% sobre essas bebidas açucaradas e ultraprocessados, o consumo cairia em 49% e a arrecadação de impostos subiria para sete bilhões de reais ao ano, gerando 200 mil novos postos de trabalho. A reboque, o aumento de imposto aumentaria o consumo de bebidas saudáveis, como água (55%), suco natural (38%), leite (19%), chá e café (40%) e os recursos provenientes do aumento de tributos ajudariam a financiar a prevenção de doenças.

O mais cruel é que os ultraprocessados – aditivados com aromatizantes, saborizantes e conservantes e de baixo valor nutricional –, por seu perfil barato e apelativo ao paladar caem facilmente no gosto da população mais carente, com escolaridade e renda menores. A educação alimentar, que já se vê nas escolas, precisa também chegar aos adultos e idosos, em nome da saúde física e mental dos brasileiros.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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