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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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Álcool e drogas: dois anos depois, a consequência dos excessos na pandemia

Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo provoca reflexão sobre os excessos causados pela pandemia

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 3 mar 2022, 12h26 - Publicado em 26 fev 2022, 11h40

O último domingo, 20 de fevereiro, é lembrado anualmente como o Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo. As estatísticas comprovam que, mais do que nunca, a efeméride precisa ser valorizada. Em 2021, o Ministério da Saúde registrou um preocupante aumento de 11% nos atendimentos a transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de substâncias, em comparação com 2020. Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), 400.374 atendimentos para tal finalidade foram realizados ano passado, frente a 356.013 ocorrências em 2020.

Outro dado preocupante refere-se à faixa etária que concentra o maior número de atendimentos: 75% dos casos são de pacientes entre 25 e 29 anos, ou seja, 303.745 em números absolutos. Em seguida vem os pacientes ainda mais jovens, de 10 a 24 anos (49.469 no total). Em terceiro lugar estão os idosos, com mais de 60 anos (somando 38.482).

Nos últimos dois anos, a pandemia atuou como um potencializador dos danos que o álcool e as drogas podem exercer na saúde mental. Quem já apresentava algum transtorno, mesmo que leve, teve a situação agravada. Já entre os que tinham quadro moderado passaram a ter o transtorno mais graves. Como se não bastasse o trauma coletivo que a Covid-19 representa para a humanidade, agora o mundo assiste, estarrecido, o começo de uma nova guerra, entre Ucrânia e Rússia, trazendo mais tensão e insegurança.

O aumento da incidência dos transtornos mentais por uso de álcool tem origem em diferentes situações: desde os quadros de depressão ou ansiedade ligados à intoxicação, passando por sintomas da síndrome de abstinência, problemas sexuais e transtornos do sono, até pacientes que ficaram mais agitados – por vezes psicóticos – e recorreram a prontos-socorros, por vontade própria ou à revelia.

Entre os que estavam abstinentes houve mais propensão à recaídas em consequência da angústia e das incertezas. Outras pessoas relatam que não tinham qualquer transtorno por uso de álcool, mas diante do isolamento social imposto pela pandemia, passaram a consumi-lo mais frequentemente. Quem antes bebia na rua, em uma festa ou happy hour, passou a beber em casa. O mais grave é que com a adesão ao home office, normalizou-se como hábito o consumo de bebida alcóolica durante o horário de trabalho.

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A verdade inexorável é que a sucessão de exposição das pessoas às situações de estresse – pela duração da pandemia, pelo uso prolongado de máscaras faciais, pela perda de parentes e amigos, pela comprovação da instabilidade da vida – serviu como salvo conduto para indulgências, dentre elas o consumo abusivo de álcool. Ainda que o álcool seja lícito, ele impõe consequências mais danosas que algumas drogas ilícitas, dependendo da quantidade que é consumido.

E essa conta começa a chegar. O que estamos assistindo agora é a consequência trágica do que profissionais de saúde vínhamos alertando há meses. O mais triste e preocupante é saber que será preciso muito tempo para dar conta da pandemia pós-pandemia: depois da Covid-19, um rastro de danos causados à saúde mental da população.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif

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