A verdade a respeito dos adoçantes artificiais que substituem o açúcar
Adoçantes podem ser aliados de dietas com restrições, se usados de forma correta
Recente mantéria do jornal americano New York Times trouxe dados muito interessantes para quem acompanha de perto os hábitos alimentares da população. De acordo com o periódico, quando os adoçantes artificiais entraram no mercado americano, na década de 1950, os fabricantes de alimentos se vangloriaram de satisfazer o desejo americano por doces sem os efeitos negativos para a saúde – e calorias – do açúcar.
Agora, sete décadas depois, os adoçantes artificiais e outros substitutos do açúcar tornaram-se onipresentes na alimentação, aparecendo em diversos produtos, incluindo refrigerantes dietéticos, pães e iogurtes com baixo teor de açúcar. Mas cientistas e pesquisadores tem defendido que eles não foram estudados o quanto deveriam e podem trazer certos riscos para a saúde.
Antes de mais nada, convém explicar que um componente que se intitula “substituto do açúcar” são substâncias com sabor adocicado, mas que não possuem as calorias encontradas no açúcar. Eles podem ser milhares de vezes mais doces que o açúcar, portanto uma pequena quantidade é capaz de oferecer o dulçor procurado pelo consumidor. E aí mora o primeiro problema. Por acreditarem que não engordam, produtos com baixo teor de açúcar, mas alto em calorias, acabam sendo mais consumidos e levando à obesidade, alteração metabólica e ao diabetes tipo 2. Além disso, outra tendência de comportamento de quem recorre aos adoçantes é usá-los em quantidade maior do que a necessária, buscando um dulçor extremo.
Adoçantes, de modo geral, são usados para adoçar muitos alimentos e bebidas “sem açúcar” e “diet”, incluindo bebidas energéticas, chicletes, doces, assados e sobremesas congeladas. Muitos também são vendidos como produtos independentes, em pó ou líquido. Eles podem ter três origens: aditivos alimentares sintéticos (como aspartame, sucralose e sacarina, por exemplo); adoçantes à base de plantas e frutas (como estévia); e os álcoois de açúcar, que não são açúcares nem álcoois, são um tipo de carboidrato com sabor doce, mas com menos calorias (e carboidratos) que o açúcar (são eles: sorbitol, xilitol, manitol e eritritol).
Em 2022, uma revisão de 12 ensaios clínicos randomizados, a maioria com duração de seis meses ou menos, os pesquisadores concluíram que a substituição de bebidas adoçadas com açúcar por bebidas adoçadas com baixas calorias (ou sem elas) poderia levar a alguma perda de peso – cerca de um a três quilos, em média – em adultos com sobrepeso ou obesidade e que têm (ou estão em risco de ter) diabetes.
No entanto, estudos de longo prazo sobre substitutos do açúcar não encontraram benefícios na perda de peso, e até mesmo alguns danos. Por esta razão, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou, em 2023, que as pessoas evitassem o uso de substitutos do açúcar para controlar o peso ou melhorar a saúde, citando pesquisas que os associaram a maiores riscos de problemas de saúde como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, obesidade e morte precoce.
É difícil tirar conclusões seguras de estudos sobre dieta e saúde, tendo em vista que este tipo de pesquisa é observacional, ou seja, é capaz de associar o consumo de substitutos do açúcar a certos efeitos para a saúde, mas não pode provar causa e efeito. É possível que consumidores de refrigerantes diet sejam simplesmente menos saudáveis ou outros ingredientes dos alimentos ou bebidas sejam responsáveis por causar danos. Muitos cientistas tentaram explicar essas limitações e ainda encontraram ligações consistentes entre os adoçantes e problemas de saúde.
Mas para resolver completamente estas questões de causa e efeito, os pesquisadores precisariam conceber estudos que meçam diretamente como os substitutos do açúcar afetam a saúde humana a longo prazo, o que é praticamente impossível de ser feito tendo em vista o tempo que essa experiência demandaria.
Ainda assim, alguns (mas não todos) estudos bem controlados em animais e pequenos experimentos em humanos, que podem mostrar causa e efeito, mostraram indícios de como certos adoçantes podem levar a problemas de saúde, como coagulação sanguínea, o risco de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral, e que outros substitutos do açúcar podem alterar o microbioma intestinal e prejudicar o controle do açúcar no sangue.
Mas tudo isso não deve causar uma aversão irredutível aos adoçantes. Ainda não se sabe se eles são prejudiciais à saúde humana ou se certos substitutos do açúcar são mais seguros do que outros.
O que não resta dúvida é que grandes quantidades de açúcar são prejudiciais à saúde, associando o ingrediente a maiores riscos de diabetes tipo 2, doenças cardíacas e obesidade. A American Heart Association recomenda que as mulheres não consumam mais do que 25 gramas de açúcar por dia e os homens, não mais do que 36 gramas por dia. Uma lata de Coca-Cola (350 ml) contém 39 gramas de açúcar.
Alguns subterfúgios para reduzir o consumo de refrigerantes normais ou diet, são recorrer às águas com gás saborizadas ou, em vez de comprar iogurte adoçado, recorrer ao iogurte natural com frutas e um pouco de mel.
Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.