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Comportamento
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A saúde mental dos homens: por que eles têm dificuldade em pedir ajuda?

Autossuficiência, dificuldade em expressar emoções e autocontrole estão entre as principais razões para quem eles não busquem ajuda

Por Analice Gigliotti
18 nov 2024, 09h22
Homem sentado pensativo.
Insegurança financeira e desigualdade social também podem trazer prejuízo à saúde mental dos homens, afirma OMS. (Freepik/Reprodução)
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A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou estudo recente a respeito da saúde mental dos homens e o impacto de construções culturais de masculinidade na procura por ajuda e tratamento para questões de transtornos mentais, tendo como base evidências publicadas em inglês e russo.

Autossuficiência, dificuldade em expressar emoções e autocontrole foram as principais barreiras socioculturais que impedem os homens de procurarem assistência psicológica. É muito curioso, porque são três comportamentos facilmente identificáveis também entre os brasileiros. De acordo com velhas normas do que é “ser homem” no Brasil, que vigoravam até bem pouco tempo, não há dúvida que ser autossuficiente, ter dificuldade de lidar com emoções e não perder o controle estão entre elas.

Insegurança econômica e a desigualdade social são outros fatores que também pesam na balança, de acordo com a pesquisa da OMS. Isso confirma a percepção que os homens se sentem sempre cobrados, obrigados a estarem “bem”, sem demonstrarem qualquer hesitação mediante os compromissos que tem junto à família e ao trabalho. Ou seja: a antiga imagem do “provedor infalível” exige um preço alto da saúde mental dos homens.

Talvez porque o custo deste papel seja um fardo pesado demais, especialmente os homens das novas gerações, a pesquisa da Organização Mundial de Saúde também trouxe evidências de que os homens começam a entender que vulnerabilidade não tem nada a ver com fraqueza e que podem ser capaz de demonstrá-la e, quando necessário, recorrer a pessoas de confiança (como familiares, cônjuges ou especialistas).

Um primeiro passo está dado, mas ainda é incipiente. O universo masculino ainda é cercado de preconceitos. A maior prova disso é que 70 mil homens morrem ao ano por câncer de próstata, doença facilmente identificável e tratável, desde que se submetam ao exame de toque – gesto que muitos ainda se recusam pela absurda hipótese de ver sua masculinidade ameaçada por um procedimento médico.

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Por serem menos propensos que mulheres a procurar ajuda para questões de saúde mental, homens tem, consequentemente, maior tendência a cometer suicídio e a abusar no consumo de drogas, ainda de acordo com a OMS. Em um país machista e misógino como o Brasil, é preciso diferenciar desmistificar e os transtornos mentais e rever os preconceitos que os encobrem para, só assim, conseguir ampliar a capacidade de acolher e prestar atendimento em saúde mental aos homens. Isso não será bom apenas para eles, mas também para a construção de uma sociedade mais responsável e justa.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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