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Comportamento
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A saúde mental como prioridade de política pública

Grupo tem desafiadora missão de enfrentar prioridades numa área tão carente como a da saúde pública

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 17 nov 2022, 12h05 - Publicado em 16 nov 2022, 14h58

Enquanto ainda não há muita clareza sobre os nomes que irão compor os ministérios do novo Governo Federal, que toma posse em janeiro, comitês estão sendo formados para o período de transição em todas as áreas. Para a pasta da Saúde foram convidados os medicos Ludhmila Hajjar, Miguel Srougui e Roberto Kalil, três professores da Faculdade de Medicina da USP. Eles se juntam aos ex-ministros da Saúde Alexandre Padilha, Arthur Chioro e José Gomes Temporão na desafiadora missão de criar prioridades numa área tão carente como a da saúde pública, que sofre de todo o tipo de problema – de desabastecimento de medicamentos à problemas de infraestrutura.

Mas já na largada, tivemos uma grata surpresa: a saúde mental, frequentemente relegada a planos secundários diante de outras urgências, aparece como um dos pontos fundamentais de trabalho para o grupo, de acordo com Chioro. Para o ex-ministro, ter uma política de saúde mental, de prevenção e controle do uso abusive de álcool e drogas é uma prioridade.

A declaração de Chioro soa bem a quem trabalha na área. Há muito tempo, percebemos um certo descompromisso do poder público com campanhas de conscientização e de combate ao uso de drogas, lícitas ou ilícitas, apesar das campanhas lideradas pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), como “Setembro Amarelo”, “Craque que é craque não usa crack” e contra a psicofobia.

Quanto às drogas lícitas, a que mais causa preocupação é o álcool, cujo consumo foi intensificado consideravelmente pela pandemia e pelo isolamento social. De acordo com a Pesquisa Vigitel, realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), 20,9% da população adulta do país declarou fazer uso de bebida alcoólica durante a pandemia, um salto de mais de 5% se comparado a 2006. 

As campanhas de consumo consciente de álcool deveriam ter como referência a política de controle do tabaco, reconhecida como referência mundial. A prevalência de fumantes caiu de 35% em 1989 para 10% em 2019, de acordo com a Pesquisa Vigitel. Trata-se de uma queda significativa e que irá impactar no bem-estar social e nos custos da saúde pública a longo prazo.

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Por outro lado, estamos testemunhando nos últimos anos a ascensão dos vapers, que fazem tão mal quanto os cigarros tradicionais. A carência de informação pública de conscientização somada às milionárias campanhas de marketing e de lobby destes produtos transforma o embate em uma luta de forças desiguais. Bem como seria ingênuo acreditar que não haja entre as forças políticas um forte lobby da cannabis, uma indústria que cresce exponencialmente em diversos continentes.

Na última década o país assistiu ainda a uma veloz escalada do consumo de crack, não apenas pelas camadas mais pobres da população, mas também entre a classe media. O empobrecimento da população, o desemprego, a sensação de desesperança, a fome, a falta de condições mínimas de subsistência, tudo isso empurra os usuários cada vez mais para o entorpecimento oferecido pelas pedras de crack. E quanto mais fumam, menos conseguem reagir. Resumir o assunto a uma questão de polícia torna-se um eterno processo de “enxugar gelo”, com o crescimento exponencial de cracolâncias nas grandes cidades.

Todas estas constatações nos dão a certeza que não faltará trabalho ao grupo que se debruça sobre a atuação do Ministério da Saúde a partir de 2023. Saber que tantas questões delicadas estão no radar de profissionais encarregados da transição de governo traz um certo conforto a quem devota a vida à causa da saúde mental. Só nos resta esperar que isso de fato ocorra, atendendo a critérios técnicos.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria
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