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Por Analice Gigliotti, psiquiatra
Comportamento
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A desistência da tenista Ashleigh Barty: a arte de saber sair de cena

Aposentadoria da tenista de 25 anos surpreende e faz pensar

Por Analice Gigliotti
25 mar 2022, 12h50

Número um no ranking feminino de tênis, a australiana Ashleigh Barty surpreendeu a imprensa, os fãs e o mundo do esporte: aos 25 anos, ela anunciou sua aposentadoria das quadras. Campeã do Aberto da Austrália e de Wimbledon, optou por abandonar o esporte no auge da carreira. Barty assumiu que vinha pensando em se aposentar há bastante tempo e que teve um “pressentimento” após ganhar a competição inglesa em 2021. Mas ao contrário do que se poderia pensar, Barty não desistiu da carreira por causa de lesões ou doping. “Havia uma pequena parte de mim que não estava muito satisfeita, não estava totalmente realizada”, explicou ela.

O depoimento de Ashleigh Barty inspira uma série de provocações que fazem pensar. Quantas vezes as pessoas se valem de bons resultados – financeiros ou sociais, por exemplo – para não mudarem de vida, ainda que não estejam plenamente satisfeitas? Idade, dinheiro, compromissos, responsabilidades: há uma lista de desculpas convenientes para não se arriscar na vida. Nesse sentido, o exemplo de Barty é ainda mais inspirador: desistir no auge do sucesso é um exemplo potente de força e de certeza do caminho que se quer trilhar.

Ashleigh Barty não cedeu às pressões naturais – de patrocinadores à familia – de quem ocupa um lugar de relevância no seu mercado. Apesar da pouca idade, ela soube dar uma aula de coragem e maturidade e entender que sua trajetória como tenista profisisonal já havia batido no teto. A decisão da tenista remete à letra da música “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas: “É chato chegar a um objetivo num instante”. No caso de Barty, pode-se supor que não chato ser uma das maiores tenistas do mundo. Mas para que continuar se dedicando a uma vida de sacrifícios quando já não há mais estímulos? Apenas para conquistar Wimbledon mais uma vez? É motivo suficiente? Para alguns, certamente seria.

Apesar da atleta não ter citado em nenhum momento problemas de saúde mental, essa realidade tem se trornado uma constante no mundo do esporte. Nos últimos meses, esportistas como a ginasta americana Simone Biles, a tenista japonesa Naomi Osaka e o surfista brasileiro Gabriel Medina também anunciaram suas aposentadorias por questões emocionais. Mas Barty prefere apostar em novos objetivos de vida. “Eu não tenho mais o impulso físico, o desejo emocional e tudo que é necessário para desafiar a mim mesma no mais alto nível”, resumiu.

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“Sou muito grata por tudo que este esporte me deu e saio orgulhosa e realizada. Sempre serei grata pelas memórias ao longo da vida que criamos juntos”, afirmou a tenista na despedida das quadras. Sua fala está empregnada de bons sentimentos que podem resumir seu estado de espírito ao tomar a difícil, porém importante, resolução de encerrar a carreira como tenista: gratidão, orgulho e realização.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

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