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Bangue-bangue na praia

A Região dos Lagos enfrenta um surto de assaltos e assassinatos. E agora Búzios lidera o ranking da violência no estado

Por Ernesto Neves
Atualizado em 5 jun 2017, 14h16 - Publicado em 12 dez 2012, 19h15
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    Vestidos com uniforme e capacete, dois homens entram na agência do Banco do Brasil em Búzios. Apesar dos trajes insuspeitos, a dupla de meliantes rende onze funcionários e o vigia, roubando um malote de dinheiro. Eles escapam em uma moto, que os esperava na calçada. Concluída sem pressa, a ação dos bandidos ocorreu no último dia 17, durante o feriadão da Proclamação da República, a 150 metros da badalada Rua das Pedras. Destino historicamente mais procurado pelos cariocas de férias, não só Armação de Búzios mas toda a Região dos Lagos enfrenta, às vésperas do verão, uma onda de crimes que preocupa moradores e turistas. “Vivemos hoje em Cabo Frio a mesma neurose das grandes cidades”, diz a empresária Gilda Cabral, que há poucos meses teve sua casa invadida, três dias após ter se mudado para o bairro Jardim Excelsior, justamente na área nobre do município. Nem mesmo a presença do 25º Batalhão de Polícia Militar a 200 metros da residência intimidou os assaltantes. “Já aconteceram vários assaltos na minha rua e raramente vejo patrulhas policiais por aqui”, lamenta ela, que depois da ocorrência gastou 2?000 reais para instalar cercas elétricas em torno da propriedade.

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    Episódios como guerra de quadrilhas de traficantes e assaltos a mão armada entraram na rotina da Costa Azul. Os números assustam. No mês de outubro, por exemplo, houve 23 assassinatos na região, o que representa um aumento de 109% com relação ao mesmo período de 2011. Na primeira semana do mês passado, mais sete pessoas foram mortas. Foi quando aconteceu, em Cabo Frio, um assassinato chocante: o da professora Josy Ramos, de 32 anos. Funcionária da Universidade Veiga de Almeida, ela foi enforcada. O corpo foi achado em seu carro, na localidade de Tangará. Dias depois, houve no bairro do Jardim Peró outra cena de violência explícita: um tiroteio entre bandidos resultou em um morto e três feridos por balas perdidas.

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    O balneário de Búzios, o local que mais vem sofrendo com a ousadia dos criminosos, hoje tem, proporcionalmente, a maior taxa de homicídios do estado: 71 mortes por 100 000 habitantes, segundo dados do Mapa da Violência 2012 (veja o quadro ao lado). Elaborado pelo Instituto Sangari, o estudo coloca ainda a vizinha Cabo Frio no pódio desse ranking perverso, como a terceira cidade onde mais se mata no território fluminense, com 65 homicídios por 100?000 pessoas, ou três vezes mais do que a taxa registrada na capital.

    O despreparo da polícia local ajuda a explicar esses dados. Em delegacias decrépitas, policiais fazem boletins de ocorrência utilizando máquinas de escrever enferrujadas. Revoltada após sua joalheria ter sido assaltada oito vezes, duas delas em 2012, a empresária Esther Magalhães doou um computador e uma impressora à PM. A falta de recursos para cuidar da segurança na região se reflete no déficit de homens no contingente. Responsável por Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Arraial, Araruama, Búzios, Iguaba e Saquarema, o 25° Batalhão dispõe de 840 policiais ? o ideal seria haver 1?300. E isso se agrava durante a alta temporada, quando a população da área chega a dobrar, tal a quantidade de turistas.

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    O crescimento desordenado da região vem sendo apontado como uma das principais causas para esse surto de violência. Com 8?300 moradores, localizada entre Búzios e Cabo Frio (mais próxima desta), a favela do Jacaré, a maior do estado fora da região metropolitana da capital, recentemente se tornou ponto estratégico para quadrilhas criminosas. Em Arraial do Cabo, nada menos que 23% de seus 28?000 moradores vivem em favelas, muitas delas também dominadas pelo tráfico. Para piorar, bandidos que fugiram do Rio após a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) passaram a se estabelecer nesses municípios litorâneos (o mesmo vem ocorrendo com Paraty, no sul fluminense, que também passou a figurar entre as cidades mais violentas do estado). “O crime está migrando”, afirma o comandante do 25º Batalhão, coronel Gilmar Barros. A grande quantidade de estradas secundárias com pouca vigilância e o litoral desprotegido favorecem os traficantes. “Há uma disputa territorial como a que se via no Rio anos atrás”, atesta o engenheiro Isnard Martins, professor da PUC-Rio, especialista em segurança pública.

    É espantoso que a criminalidade cresça em locais considerados um paraíso por cariocas e visitantes estrangeiros. Somente no último verão, 1,5 milhão de turistas estiveram em Búzios. Devido à beleza de suas 24 praias, o balneário tornou-se famoso na década de 60, época em que a atriz francesa Brigitte Bardot ficou encantada com a orla paradisíaca. Hoje, possuem casa de veraneio na cidade, onde a Rua das Pedras dita moda a cada janeiro, artistas, grandes empresários e jogadores de futebol. Diante do aumento da violência, as autoridades prometem reagir. Até o fim do verão, a PM pretende abrir duas Delegacias Legais, uma em Cabo Frio, a outra em São Pedro. Já na próxima semana o efetivo terá o reforço de 25 policiais. Espera-se que os órgãos de segurança ofereçam à Região dos Lagos a mesma atenção que vem sendo dada aos morros cariocas, E que Búzios, Cabo Frio e todas as cidades do entorno voltem ao noticiário apenas por seu cenário inigualável.

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