Vem aí: Maratona do Rio chega à cidade com quatro dias de provas e festas
Maior corrida de rua da América Latina atrai 60 000 esportistas para as pistas cariocas no feriado de Corpus Christi

Uma dessas cenas que se eternizam pela alta carga de dramaticidade, registrada na reta final da Maratona de Boston, nos Estados Unidos, correu o mundo em abril. Após duas horas, quarenta minutos e quase 42 quilômetros de esforço na veia, o niteroiense Pedro Arieta, 34 anos, ergueu do chão um corredor e atravessou a linha de chegada de braços dados com o desconhecido. “Vi um rapaz no quilômetro 40 precisando de ajuda e passei direto, mas fiquei com aquilo na cabeça. Nos 200 metros finais, avistei mais um em sofrimento e não pensei duas vezes. Parei e o levei comigo”, relata o diretor de operações da marca de cosméticos Sallve, que, após o gesto de puro fair play, se tornou garoto-propaganda de gigantes como Asics e Bradesco. Ele integra um time em franca ascensão – o dos viciados em suar a camisa em pistas mundo afora. Junto à companheira, Luiza Cravo, e um pelotão de mais 59 998 pessoas, participará da Maratona do Rio, no feriado prolongado de Corpus Christi. O esporte, para o casal, proporciona equilíbrio. “Correr uma longa distância faz a gente encarar diversos sentimentos. A prática me ajuda a controlar melhor a ansiedade e a escutar meu corpo”, diz Pedro.

A Maratona do Rio, agora na 23ª edição, ganhou ares de festival. Serão quatro dias de provas, com diferentes trajetos e distâncias – de 5, 10, 21 e 42 quilômetros -, que prometem sacudir o Aterro do Flamengo, entre 18 e 22 de junho. A maior corrida de rua da América Latina coleciona recordes: de 2015 para cá, houve explosão de 249% no número de inscritos. Neste ano, 52% são mulheres, salutar crescimento de 12% em relação a 2024. “O avanço expressivo da participação feminina é um marco histórico. Nossas campanhas destacam casos reais, exibindo corpos diversos e quebrando estereótipos em nome da inclusão”, defende Fernanda Cozac, diretora de marketing da Dream Factory, produtora do evento ao lado da Spiridon. Além disso, 85% dos corredores vêm de outras bandas do país ó desta vez, haverá até mais paulistanos do que cariocas em pleno vapor. Entre os estrangeiros, o predomínio é de americanos, argentinos, chilenos e franceses, nessa ordem. Uma das estratégias posta em prática pela equipe de 3 000 pessoas é oferecer um leque de experiências em torno das disputas, com shows e até blocos de Carnaval fora de época na Marina da Glória.
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![Veja Rio [2948] box pg 14-15 v1 Números da Maratona do Rio](https://vejario.abril.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Veja-Rio-2948-box-pg-14-15-v1.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
São tempos de festa para a corrida de rua, a atividade física mais praticada globalmente, segundo o último relatório anual de tendências do esporte do Strava, aplicativo de monitoramento de performance. A pesquisa mapeou informações de 135 milhões de usuários em 190 países e confirmou o que se observa nas ruas, nas brasileiras inclusive. A turma daqui matriculada em running clubs – as assessorias esportivas – mais do que duplicou no último ano. Em solo carioca, a quantidade de eventos relacionados à modalidade também deu um salto: em 2025, foram 190, sessenta a mais do que em 2023. A previsão é de que a cidade atraia perto de 700 000 visitantes com jeito para as pistas até dezembro – frenesi embalado por um combo que alia gasto calórico a espetaculares molduras como a do Cristo e deve injetar 2,2 bilhões de reais nas engrenagens do PIB local. “Corrida é relativamente fácil de montar, e nós damos apoio de logística e estrutura, além da isenção de taxas”, explica o secretário municipal de Esportes, Guilherme Schleder, dedicado a trazer a estas praias grandes eventos esportivos.

Tamanha febre reflete o estilo de vida de uma camada da sociedade que vem trocando a noite pelo dia e escapando da cilada do sedentarismo. “Esse público busca bem-estar, pertencimento e experiências transformadoras”, resume Pedro Pereira, head de produto da Maratona do Rio. No último fim de semana, a criadora de conteúdo e stylist Nathália Medeiros, 36, declinou do convite para um badalado arraial junino incentivada pela ideia de estar de olhos bem abertos cedo no dia seguinte em um simulado de corrida na Lagoa. Quem completou o circuito aproveitou uma farra peculiar, com direito a open bar de cerveja zero álcool e saladas em profusão. As mulheres seguiam à risca o dress code: bermuda e top na mesma paleta, tênis fluorescentes, relógios inteligentes, correntinha de ouro, pequenas argolas nas orelhas, boné e óculos espelhados. “Não abro mão de bolsos, por exemplo. Dá para equilibrar moda e conforto”, ensina a estilista, que há três meses desacelerou no consumo de bebida alcoólica e calibrou as horas de sono para percorrer até 70 quilômetros por semana. “O esporte tem tudo a ver com o clima diurno, solar e saudável do Rio. Muita gente quer experimentar esse lifestyle”, acredita.

O percurso de 42 quilômetros se desenrola em meio a maravilhas como o Pão de Açúcar, passa pelo Museu Histórico Nacional e margeia a orla da Zona Sul. É nessa paisagem para lá de cinematográfica que a corretora de saúde Denise Amaral, 62 anos, completará seu certame de número 200. Ela se viciou em corridas de longa distância há quatro décadas e decidiu desbravar o mundo se exercitando. “Escolho o destino das férias de acordo com a prova que quero disputar”, conta ela, que já percorreu o circuito das seis principais corridas do mundo, batizado de World Marathon Majors, mais de uma vez. Os que cruzam a linha de chegada em Nova York, Chicago, Boston, Berlim, Londres e Tóquio ganham, além da medalha, uma mandala. Denise é a primeira mulher do mundo a conquistar três desses preciosos acessórios, objeto de desejo no universo esportista. Mesmo com toda a bagagem acumulada, ela segue fiel ao trajeto natal. “A Maratona do Rio combina belezas naturais e organização impecável. As pessoas ficam em êxtase”, anima-se.

Quem sonha em calçar um daqueles tênis que se avistam à distância para rasgar ruas e avenidas precisa tomar certos cuidados, lembram os veteranos. Bem antes de corrida virar moda, a psicóloga Vanessa Protásio, 71, se encantou pela modalidade, que adotou no cotidiano pensando em subtrair quilos na balança e ficar mais saudável. Especializada em psicologia esportiva, ela ostenta hoje a marca de primeira mulher a vencer uma maratona na Cidade Maravilhosa e o Desafio da Ponte, ainda na década de 1980. “Já dei mais de quatro voltas na Terra”, brinca Vanessa, que ajuda os pacientes a encontrar prazer na atividade física. “É preciso levar em conta a vida pessoal e os hábitos de cada um para que a obrigação não gere frustração, angústia e privação de sono”, alerta. Também empenhada em ajustar os ponteiros dos adeptos da velocidade, a nutricionista Carla Bogéa, 51, cria táticas para gente que pretende se lançar às pistas. A dica número 1 é consumir suplementos com parcimônia. “O ideal é iniciar uma alimentação saudável junto ao ciclo de treinamento. Se o gel de carboidrato for indicado, opte por aqueles com menos ingredientes químicos”, recomenda.
![Veja Rio [2948] box pg 17 Pé no chão: os melhores locais da Cidade Maravilhosa para correr](https://vejario.abril.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Veja-Rio-2948-box-pg-17.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
Tão valioso quanto manter alimentação e hidratação em dia é contar com acompanhamento de uma assessoria esportiva, sob o olhar de professores incumbidos de traçar planilhas com metas semanais. Os ciclos de maratona começam, no mínimo, com três meses de antecedência – o suficiente para turbinar o pace (tempo médio por quilômetro) e, quem sabe, até engatar uma boa paquera. “Basta um par de tênis para começar a correr. Apesar de individual, o esporte é democrático e ajuda a formar laços”, avalia o preparador físico Roberto Tadao, 46 anos, dono da Rio Saúde, na Lagoa. Os solteiros sabem: com um pendor para firmar vínculos, a modalidade, não raro, faz mais efeito que o Tinder. Fundador da MCP Performance, Marcos Cunha comemora a chegada recente de estreantes à mais carioca de todas as competições – ao todo, 150 nos últimos meses. “É um recorde para nossa empresa. Se tem uma moda boa, é a da corrida”, enaltece. Os escolados garantem que, neste mundo de tão elevada adrenalina, sacrifício e sofrimento não estão com nada. É o prazer que move essa entusiasmada turma pelos mais belos cartões-postais cariocas.
![Veja Rio [2948] box pg 18-19 Programe-se: veja o calendário de outras corridas badaladas da cidade](https://vejario.abril.com.br/wp-content/uploads/2025/06/Veja-Rio-2948-box-pg-18-19.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)