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Sob a luz da lua

Atrações normalmente diurnas, a exemplo do Zoológico e do Jardim Botânico, passam a admitir visitantes à noite

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h56 - Publicado em 30 jun 2011, 20h30
Selmy Yassuda
Selmy Yassuda (Redação Veja rio/)
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Com as lâmpadas de iluminação pública apagadas, o breu era quase absoluto na noite da Quinta da Boa Vista. Na alameda principal do Jardim Zoológico apenas um trecho estava iluminado por tochas. O burburinho dos vendedores ambulantes que fazem ponto na sua porta e a algazarra das crianças haviam sido substituídos por um silêncio quase sepulcral, cortado apenas pelo pio ocasional de alguma ave ou o grunhido de um animal. À primeira impressão, trata-se de um cenário pouco convidativo para um passeio. Mas um grupo de quarenta pessoas estava ali, ansioso para iniciar o tour pelo parque. Desde o último dia 16, às terças, quintas e sextas, tem sido assim. Acompanhados por biólogos, os visitantes travam contato com um ambiente completamente diverso daquele que se observa durante o dia.

Orientados a não fazer barulho para não importunar os outros animais, eles podem ver, por exemplo, passando rente às grades, a famosa onça Gabi, cuja imagem foi usada para ilustrar as notas de 50 reais, ou o tigre siberiano, que chega a pesar 300 quilos, em plena atividade. Pumas, leões, raposas, lobos-guarás, lagartos, jacarés e alguns tipos de macaco estão entre as espécies que ficam particularmente animadas depois do pôr do sol. O ponto alto, porém, é a chance de interagir com os bichos. Durante o trajeto, todos são convidados a entrar no recinto das antas, mamíferos dóceis que podem ser acariciados e alimentados, e, depois, segurar uma salamanta, tipo de serpente não venenosa. “Já estive outras vezes aqui, mas à noite é muito mais emocionante”, disse a estudante Iolanda Oliveira, de 13 anos, que fez o programa ao lado da mãe, Rosana de Lima, sob orientação do biólogo Pedro Farah.

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O zoológico não é a única instituição a abrir suas portas a programas sob a luz das estrelas. Na cidade há pelo menos outras quatro opções de lazer que passaram recentemente a oferecer o horário alternativo. Depois de uma única e bem-sucedida experiência no ano passado, o Jardim Botânico decidiu realizar mensalmente uma espécie de expedição noturna por suas principais atrações. Como não há iluminação artificial no vasto parque de 57 hectares e 10?000 variedades de plantas nativas e exóticas, a atividade ocorre sempre em uma noite de lua cheia. Com o auxílio de lanternas, biólogos orientam o grupo, de no máximo quinze pessoas, por um percurso que dura duas horas. Além da beleza das plantas e do lago de vitórias-régias iluminado pelo luar, o público conhece um pouco da fauna que habita o local. Durante o trajeto é comum encontrar sapos, gambás, ouriços-cacheiros, cuícas e corujas, entre outras espécies. “As aleias ganham um efeito prateado e as pessoas têm a chance de ver animais que nem sabem que vivem aqui”, observa Cristiane Rangel, bióloga da instituição.

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No roteiro noturno, também há espaço para programas que não estão diretamente ligados à natureza, mas que causam deslumbramento semelhante. Fechado para jogos desde setembro do ano passado, o Estádio do Maracanã é um deles. Durante o dia, 400 visitantes passam por lá, curiosos para ver de perto as obras do palco que receberá a final da Copa de 2014. Há duas semanas, com as equipes trabalhando em ritmo frenético, tornou-se possível acompanhar a movimentação de operários, guindastes, tratores e caminhões até as 22h. É um espetáculo bonito. O estádio ganhou uma iluminação especial, com holofotes voltados para pontos estratégicos da obra. Durante a visita, o público ainda tem acesso a duas exposições sobre a história do Mário Filho (seu nome oficial), os grandes jogos realizados ali e os maiores ídolos do futebol brasileiro. Nas galerias envidraçadas, a diversão é tentar imaginar como ficará a arena quando for aberta, em dezembro de 2012, como uma das mais modernas do mundo, com 76?500 lugares ? 9?500 a menos do que a configuração antiga. “Tínhamos curiosidade de ver como o estádio está agora”, conta a estudante Amanda Cavalcanti, de 26 anos, que passeava ao lado do namorado Jesueliton Ribeiro, de 27, ambos botafoguenses.

Sabe-se que as noites frias e de céu límpido, mais comuns nesta época do ano, são propícias para observação das estrelas, principalmente quando a Lua entra na fase crescente. Nessas ocasiões, ela nasce por volta do meio-dia e já está alta no céu no fim da tarde. Pois tanto o Planetário, na Gávea, como o Museu de Astronomia, em São Cristóvão, oferecem a possibilidade de conhecer os astros com a ajuda de instrumentos. Em todas as quartas, a partir das 18h30, o primeiro abre suas cúpulas com quatro telescópios usados para perscrutar o firmamento, com a orientação de astrônomos. Na Zona Norte, o programa é feito com lunetas centenárias e ainda inclui um vídeo e uma pequena palestra. O ponto alto é localizar Saturno, o único planeta vísivel na atual estação. Como se vê, a cidade diurna por excelência também tem muito a oferecer quando o sol vai embora.

Fernando Frazão
Fernando Frazão ()
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