Violonista que resolveu soltar a voz para mostrar seu trabalho como compositor, Zé Renato revelou-se um intérprete refinado. Já dedicou discos inteiros à obra de outros artistas, a exemplo de Silvio Caldas, em Arranha-Céu (1993), e Zé Keti, em Natural do Rio de Janeiro (1995). Seu trabalho mais recente, Papo de Passarim (2010), lhe rendeu a indicação ao Prêmio da Música Brasileira na categoria melhor cantor de MPB. Mais uma vez voltado para o repertório alheio, o músico participa da série Cale-se ? A Censura Musical, no CCBB.
Você teve alguma música censurada? Não. No início da minha carreira, com o Boca Livre, pegamos uma época mais branda, já estávamos nos anos 80. Além disso, a gente não tinha músicas que pudessem causar qualquer tipo de problema. Naquele momento, já havia um processo bem encaminhado de abertura política.
Já não fazia mais sentido compor música de protesto? Essas canções acabam envelhecendo. No show, canto Pra Não Dizer que Não Falei das Flores e Geleia Geral, que levantam o público. Tenho pouquíssima identificação com a letra e a música do Vandré. Jamais a escolheria para um disco meu. Geleia Geral, do Gil, tem arranjos e melodias bastante sofisticados, só que também é um pouco datada.
Tiro ao Álvaro também está no repertório. O que a censura encontrou nessa música de Adoniran Barbosa? Os motivos eram os mais inusitados. Às vezes, os censores não entendiam direito a letra ou consideravam que se tratava de um atentado à moral. A música do Adoniran teve problemas por causa do português errado. Também vou cantar uma composição do Wilson Baptista (Chico Brito) que o Paulinho da Viola tentou gravar na época, mas foi impedido porque um verso falava de um sujeito que fumava uma erva do norte.