Empresa cinza, escola verde
Com passado e fama de poluidora, siderúrgica alemã constrói colégio ecológico
O acesso ao bairro de Santa Cruz pelo conjunto habitacional João XXIII é marcado por quarteirões irregulares e casas humildes. Tal cenário segue por todas as vielas que compõem o conglomerado de mais de 50?000 domicílios, até que uma construção chama atenção. Onde antes havia uma praça usada como lixão está hoje o Colégio Estadual Erich Walter Heine, considerado a primeira escola totalmente sustentável da América Latina. É um projeto primoroso. A entrada tem formato de cata-vento para facilitar a circulação de ar. Um sistema de dutos capta a água da chuva e, no telhado, uma horta ajuda a diminuir a absorção de calor. A iluminação é acionada por sensores. Entre as 7 horas da manhã e as 5 da tarde, os 200 alunos têm aulas da grade curricular obrigatória e projetos extras. “Queremos que eles se tornem cidadãos ecologicamente responsáveis”, diz, com orgulho, a diretora Terezinha Lauermann.
O padrão europeu é fruto de muito investimento ? e de algum peso na consciência. Recém-inaugurada, a escola foi construída ao custo de 11 milhões de reais pela siderúrgica de origem alemã ThyssenKrupp CSA, cujas chaminés com colunas de fumaça são visíveis das salas de aula. Desde que começou a funcionar, há um ano, a companhia tem protagonizado casos de agressão ambiental. Em agosto e dezembro, problemas em dois altos-fornos provocaram o lançamento de nuvens de resíduos na atmosfera. A empresa foi então punida com duas multas, a primeira de 1,8 milhão de reais e a segunda de 2,8 milhões.
Como compensação pelos danos, o grupo alemão também foi obrigado a realizar uma série de obras (entre elas a construção de dois centros médicos) no valor de 17 milhões de reais. Há duas semanas, uma nova dor de cabeça: o Ministério Público estadual denunciou criminalmente a siderúrgica pelas falhas que provocaram o despejo de fuligem potencialmente nociva em dezembro. A Thyssenkrupp CSA argumenta que o incidente foi causado por defeitos pontuais nos equipamentos, já corrigidos, e que desde então eles não voltaram a ter problemas. “Episódios como esse não vão mais acontecer”, promete Luiz Cláudio Castro, diretor de sustentabilidade da CSA. É o que esperam os moradores de Santa Cruz, entre eles os alunos da bonita escola construída pela empresa.