Um ano após fim da franquia de bagagem, preço de passagens decola
Reajuste do preço do bilhete no Rio ficou acima da inflação verificada no período
A Avenida 23 de Maio é o caminho mais rápido entre o centro de São Paulo e o Aeroporto de Congonhas. Ainda assim, há cerca de um mês, o advogado Cristiano Rodrigues ficou preso em um engarrafamento na via, numa sexta-feira à noite, e acabou perdendo a ponte aérea. Quando ele enfim chegou ao guichê de embarque, não conseguiu encontrar passagens para o Santos Dumont por menos de 1 000 reais. “Não é melhor então eu ir logo para Buenos Aires?”, perguntou o criminalista aos atendentes, em momento de surpreendente bom humor, antes de desembolsar mais 700 reais e alguns pontos de milhagem por uma nova conexão até o Rio. A situação já não assusta mais Rodrigues, que voa pelo menos uma vez por mês para a capital paulista por razões profissionais. “Hoje, se o bilhete não é comprado em promoção, quase sempre sai por mais de 400 reais”, ele conta.
O cenário de preços inflados é uma decepção para quem esperava tíquetes mais baratos, prometidos como consequência natural da implementação da cobrança à parte por bagagens despachadas, em vigor há um ano. De 2017 para 2018, o preço médio das passagens para sair do Rio ou chegar à cidade subiu de 303,96 reais para 325,17 reais, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O aumento, de 7%, é mais do que o dobro da inflação no período, que ficou na casa dos 3%, segundo dados do IBGE. Tem mais: com as novas regras e os preços nas alturas, procedimentos simples transformaram-se em verdadeiras missões. É só reparar na correria que acontece na hora do embarque na aeronave, quando os passageiros disputam espaço para as suas bagagens de mão, bem mais robustas nos últimos tempos. “Quem entra primeiro consegue deixar a mala mais perto do próprio assento”, explica Rodrigues.
Ninguém mais quer pagar para despachar seus itens em voos cada vez mais caros. Em alguns trechos, o reajuste entre janeiro e fevereiro deste ano foi de quase 30% em relação ao mesmo período de 2017. “Na verdade, antes havia uma venda casada do bilhete e do direito à bagagem”, argumenta Ricardo Catanant, superintendente de acompanhamento de serviços aéreos da Anac. Segundo ele, o Brasil era um dos últimos países a garantir esse tipo de benefício, o que vinha engessando a operação das companhias no país. “Nosso principal objetivo com a medida foi aumentar a concorrência no mercado”, garante. Por enquanto, o resultado mais visível foi mesmo o salto no valor das passagens, mas não é justo atribuir essa decolagem dos preços a um só fator. Ao longo de 2017, o querosene foi majorado em todos os meses, com exceção de julho. Além disso, o dólar terminou o ano em 3,31 reais, pesando em um setor no qual 60% das despesas são pagas na moeda americana.
Até boas notícias contribuíram para o reajuste no preço dos bilhetes. Foi o caso do aquecimento na demanda de passageiros a partir de março de 2017, após dezenove meses seguidos de queda. Com mais gente querendo voar, os tíquetes naturalmente ficaram mais caros. Assim, a mistura de tantos fatores ofuscou a possível sensação de alívio que a cobrança à parte por bagagens poderia trazer para o bolso dos passageiros. Além disso, segundo representantes da Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear), o tempo decorrido desde a implantação da medida ainda não foi suficiente para afetar os valores cobrados. A expectativa é que, a longo prazo, o fim da franquia obrigatória de bagagens tenha efeito positivo, estimulando inclusive a esperada entrada da irlandesa Ryan Air e de outras empresas low-cost no nosso mercado. “Já fomos procurados, o que não aconteceria sem as mudanças”, diz o superintendente Catanant. Até que as novidades surjam no horizonte, as dicas para garantir tíquetes mais baratos continuam as de sempre: é bom se planejar e realizar a compra com antecedência, além de ser flexível na escolha de dias e horários. ß