Por que o true crime fascina ao transformar tragédia em entretenimento
Série sobre Ângela Diniz, baseada em podcast, estreia na quinta (13) no HBO Max e Tremembé é um grande sucesso no Amazon Prime Video
Autointitulada rica, bonita e boa de briga, a mineira Ângela Diniz (1944-1976) passou das colunas sociais para as páginas policiais ao ser assassinada pelo namorado, o playboy Doca Street (1934- 2020), em Búzios, em 1976. Naquele ano, a socióloga sul- africana Diana Russel (1938-2020) cunhou o termo feminicídio. Antes mesmo da palavra ser integrada ao dicionário, a soltura imediata do criminoso levou o debate aos lares brasileiros.
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O podcast Praia dos Ossos, da Rádio Novelo, retomou a história em 2020 e encantou o cineasta Andrucha Waddington, que tomou para si a missão de adaptar o áudio para as telas. Assim nasceu Ângela Diniz: Assassinada e Condenada.
“É uma série sobre uma mulher que, numa época em que o machismo imperava na alta sociedade, ousou viver à sua maneira, sem medo dos preconceitos, julgamentos e opiniões”, define.
“O podcast traz uma carga de informação considerável, mas entrevistamos amigas da Ângela, que contribuíram com ainda mais intimidade”, diz a roteirista Elena Soarez.
Marjorie Estiano encarna a protagonista, enquanto Emilio Dantas é o agressor e Antônio Fagundes, seu advogado. “Doca foi um cara sem tanta profundidade, que carregou até o fim da vida uma visão deturpada sobre os fatos. Esse trabalho é também uma denúncia”, reflete Dantas.
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A partir de histórias reais, podcasts, séries e filmes do gênero promovem investigações sociais, representam vítimas e exploram a psique de criminosos. “Eu curto esse tipo de projeto porque tenho interesse em entender como funciona a mente humana”, conta Marina Ruy Barbosa, estrela da recém-lançada Tremembé, na qual interpreta Suzane Von Richthofen, presa por mandar matar os pais.
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Apesar do sucesso comercial, os princípios por trás de algumas dessas produções são alvo de controvérsias. “Existe uma questão ética aí, porque no fim das contas uma narrativa real vira entretenimento”, reflete Diego Paleólogo Assunção, pesquisador e professor da Uerj e especialista em terror e horror.
Essa preocupação, no entanto, chega aos estúdios e distribuidoras. “O true crime pode ser um formato extremamente sensacionalista, mas temos buscado visitar histórias que de alguma maneira estejam conectadas à atualidade e ampliem discussões”, conta Renata Rezende, diretora de produção da Warner Bros. Discovery.
“Ao tratar de casos reais, falamos de assuntos pertinentes à nossa sociedade, como o conflito de classes”, opina o escritor Raphael Montes, roteirista dos três filmes sobre Suzane Von Richthofen e um sobre Elize Matsunaga engatilhado para 2026.
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Provando que nem sempre é cega, a Justiça vem sendo impactada por produções audiovisuais que escarafuncham intrincadas passagens. O documentário americano The Jinx: A Vida e as Mortes de Robert Durst capturou uma confissão do assassino multimilionário que batiza o programa, levando a sua prisão.
Já o podcast paranaense O Caso Evandro, que também virou série, expôs uma falta de embasamento factual capaz de anular a condenação de réus perseguidos há três décadas.
No mesmo ano, graças às discussões propostas em Praia dos Ossos, o Supremo Tribunal Federal aboliu a infame tese da legítima defesa da honra, que justificava casos de feminicídio envolvendo adultério e, num primeiro momento, ajudou a livrar Doca Street da cadeia.
“Hoje, vejo episódios reais saírem na mídia e pessoas comentarem ‘ah, vou acompanhar quando sair o podcast ou a série. Na época do Maníaco do Parque, isso era impensável”, frisa o professor da Uerj.
Revisitar a história por meio da arte pode trazer ricas reflexões para o presente e até ajudar a rever os erros do passado. Sinal dos tempos.
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Made in Brasil
Produções brasileiras revisitam crimes que entraram para a história
O BANDIDO DA LUZ VERMELHA.
Lançado em 1968, o clássico do cinema marginal é inspirado na história do famoso assaltante João Acácio Pereira da Costa. O diretor Rogério Sganzeria aproveita algumas das técnicas peculiares de ação do bandido, mas reescreve o desfecho, criando um trágico final. Disponível no YouTube.
O CASO EVANDRO.
Em 1992, o desaparecimento de um menino de 6 anos num pequeno balneário do Paraná suscita o caos e múltiplas conspirações. Em meio a acusações de “magia negra” e intensa cobertura midiática, a produção expõe a violência policial no Brasil. Plataformas de áudio. Disponível no Globoplay.
A MULHER DA CASA ABANDONADA.
O que começou como uma investigação de Chico Felitti sobre uma vizinha reclusa virou um caso internacional envolvendo trabalho em condições análogas à escravidão. O sucesso da reportagem em áudio desembocou num seriado dirigido por Kátia Lund. Plataformas de áudio. Disponível no Amazon Prime Video.
TREMEMBÉ.
Em tom descontraído, a série mergulha no dia a dia na “prisão dos famosos”, que abrigou, nos anos 2000, nomes como Anna Carolina Jatobá, Roger Abdelmassih, os irmãos Cravinhos, Suzane Von Richthofen e Elize Matsunaga. “O grande triunfo é mostrar como condenados conhecidos e anônimos interagiram entre si”, defende Ulisses Campbell, escritor do livro que inspirou o programa. Disponível no Amazon Prime Video.
ÂNGELA DINIZ: ASSASSINADA E CONDENADA.
Produzida pela Conspiração, a série baseada no podcast Praia dos Ossos denuncia o assassinato da socialite Ângela Diniz pelo namorado, Doca Street. Focada na vida da protagonista, a série expõe a misoginia presente na elite carioca, enquanto reflete sobre os impactos no mundo de hoje. Disponível no HBO Max a partir de qui. (13).
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