Polícia Federal revela trégua de crimes do Comando Vermelho durante o G20

Troca de mensagens presente em relatório da PF mostra que facção tomou decisão a pedido de um "representante das autoridades" na cidade

Por Da Redação
Atualizado em 19 Maio 2025, 17h28 - Publicado em 19 Maio 2025, 17h27
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G20: Comando Vermelho ordenou trégua de crimes para G20, em fevereiro do ano passado. (Ricardo Stuckert/)
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A Polícia Federal revelou que, durante as reuniões do G20 no Rio, a cúpula do Comando Vermelho determinou sete dias sem guerra e roubos a pedido de um “representante das autoridades” na cidade. As mensagens de texto, publicadas pelo jornal GLOBO, fazem parte do relatório da PF sobre a atuação de Naldinho, apontado como chefe de favelas sul fluminenses e porta-voz do CV. As mensagens foram enviadas no dia 22 de fevereiro de 2024, mesma data em que ministros das Relações Exteriores de todos os países do G20 se encontraram na Marina da Glória.

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“Boa tarde a todos meus irmãos. Hoje, um representante das autoridades no Rio procurou o irmão que é sintonia e pediu para nós segurarmos sete dias sem guerras e roubo devido ao G20 (são representantes de 20 países diferentes). Para evitar isolamentos de irmãos que venham a ter ligação com determinada área. Todos estamos de acordo em segurar esses sete dias até porque se veio no diálogo, eles demonstraram um respeito por nós”, escreveu Naldinho no comunidado.

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Condenado a mais de 50 anos de prisão por tráfico e homicídio, o criminoso pediu ajuda ao comandante do complexo da Penha, Eduardo Alves Andrade, o Doca, para redigir o texto. “Irmão vê se está no padrão para frear um pouco ou tá pesada demais as palavras?”, questionou. Na versão original a mensagem terminava em uma ameaça: “o irmão que vier a se colocar acima da nossa facção poderá ser punido conforme reger o estatuto”. Em uma resposta apagada, Doca convence Naldinho a alterar o “salve” — comunicados feitos aos integrantes da facção.

Duas semanas depois do primeiro “salve”, no dia 6 de março, outro comunicado reiterou a ordem: “o roubo de carros, motos, etc… sem exceção continua proibido pela facção Comando Vermelho. Não vamos mais aturar desculpas ou argumentos de imprevistos: porque foi determinado bem claro a todos os integrantes que ninguém estará acima  da facção. Quem continuar desafiando está consciente que será punido como reger no nosso estatuto”.

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Os comunicados ainda revelam que a cúpula havia aceitado uma resolução sobre quem seriam os donos de uma nova boca de fumo aberta numa favela invadida pela facção e mostram como se deu a aliança do CV com a antiga facção rival Amigos dos Amigos. Em um “salve”, Naldinho revela que foi “cessada a guerra, provocação ou qualquer falta de respeito tanto da nossa parte quanto da dos companheiros do ADA”.

A disputa de mais de 20 anos, foi selada com novas regras de convivência: “Moradores de ambas comunidades poderão transitar com passe livre em qualquer comunidade que for ADA ou CV sem qualquer constrangimento. Não será aceito bandido, seja preso ou em liberdade, querer sair de uma facção e ir para a outra. Os territórios que pertencem à facção (quem está dentro no momento) vão ser respeitados e vamos esquecer o passado”.

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Além das trocas de mensagem de Naldinho, o documento da PF reúne indícios da participação do traficante no planejamento de uma fuga de presos do Complexo de Gericinó, onde agentes da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) descobriram um túnel no Presídio Vicente Piragibe.

Em uma conversa interceptada pela Polícia Federal, Doca, o chefão da Penha, questiona: “esses R$ 20 mil aí da obra é de quê? Foi pra onde?”. O interlocutor afirma que “foi o Samuray que pegou, para fazer obra na cadeia”. Segundo a PF, Samuray é o novo apelido que Naldinho vem usando para despistar as forças de segurança. A obra não foi concluída e ninguém fugiu. Para os agentes da PF, há fortes indícios de que os R$ 20 mil tenham sido usados na construção do túnel.

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Em dezembro de 2021, a Seap já havia recebido um alvará de soltura falso no nome de Naldinho. Por conta da constatação de fraude, o criminoso foi transferido para o presídio de segurança máxima Bangu 1.

Em novembro do ano passado, a PF pediu a transferência de Naldinho para um presídio federal à Justiça. O mesmo pedido foi feito pela Polícia Civil, e corroborado pelo Ministério Público, em fevereiro passado, e o Ministério Público corroborou o pedido. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, não há decisão obre o caso.

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Em defesa à Justiça, os advogados de Naldinho afirmaram que “não há como identificar a pessoa que se utilizou da linha telefônica” e que “não há conduta praticada pelo apenado capaz de incluí-lo no sistema penitenciário federal”.

 

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