Duas rodas e muita produção
Principal prova ciclística nacional, o Tour do Rio chega à sua terceira edição com uma engenhosa logística
Difícil é manter a concentração na pista, tendo em volta paisagens tão arrebatadoras. Esse será apenas um dos desafios que terão pela frente os 114 atletas de nove países que vão disputar o Tour do Rio, a prova mais importante do ciclismo de estrada nacional, com largada na próxima quarta (29), na Barra da Tijuca, e chegada no domingo seguinte, na Quinta da Boa Vista. Eles vão percorrer pouco mais de 800 quilômetros de asfalto em cinco etapas (veja o quadro), uma por dia, atravessando boa parte do território estadual. O trajeto contempla 21 municípios da Costa Verde, Região dos Lagos e Serra Fluminense, além da capital. Entre as dezenove equipes participantes, despontam como favoritos os sextetos da Alemanha e o da Colômbia, vencedor do ano passado tanto na categoria individual quanto na coletiva. Dos dez times brasileiros, apenas um representa nossa cidade. “É uma corrida que põe o Rio de vez no mapa do ciclismo internacional e ajuda a fomentar um esporte olímpico que ainda está pouco desenvolvido por aqui”, afirma a empresária Luísa Jucá, entusiasta da modalidade e mentora da competição.
Baiana radicada no Rio desde o fim da década de 80, Luísa é o dínamo responsável pela organização dessa maratona do pedal, que exige fôlego não só de quem está na pista, mas também do pessoal nos bastidores. Trata-se de uma prova que envolve grandes deslocamentos em rodovias municipais, estaduais e federais, passando por várias cidades. Tudo isso requer uma complicada logística. Só a turma de apoio reúne 800 pessoas, um contingente necessário para zelar pelo bom andamento da disputa. O trabalho dos organizadores começou há cerca de um ano. Desde que terminou a edição de 2011, um grupo vem se dedicando a percorrer semanalmente o itinerário, a fim de detectar problemas e, nesse caso, resolvê-los a tempo. Em cada etapa é preciso interditar o tráfego nas estradas por até quarenta minutos. Para cumprir a tarefa foram destacados 22 batedores com experiência nas duas últimas edições do evento. Junto deles atuam duas dezenas de policiais militares e agentes do Bope, a fim de garantir a segurança dos competidores e de suas valiosas bicicletas, que chegam a custar 40?000 reais e atingem 110 quilômetros por hora na descida. No decorrer dos pegas, os ciclistas são acompanhados ainda por um comboio de 116 veículos.
Inspirado no Tour de France, o mais tradicional do mundo, realizado pela primeira vez no início do século passado, seu similar carioca chega à terceira edição com aspirações ousadas. Um grupo de comissários da União Internacional dos Ciclistas (UCI, na sigla em inglês) desembarca no Rio para avaliar se a competição tem condição de subir de patamar. Por enquanto ela é classificada em um nível que lhe permite conceder aos atletas pontos para o ranking internacional. O bom desempenho nas estradas fluminenses em 2011 ajudou os brasileiros Gregory Panizo e Magno Nazaret a se qualificar para a Olimpíada de Londres. Ambos decepcionaram e não conseguiram nem sequer cruzar a linha de chegada. Caso os dirigentes estrangeiros sejam favoráveis à ascensão de nível, o Tour do Rio ficará apto também a convidar as grandes equipes da elite mundial, na qual sobressaem ingleses, franceses, espanhóis, alemães e belgas. “Fiquei muito bem impressionado com o que vi no ano passado. O Rio fez em dois anos o que Paris demorou cinquenta para conseguir com o Tour de France”, diz Adrien Lévesque, representante da UCI, com um discurso diplomático até demais. “O percurso tem uma combinação peculiar de retas à beira-mar e subidas por montanhas arborizadas.”
Enquanto os ciclistas se esforçam sobre o selim, uma programação variada ocorre em paralelo às pedaladas. Adeus Rodinha é o nome da atividade em que instrutores ensinarão crianças e adultos a se equilibrar sobre duas rodas. Outras atrações previstas são um espetáculo de acrobacias ciclísticas, uma peça infantil com temática ambiental e um show do bloco Empolga às Nove no dia da chegada, na Quinta da Boa Vista. Como será a primeira disputa internacional que o Rio recebe como cidade olímpica, Luísa Jucá aposta em um grande envolvimento dos espectadores ao longo do percurso. “O ciclismo é um esporte importantíssimo, que distribui 54 medalhas nos Jogos Olímpicos. Tenho certeza de que o carioca abraçará o Tour mais uma vez”, acredita a organizadora, que bancou do próprio bolso parte do custo total, de 3,5 milhões de reais, e, a uma semana da largada, ainda aguardava a liberação de uma verba de 600?000 reais, que, segundo ela, lhe fora prometida pela prefeitura da cidade. Associado ao bem-estar e à diversão ao ar livre, o ato de pedalar traduz a imagem do Rio.