Prefeitura vai lançar aplicativo de táxi com descontos de até 40%
Desenvolvida pela Empresa Municipal de Informática e Planejamento, a plataforma tem a proposta de melhorar a qualidade do serviço dos amarelinhos
A relação entre os aplicativos de transporte individual e o poder público é, desde o início da operação do Uber no Brasil, em 2014, marcada por tensão. A mobilização dos dirigentes das plataformas digitais por mudanças no projeto de lei 5587, que, na prática, poderá inviabilizar o serviço se as novas regras forem aprovadas pelo Senado, foi o capítulo mais recente dessa acirrada disputa. Novos rounds se avizinham ainda em outubro. Até o fim do mês, a prefeitura lançará um aplicativo próprio, o Taxi.Rio, desenvolvido pela Empresa Municipal de Informática e Planejamento (Iplan), com a proposta de recuperar a queda de 50% registrada no setor nos últimos anos. A promessa é que o Taxi.Rio funcione tal qual seus similares no mercado, com avaliação dos motoristas e descontos de até 40%, de acordo com a demanda de corridas.
Um em cada cinco taxistas da cidade já fez seu cadastro na base do aplicativo, que soma 9 000 inscritos até o momento. Treze cidades, entre as quais São Paulo, já teriam demonstrado interesse na tecnologia carioca, e empresas de outras áreas estão em negociação para estabelecer parcerias. Uma delas planeja transformar os amarelinhos em pontos móveis de sinal de wi-fi. Numa disputa em que o consumidor tem tudo para sair ganhando com mais uma opção, o novo concorrente desperta reações. “É um erro da prefeitura criar um aplicativo próprio em vez de buscar uma aproximação com os existentes, porque a tecnologia envolve investimento alto. Como estamos presentes em toda a América Latina, conseguimos diluir custos de manutenção e desenvolvimento. O poder público deveria se preocupar com outras áreas”, ataca Fernando Matias, CEO da EasyTaxi.
À frente do projeto do município, o diretor-presidente do Iplan, Fábio Pimentel, defende a solução como uma ferramenta que permitirá melhorar o serviço. “Estávamos caminhando para uma crise grave nos transportes que poderia levar ao sucateamento da nossa frota. Como os taxistas poderão investir na manutenção dos veículos e na compra de um carro novo ganhando muito menos?”, questiona ele. Contando com um efetivo de 500 servidores municipais, o Iplan, que atualmente administra 757 sistemas — uma rede que vai do agendamento de castração de animais ao controle financeiro da gestão da cidade —, deslocou cerca de 10% dessa mão de obra para desenvolver o Taxi.Rio. A empresa municipal, segundo Pimentel, analisou quase trinta sistemas similares em todo o mundo para chegar ao modelo carioca.
Atualmente, cerca de 55% dos taxistas da cidade, de acordo com pesquisa da Coppe, aceitam corridas pelos aplicativos, mas a relação entre os motoristas e as empresas foi fortemente afetada depois que as duas maiores plataformas, o EasyTaxi e o 99, lançaram versões para veículos particulares. “A gente se sentiu traído, porque isso colocou nossa clientela na mão da concorrência”, reclama Adriano Gomes, já inscrito no Taxi.Rio. O novo app terá funcionalidades mais amplas do que uma corrida mais barata. Além de disporem de um “botão de pânico”, para avisar em tempo real caso o táxi esteja sendo assaltado, os motoristas poderão informar sobre buracos, sinais quebrados e outras ocorrências. O programa também permitirá à prefeitura fiscalizar o serviço de forma mais inteligente e efetiva. “A gestão da operação dos táxis é pobre porque faltam dados, que agora serão gerados pelo aplicativo”, observa o dirigente do Iplan.