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Ron ou Ronaldo?

Eis a questão: nascido em Icaraí, Niterói, ele tem mais prestígio no exterior, onde usa o nome em inglês. Agora está no Rio para dirigir Hamlet

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h09 - Publicado em 27 fev 2013, 19h06
foto Fernando Lemos
foto Fernando Lemos (Redação Veja rio/)
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Quando era conhecido somente como Ronaldo Daniel, ele ajudou a fundar o Teatro Oficina, de São Paulo, ao lado de José Celso Martinez Corrêa e Renato Borghi. Com o mesmo nome, estudou artes cênicas na juventude com o diretor e ator italiano Adolfo Celi e a grande atriz fluminense Dulcina de Moraes. Dono de tal currículo, poderia, hoje em dia, aos 70 anos, ser reconhecido como um dos maiores nomes dos palcos brasileiros. Mas pouca gente sabe de Ron Daniels por aqui ? sim, ele se rebatizou desde que passou a viver no exterior, há quase cinquenta anos, variando entre Inglaterra e Estados Unidos. Pois está de novo entre nós. Veio acompanhar a temporada carioca de Hamlet, peça recém-estreada no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, com elenco encabeçado por Thiago Lacerda, que, aliás, merece dele os mais rasgados elogios: “Thiago é um animal em cena, sabe muito bem como usar o texto”, afirma o diretor, que já conduziu atores do quilate de Nigel Hawthorne, Ian McKellen e Kenneth Branagh.

Hoje diretor associado da prestigiada Royal Shakespeare Company (RSC), ele detém conhecimento sobre a obra do bardo inglês inversamente proporcional à sua fama no Brasil. Niteroiense de Icaraí, fez as malas no início da década de 60. Partiu para não mais voltar. Estava numa viagem pela Europa quando soube, por amigos, do golpe militar. Foi aconselhado a ficar por ali e acabou construindo sua carreira no exterior. “Lá, pouca gente sabe que eu sou brasileiro. E, aqui, todos acham que sou inglês. Essa é a minha tragédia”, ele exclama, em tom de brincadeira.

A montagem em cartaz no Rio é a sétima investida de Ron Daniels na tragédia do atormentado príncipe da Dinamarca. Sua intimidade com Shakespeare vem desde os 16 anos, quando esteve no elenco de Sangue no Domingo, inspirada em Romeu e Julieta. Mas também atuou em Os Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, e Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Wil­liams. Na RSC começou como ator e em pouco tempo viraria diretor. “Atuar é só uma parcela do trabalho, e eu estava ficando mais interessado no todo”, conta. A partir daí, passou a dirigir montagens esporádicas, até ser convidado a integrar definitivamente a companhia, em 1977. Atualmente contabiliza trinta peças shakespearianas em que trabalhou como ator ou diretor. “Esse cara sabe tudo e poderia ficar ditando regras. Mas acontece o contrário. O processo é sempre colaborativo. Tem sido incrível trabalhar com o Ronaldo”, afirma Thiago Lacerda, usando o nome “antigo” do chefe. Radicado desde 1991 em Nova York, para onde foi a convite do American Repertory Theatre, Daniels só lamenta, em que pese a consagrada trajetória, não poder estar sempre no Rio, cidade onde diz se sentir “fisicamente melhor” do que em qualquer outro lugar do mundo. Até hoje, além deste Ham­let, só dirigiu por aqui um Rei Lear, em 2000, com Raul Cortez, e a ópera Tosca, de Puccini, três anos depois. “A vida nos leva por caminhos que a gente não planeja. Queria trabalhar mais no Brasil. Se convidarem, estou às ordens”, avisa ele, nesse instante muito mais para Ronaldo Daniel do que para Ron Daniels.

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