Proposta de Paes para armar ‘elite’ da Guarda Municipal divide vereadores
Até parlamentares aliados não chegaram a um consenso; votação do projeto de lei já foi adiada 21 vezes pela Câmara
Um dos temas mais discutidos durante a campanha à prefeitura do Rio, o armamento da Guarda Municipal ganhou munição para voltar à pauta na Câmara dos Vereadores do Rio. Reeleito em primeiro turno e com uma base formada por mais da metade dos parlamentares na próxima legislatura, o prefeito Eduardo Paes (PSD) quer levar adiante o projeto, que desde 2018 já teve votação adiada 21 vezes por falta de consenso. Até seus aliados estão em campos opostos neste embate. Ainda assim, a expectativa é que a iniciativa desta vez avance, só que com o porte de arma permitido apenas para um determinado grupo da corporação.
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“Quero ter uma conversa com o governador Cláudio Castro. Acho que agora também chegou a hora de a gente avançar naquilo que venho defendendo desde a minha eleição de 2020: uma parte da Guarda Municipal, um grupo de elite, poder ter armamento, com muito critério e cuidado. Acho que está na hora. Vou conversar com o presidente da Câmara, Carlo Caiado — disse Paes, em entrevista ao RJ1, da TV Globo.
Caiado (PSD), que também foi reeleito, disse ao jornal o Globo que a medida tem que ser analisada ainda nesta legislatura, mas que será necessário construir consenso em torno do tema, especialmente diante de um cenário de grande polarização. “A Guarda Municipal armada já é uma realidade nas cidades brasileiras. Entre as capitais, apenas Rio e Recife não têm. Eu sou favorável a termos um grupamento específico para atuar nas áreas turísticas da cidade, dando esse apoio à segurança pública. Isso já acontece em Salvador, por exemplo”, observou ele, lembrando que, apesar de a segurança pública ser uma responsabilidade do governo do estado, o poder municipal pode e deve auxiliar no ordenamento urbano.
O armamento da Guarda é defendido também pela oposição. O vereador Rogério Amorim (PL), que também foi reeleito – e é irmão de Rodrigo Amorim, que concorreu a prefeito tendo esta como uma de suas bandeiras -, por exemplo, defende dar porte de arma a todos os guardas municipais. “Esse debate não deveria ser ideológico. Estamos falando de uma força de segurança constituída. A população vai ao banco e não se assusta com um segurança patrimonial armado, mas não permite que um servidor público concursado e preparado use uma arma. A Guarda tem que assumir o papel de proteger a população”, defendeu o parlamentar, também ouvido pelo jornal.
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Mas o prefeito reeleito vai encontrar até oposição até entre os 28 vereadores de sua base. Para Cesar Maia (PSD), o foco da Guarda deve continuar sendo a defesa da ordem pública, e sem o uso de armas. Já a vereadora Tainá de Paula (PT), ex-secretária de Paes, na pasta de Meio Ambiente e Clima, considera que a medida, se aprovada, trará riscos: “Nós temos diversas ocorrências de desvios de armas no estado. A falta de relação do Eduardo Paes com as forças policiais e a falta de parceria entre os poderes estadual e municipal tornam esse debate mais frágil ainda. Será que as pessoas querem mais armas na cidade do Rio? Somos a segunda maior cidade com acidentes com arma de fogo. Será que colocar mais armas de fogo é sinal de segurança?”.