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Produtores culturais e alunos protestam em favor da Casa do Jongo

Em Madureira, sede do tradicional Grupo Cultural Jongo da Serrinha fechou devido ao corte de verba da Prefeitura

Por Agência Brasil Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 10 jan 2018, 15h21 - Publicado em 10 jan 2018, 15h21
 (Fernando Frazão/Agência Brasil)
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Lar oficial do jongo no Rio de Janeiro, a sede do tradicional Grupo Cultural Jongo da Serrinha, em Madureira, na zona norte da capital, está de portas fechadas. A Casa do Jongo suspendeu as atividades na semana passada por falta de verbas.

Para cobrar políticas públicas para a salvaguarda do patrimônio imaterial – tombado pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2005 – e manutenção das atividades da casa, frequentadores, alunos e apoiadores protestaram hoje (9), na Cinelândia, no centro do Rio.

Inaugurada em 2015, a Casa do Jongo é resultado da dedicação de mestres jongueiros desde o século 20 para que não haja o desaparecimento da dança. O grupo cultural foi fundado para ampliar as rodas de jongo e profissionalizar atividades, daí, a necessidade de ter um espaço próprio.

Com apoio da prefeitura do Rio que, em 2013, comprou e reformou o imóvel onde funciona hoje a instituição, a Casa do Jongo abriu as portas. Este é o último núcleo da dança na cidade, herança do Mestre Darcy e Vovó Maria e berço da escola de samba Império Serrano.

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Até o ano passado, o local atendia 400 alunos de todas idades, com aulas de percussão, canto, esportes, práticas culturais, além de servir de ponto de encontro para artistas do bairro. Três mil pessoas circularam ali em 2017.

Financiamento

Com a suspensão do edital de fomento aprovado na gestão do prefeito anterior, Eduardo Paes, e principal forma de financiamento das atividades da instituição, os problemas começaram. A verba captada com empresas por meio da lei de incentivo fiscal é insuficiente para manter as atividades da casa, cujo custo mensal é de R$ 40 mil com infraestrutura e pagamento de 23 funcionários.

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A diretora da casa, Dionne Boy, conta que tentou por um ano apoio da Secretaria Municipal de Cultura, para um aporte direto, nos moldes do investimento concedido a outras instituições culturais, como a companhia de dança Deborah Colker e o Museu do Amanhã, porém não teve retorno. A diretora questiona os critérios para o investimento e cobra também aportes para projetos que trabalham com patrimônio imaterial.

“Não achamos que temos de ser sustentados somente pela prefeitura, mas quais são os critérios [para os repasses diretos]? Isso não está claro”, questionou Dyonne. “Estamos lutando o tempo todo para ter uma política para o patrimônio imaterial da cidade. Grupos que tem 50 anos, 60 anos, como o Filhos de Gandhi, o Jongo da Serrinha, o Trem do Samba, são projetos que são a própria identidade da cidade do Rio e que estão à míngua, fazendo cultura com o próprio bolso, mas que, na crise, são os que mais sofrem”, disse.

Segundo Dyonne, esses grupos têm mais dificuldade de captar patrocínio em comparação a instituições que estão na mídia como museus e grupos de dança. “Estamos dentro de uma favela, atendendo, especialmente crianças, deveríamos ter prioridade”, defendeu.

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Em relação ao repasse direto de recursos para a Casa do Jongo, a secretária municipal de Cultura, Nilcemar Nogueira, disse que não foi possível por causa da queda da arrecadação na cidade. Ela informa que, por meio da lei de incentivo fiscal, a Casa do Jongo captou, até agora, R$ 120 mil a serem pagos no ano. Sobre os repasses para a companhia de dança Deborah Colker, a secretária argumenta que o grupo é referência no país e internacionlmente e desenvolve um trabalho social – com apresentação gratuita. Ele informou ainda que, no último ano, o apoio da secretaria ao grupo foi reduzido de R$ 2 milhões para R$ 400 mil.

Outra alternativa para conseguir recursos oferecida à Casa do Jongo, segundo Nilcemar, foram os três editais abertos pela secretaria no ano passado. Um deles destinou R$ 500 mil para iniciativas com ênfase na cultura de matriz africana, distribuídos em linhas entre R$ 10 mil e R$ 50 mil.

A Casa do Jongo não concorreu aos editais, segundo a diretora Dionne Boy, pois o teto das linhas eram baixos. “Nós não temos projetos nesses valores. Temos projetos para um ano e não um mês. E entendemos, além do mais, que valores tão baixos precarizam a atividade cultural”, afirmou.

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Segundo ela, desde o ano passado, mesmo com verbas de incentivo fiscal, os apoiadores do jongo estavam custeando atividades algumas atividades. “Estávamos bancando isso com dinheiro do nosso bolso, esses 23 professores não recebem, eles são parceiros que dão aulas em outros lugares e fazem trabalho voluntário na Serrinha. A gente, da coordenação, sete pessoas, estamos igual aos funcionários do estado (com salários parcelados). Isso é um escândalo para a cidade”.

Cultura afro-brasileira

Na avaliação da diretora e demais produtores culturais da cidade, que lançaram uma carta pública em defesa da Casa do Jongo durante o protesto, a prefeitura tem deixado de lado manifestações e grupos culturais vinculados à cultura negra. “Há um componente de perseguição às culturas de matriz africana, à cultura popular, sem dúvida”, criticou a gestora cultural.

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Já a secretária Nilcemar Nogueira nega que projetos ligados à cultura afro-brasileira estejam sendo relegados na gestão do prefeito Marcelo Crivella. Porém, reconheceu que iniciativas ligadas à memória afro-brasileira ou ao patrimônio imaterial têm mais dificuldade de se manter, inclusive as vinculadas ao samba.

“Hoje não temos uma valorização de nada que venha de matriz africana. Isso é uma discussão a ser feita com a sociedade inteira. Porque se a sociedade inteira entendesse essa importância, não estava acontecendo isso com a Casa do Jongo, nem com o samba, nem com a Folia de Reis. Nós ainda pensamos de forma apartada”, disse.

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(Fernando Frazão/Divulgação)
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