Inteligente, mas nem tanto
Desprovido de um sistema mais ágil para reagir aos imprevistos, o Centro de Operações do Rio mostra-se aquém das expectativas
A plateia californiana, formada por economistas, engenheiros, políticos, artistas e estudantes, assistia à palestra do prefeito Eduardo Paes mesmerizada. “Eu quero mostrar que posso governar a minha cidade daqui, de Long Beach, usando a tecnologia. Vamos falar agora com o Centro de Operações.” Em seguida, teve início o ponto alto da apresentação. No fundo do palco, um telão exibe o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, e os dois travam um diálogo em inglês impecável. O secretário diz que o tempo está bom, sem chuva. Depois, apresenta a imagem ao vivo de um ônibus em movimento. A cidade surge sem engarrafamentos – natural, pois já eram 23 horas no Rio. Por último, Osório apresenta um mapa virtual com a localização dos caminhões da Comlurb, a pleno vapor em toda a capital. Realizada em março, a palestra no TED, evento de prestígio internacional que já teve como oradores o empresário Bill Gates e a primeira-dama Michelle Obama, terminou sob os aplausos entusiasmados da plateia, numa demonstração do impacto que a central carioca exerce sobre as pessoas.
Inaugurado há um ano e quatro meses, o modernoso edifício de três andares na Cidade Nova impressiona. O cenário futurista inclui 100 monitores de computador e um megatelão de 80 metros quadrados que projeta em tempo real imagens captadas pelas 560 câmeras da prefeitura instaladas no município. Apesar das deferências, porém, surgem indícios de que o Centro de Operações está aquém do ideal. Em relação ao trânsito, por exemplo, ele ainda não disse a que veio. Uma pesquisa encomendada pela ONG Rio Como Vamos revelou que a velocidade média nas vinte principais vias da cidade caiu de 37 para 30 quilômetros por hora nos três primeiros meses do ano. O ponto fulcral das falhas é a falta de uma tecnologia que permita ao sistema acionar medidas automaticamente.
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[—FI—]
Dois incidentes ocorridos em pontos distantes da metrópole ajudam a ilustrar a questão. Na manhã do dia 9 de abril, a pista do Túnel Rebouças no sentido Centro foi fechada após um ônibus pirata pegar fogo. Menos de uma hora depois, o tráfego já havia sido liberado. Meses antes, o incêndio de um coletivo na Linha Amarela provocou um caos na capital, com engarrafamentos que se estendiam à Barra, Copacabana e Botafogo. Por que resultados tão díspares para situações semelhantes? No Rebouças, a reação foi rápida porque suas galerias dispõem de câmeras com tecnologia para analisar as imagens e fazer soar um alarme quando detectam uma anormalidade. Assim, ao constatar que o veículo tinha problemas, o software de imediato acionou agentes da CET-Rio.
Trata-se, infelizmente, de uma exceção. No restante do Rio de Janeiro, prevalece um antiquado monitoramento que depende basicamente do olho humano para identificar os imprevistos. Foi o que aconteceu na Linha Amarela. O transtorno poderia ter sido menor se houvesse um sistema inteligente ou ainda uma integração mais azeitada entre o Centro de Operações e a concessionária operadora da via. “Naquele caso, a responsabilidade era da Lamsa. Nós atuamos prestando informações à população, colocando controladores de tráfego na rua e readequando os semáforos”, afirma Sávio Franco, chefe executivo do Centro de Operações. “Nesse episódio, o que vimos foi um desastre de inteligência operacional”, critica o engenheiro de transportes Fernando MacDowell. “Existem sensores de fluxo que medem o tempo ideal para o sinal permanecer aberto. Sem isso, qualquer atitude é pouco eficaz.”
Menina dos olhos do prefeito Eduardo Paes, o Centro de Operações tem seu valor. Ele monitora as condições climáticas e é capaz de alertar para temporais com dois dias de antecedência. Quando confrontado com a experiência internacional, no entanto, a disparidade fica evidente. Em Londres, há 7?500 câmeras integradas que identificam carros em alta velocidade e avisam automaticamente a viatura policial mais próxima (veja o quadro). No centro operacional da capital inglesa, é possível acessar rapidamente os monitores internos dos táxis e até o sistema de escadas rolantes dos shoppings. Tudo controlado por softwares programados para responder a qualquer situação, de uma colisão de trânsito a um ataque terrorista. Diz Ivan Guimarães, consultor da área de tecnologia de segurança: “O Centro do Rio não segue os padrões internacionais de excelência. Falta, entre outras coisas, inteligência artificial”. Se a ideia é ter um espaço que concentre o monitoramento da cidade, talvez a missão já tenha sido cumprida. Mas, se a prefeitura quiser se aproximar do que Londres vai apresentar ao mundo na Olimpíada, daqui a dois meses, ainda há muito chão pela frente.