Prefeitura afasta dois profissionais após morte no Hospital Lourenço Jorge
Família de Richard Cruz, que morreu no último sábado (10) durante internação, acusa médico de ter dado soco que atingiu ferimento no pescoço

A prefeitura do Rio determinou o afastamento dos dois profissionais de saúde envolvidos no episódio que resultou na morte do jovem Richard Cruz, de 20 anos, no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra, no último sábado (10). A medida foi tomada a fim de que ambos, um médico e a enfermeira, estejam disponíveis para prestar esclarecimentos à polícia. Enquanto isso, eles vão receber suporte ocupacional. O sepultamento de Richard aconteceu na manhã desta terça (13) no cemitério da Penitência, localizado no bairro do Caju, na Zona Portuária do Rio de Janeiro.
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Segundo a família, o rapaz foi levado por bombeiros para a unidade na noite desse sábado (10), por volta das 21h30, com ferimento a faca no pescoço. Durante a internação, segundo relatos de parentes e amigos, ele teria sido agredido por um dos médicos, que acertou, com um soco, o ferimento. As circunstâncias da morte são investigadas pela Delegacia de Homicídios da Capital.
A Secretaria municipal de Saúde alega que o paciente estava agitado e agressivo e atacou os profissionais de saúde, que precisaram adotar “medidas de proteção” até conseguir contê-lo e encaminhá-lo à sala vermelha. “Devido ao intenso sangramento, o paciente não resistiu e, infelizmente, veio a óbito”, detalhou a direção.
O que diz uma enfermeira do hospital
À polícia, uma enfermeira que presenciou a morte do paciente afirmou que o rapaz estava “descontrolado e em acesso de fúria“, segundo o jornal O Globo. Ela descreveu o comportamento de Richard como agressivo e ameaçador. “Que no transcorrer do atendimento, ele (Richard) se apresentou de forma agressiva, e não atendia aos comandos, momento em que foi advertido pela declarante (enfermeira), que lhe disse ‘se você tirar o acesso, vamos ter que te conter’. […] Que em resposta Richard disse para a declarante que ia tirar o acesso, e que se alguém tentasse evitar sairia machucado; Que foi quando questionou Richard se ele a estava ameaçando, e disse para ele que iria chamar uma guarnição”.
A profissional, então, contou em depoimento que alertou o médico responsável sobre o comportamento de Richard. “Que reportou o fato ao médico, que receitou uma medicação para ver se acalmava Richard; Ocorre que nem foi possível fazer a medicação, pois o paciente tirou o outro acesso, que estava no outro braço; Que neste momento ocorreu um atrito verbal entre o médico e o paciente, pois Richard queria água, mas o médico respondeu negativamente; Que devido ao fato de haver risco cirúrgico, o fornecimento de água e comida é vedado; Que o paciente não estava aceitando esta determinação, e desferiu um soco contra o médico, que, para se defender, afastou seu rosto. Por fim, ela conta que o médico revida as agressões na tentativa de imobilizar Richard. “Que Richard novamente investiu contra o médico, novamente com outro soco, quando o médico tentou imobilizar Richard ao solo, utilizando as pernas; Que o médico não conseguiu conter Richard, que estava descontrolado”.
A versão da família
Ao Bom dia Rio, da TV Globo, a mãe de Richard, Alessandra Ferreira da Silva, contou que foi chamada em casa pela equipe médica para conter o filho, que havia retirado os acessos venosos e estava se recusando a receber tratamento. “Ele gritou que estava sendo maltratado, que queria água e ninguém dava. O médico tentou conter ele, que reagiu. Depois, deu socos no meu filho e acabou acertando onde estava o ferimento da faca”, disse, acrescentando que o filho tem diagnóstico de depressão e já havia sido internado algumas vezes para se tratar.
“A gente sabe que o Richard deu um empurrão no médico, não sabemos se ele estava em surto ou coisa parecida. A reação do médico foi dar três chutes nele e um soco no pescoço, onde estava a ferida. Imediatamente, ele caiu no chão, jorrou muito sangue“, relatou Lindiane Teixeira, que é amiga da família e esteve no hospital para acompanhar Alessandra. “Nada justifica a reação de dar um soco nele, ainda mais de profissional que promete salvar vidas. Queremos justiça!“, acrescentou.