Pousada liberal na Barra atrai adeptos do swing durante o ano todo
VEJA RIO esteve em um sábado, buscando desvendar os códigos locais, já conhecidos entre os adeptos da prática

O endereço é auspicioso: Praia dos Amores, 220, Barra da Tijuca. Uma pousada discreta, na entrada do bairro, foi escolhida como cenário de uma romântica lua de mel por um casal de perfil mais recatado. Ao chegar, os pombinhos se depararam com um ambiente inesperado: pessoas em trajes mínimos, trocando de parceiros, aproveitando o estilo de vida liberal. Surpresos, os recém-casados pediram o reembolso das diárias, alegando desconhecer a proposta, apesar das explicações claras no site, nas redes sociais e em plataformas de hospedagem. A pousada em questão era a RioZin, onde VEJA RIO esteve em um sábado buscando desvendar os códigos locais, já conhecidos entre os adeptos do swing.
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Logo na entrada, uma lojinha oferece lingeries, fantasias e produtos eróticos ó um cartão de visitas do que os hóspedes encontrarão a seguir. “É um espaço livre de preconceitos. Aqui, as pessoas têm a liberdade de expressar sua sexualidade sem se submeter a julgamentos”, explica a advogada Jane Brito, proprietária do empreendimento. Em média, 180 hóspedes são recebidos por mês na pousada, que dispõe de 23 suítes.

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O movimento se intensifica em dia de evento: mais de 2 000 pessoas participam das festas semanais, seja no day use, aos fins de semana, das 12h às 20h ou no night use, às sextas e sábados, entre 21h e 5h. Aberta em 2023, a RioZin é inspirada em resorts e cruzeiros de swing mundo afora. Entre as referências da empresária está Cap d’Agde, famosa vila naturista no sul da França, e o topless, inclusive, é permitido em algumas áreas.

Os cenários são lúdicos e provocativos: na piscina, um pole dance em formato de cavalinho de carrossel divide espaço com cadeiras submersas, voltadas para um bar. Os banheiros são sinalizados com ícones de cueca e calcinha. Na parte interna, ainda no térreo, um labirinto com pequenas cabines e luz baixa abriga uma cama coletiva. Um refúgio para quem busca uma experiência rápida, sem precisar subir aos quartos, embora os hóspedes possam convidar uns aos outros para encontros ainda mais íntimos, privados.
“O público liberal não gosta de sexo pago, é uma vivência diferente”, contou um casal assíduo durante uma festa em setembro. A maioria dos clientes se conecta previamente por aplicativos e já chega sabendo o que ó ou melhor, quem ó vão encontrar. O casal Graziela e Fernando Cazella está sempre por lá e resume o clima das festas: “Cada edição é uma verdadeira experiência.”

Não faltam “causos” nos anais da RioZin. Certa vez, um homem adepto do crossdressing circulou de lingerie e peruca, conduzido pela esposa por uma coleira. Em outra ocasião, uma aniversariante pediu para comemorar com um gang bang de cinquenta homens. Após conversas e ajustes, a “maratona” acabou acontecendo de forma mais reservada, com cerca de vinte participantes. Também é recorrente o interesse no cuckold, fetiche em que o homem sente prazer ao ver a esposa com outro.
Nessas situações, a pousada chega a intermediar contatos com solteiros. A curtição, vale dizer, segue regras claras. A mais rígida é a proibição de fotos: um hóspede que tentou fazer uma selfie em plena festança foi imediatamente advertido. Outro ritual seguido à risca é a pulseira entregue na entrada: prateada para casados, azul para solteiros, facilitando a aproximação.

De modo geral, o dresscode segue o estilo das casas noturnas cariocas. Homens vestem camisa social ou polo e calça jeans; mulheres vestido com ou sem brilho, mas fantasias temáticas também são comuns nas festas. Para equilibrar a discrição com a vontade de registrar o momento, há áreas “instagramáveis”, onde as fotos são permitidas. A decoração conta com esculturas em formato de órgãos genitais e slogans irreverentes, como “aberto ao novo, mas também discreto”.
Nos bares, apesar da carta variada, o álcool não é protagonista. “Nesse meio, as pessoas evitam bebida alcoólica e drogas, porque querem estar plenas na hora H”, observa a proprietária, Jane. Com noites temáticas inusitadas e ocupação garantida por um público fiel, a RioZin se consolidou como retrato de um segmento que não faz alarde. A experiência, no entanto, está longe de ser unânime: se para alguns representa liberdade e acolhimento, para outros soa como território estranho, como descobriu o casal que buscava nada mais que uma lua de mel tradicional.