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Por que projeto Reviver Centro deve pensar ocupação para além do trabalho

Especialistas em urbanismo ressaltam especificidades de bairros residenciais que a região central do Rio ainda não oferece

Por Ana Tonelli e Letícia Guimarães*
Atualizado em 15 fev 2024, 12h17 - Publicado em 26 jan 2024, 11h57

O Centro do Rio de Janeiro concentra 800000 empregos formais, mas apenas 41000 moradores, o que torna o local pouco movimentado em horários não-comerciais. Desde 2021, o Plano Urbano Reviver Centro busca mudar essa realidade, fazendo com que a região seja, novamente, o coração da cidade, restabelecendo tradições e práticas que um dia fizeram parte da rotina dos cariocas. O principal objetivo do programa é construir moradia e alterar prédios comerciais em mistos, oferecendo trabalho e teto em um mesmo lugar. A iniciativa enfrenta um grande desafio: a segurança.

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Em consulta pública feita por iniciativa da prefeitura, 51% dos entrevistados afirmaram que não se sentem seguros para circular a pé pela região central da cidade. A mesma pesquisa retrata que os principais motivos para não morar na região são segurança, falta de investimento em infraestrutura e os preços dos imóveis. Para o professor Alvaro Ferreira, do Departamento de Geografia da PUC-Rio, é preciso pensar a ocupação do Centro para além do trabalho. “É importante compreender que, apesar de o Centro do Rio de Janeiro se caracterizar pelo grande número de empresas, lojas comerciais e serviços, os bairros residenciais têm certa especificidade no que se refere a essas atividades. Nestes lugares, mais do que escritórios de advocacia ou de contabilidade, por exemplo, são necessários supermercados, padarias e academias de ginástica”, observa.

o risco de que o olhar mercadológico supere a função de promover moradia e atender às necessidades habitacionais. Em 9 de outubro, o prefeito Eduardo Paes sancionou a lei que dá continuidade ao projeto Reviver Rio, com objetivo de construir moradias na Praça XV, na Cinelândia e no Castelo. A proposta recebeu críticas de vereadores como Luciana Boiteux, do PSOL, que afirma que o projeto não é inclusivo, ignora a função social da região e promove a gentrificação do espaço.

São muitos os obstáculos que cercam o plano de revitalização, como o movimento de transformação urbana que encarece o custo de vida nas regiões. Servidor público da Prefeitura e morador da Lapa há quatro anos, David Oliveira afirma que existe um afastamento entre o processo de ocupação e os habitantes do bairro. “Reviver o Centro é uma medida necessária. Contudo, ela é feita sem nenhum tipo de política de diálogo com a população que reside nele, sobretudo nas comunidades como Providência, Saúde, Gamboa e Morro do Pinto”, comenta.

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A habitação nessa região era desencorajada por lei até meados da década de 1990, isto explica o porquê do ainda reduzido número de moradias na região. Após o horário comercial, as ruas ficavam vazias e tornavam-se verdadeiros desertos. De acordo com Alvaro Ferreira, o local sempre foi considerado um polo comercial e de serviços onde as necessidades da população eram atendidas. “Essa função característica era tão impactante que ainda hoje as pessoas um pouco mais idosas, quando vão ao centro do Rio de Janeiro, afirmam que vão à cidade. O que pode parecer estranho, já que elas moram na cidade. A verdade é que o Rio nasceu ali”, resume. 

O professor Antonio Edmilson Martins, do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), pesquisa principalmente a cidade e a cultura urbana e enxerga o projeto Reviver como um conjunto de medidas para fomentar o uso do Centro. “O Rio é uma cidade das ruas. Os cariocas gostam de estar nelas, já observava (o jornalista) João do Rio no início do século passado. É preciso implementar os usos da cidade e não apenas as suas funções. Precisamos compreender melhor a cidade e, para isso, é fundamental estudá-la”. Antonio Edmilson acredita que é necessário redirecionar a atenção para a dimensão cultural do patrimônio.

O Centro do Rio reúne a história da cidade, da arquitetura, da cultura e da vida boêmia. Historicamente, agrega o encontro das diferenças e dos diferentes, o que confere um verdadeiro significado ao urbano. O guia turístico Vitor Henrique Brito passou a organizar passeios pela região central desde que se formou, em 2019. Ele promove excursões pela Cinelândia, Largo da Carioca, Praça XV, Praça Tiradentes e Pequena África. O perfil do público é muito variado, já fiz esse roteiro com grupos escolares, por exemplo, mas o principal são cariocas que querem conhecer melhor a própria cidade”, aponta. Brito afirma já ter notado diferenças desde o início do plano de revitalização, a exemplo da criação de atrativos e novos usos do espaço público. Esse é só o começo da mudança.

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*Ana Tonelli e Letícia Guimarães

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