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Venda de parte da instituição causa polêmica na Escola Parque

Compra de parte da escola por fundo de investimento surpreende e provoca indignação entre pais e alunos

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 13 mar 2017, 17h48 - Publicado em 11 mar 2017, 00h04
Escola Parque / 2014
Sala de aula na unidade da Gávea: modelo alternativo de ensino (Fabio Rossi/Ag.O Globo/Veja Rio)

Fundada em meio ao regime militar, a Escola Parque surgiu com uma proposta experimental e virou referência de uma filosofia de ensino liberal, fiel ao construtivismo e com ênfase em valores como a autonomia dos estudantes, respeito, cooperação e o desenvolvimento do pensamento crítico. No início do ano letivo, a entidade, que sempre pregou o diálogo e estimulou o debate entre seus muros, tanto na Gávea como na Barra, surpreendeu alunos e pais com uma decisão que muitos deles definiram como autocrática: a venda de 5% da instituição para a Bahema Educação, ligada ao fundo de investimento homônimo. A transação, que envolveu 7,8 milhões de reais, dá ainda ao comprador a opção de adquirir os 95% restantes após três anos. Indignados, os pais e os alunos só souberam da negociação por uma reportagem no jornal Valor Econômico, o que motivou intensa troca de mensagens em grupos no WhatsApp. Em um deles, foi divulgada uma carta, assinada por treze pais, que relata um profundo mal­-estar e questiona os desdobramentos da aquisição. A direção só se manifestou, por escrito, no dia 16, mais de 48 horas depois de o caso vir a público. A mensagem, publicada no site da escola, dizia que “no momento” não se discutia sua venda integral, e, sim, sua “sinergia” com outros colégios adquiridos pelo Bahema. “O mercado passa por transformações com a entrada de novos grupos, e essa foi uma forma de nos tornarmos mais fortes e garantirmos a perenidade da Escola Parque”, afirma Patricia Lins e Silva, uma das três sócias, assegurando ainda que a instituição não enfrentava problemas financeiros.

Quadro_Educacao
(redação Veja Rio/Veja Rio)

Na contramão do ensino tradicional, a Escola Parque firmou-se como uma opção para famílias que buscam uma educação mais alternativa. Artistas, músicos e intelectuais como Pedro Bial, Marcelo D2, Marisa Monte, Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert, por exemplo, estão entre as personalidades que mantêm os filhos matriculados na escola. A partir de sua venda, o colégio passou a fazer parte do Grupo de Escolas de Qualidade (EQ), que reúne a Escola da Vila, de São Paulo, e a Balão Vermelho, de Belo Horizonte. O objetivo é manter a troca constante de experiências entre elas. Também alinhada ao método construtivista, a instituição paulistana já teve 80% do seu capital adquirido pela Bahema, e a de Minas está em fase de negociação. “O que atraiu o interesse do fundo foi justamente o nosso projeto educacional. Não há nenhum motivo para que ele mude”, diz Patricia. A educadora acrescenta que ela e seus dois sócios vinham planejando uma sucessão havia mais de dez anos, e, caso a venda total seja efetivada, eles integrarão o conselho da Bahema. Alguns pais, entretanto, não se dão por satisfeitos com os argumentos. “Estamos formando uma comissão para acompanhar de perto as mudanças. Eu tinha a intenção de deixar meus filhos lá até o ensino médio, mas agora já não sei”, conta a advogada Ludmilla Corkey, mãe de gêmeos de 7 anos.

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Patricia Lins e Silva
A sócia Patricia Lins e Silva: promessas de que a linha pedagógica não mudará (Daniela Cacorso/Ag. O Globo/Veja Rio)

Assim como aconteceu no ensino superior, com uma onda de aquisições de universidades por grandes grupos, a educação básica privada vem despertando o interesse de investidores de peso. O Gera Venture Capital, fundo que tem o bilionário Jorge Paulo Lemann à frente, por exemplo, criou o Eleva Educação. O grupo tem a escola recém-aberta em Botafogo, uma rede de colégios no Rio, em Minas e no Paraná e uma robusta plataforma de ensino replicada em outras instituições. No caso do bafafá na Escola Parque, além da surpresa pela venda, vários pais temem que a pouca experiência do grupo Bahema Educação, criado há menos de um ano, prejudique o colégio. Também se preocupam com a possibilidade de funcionários serem demitidos, de o valor das mensalidades aumentar e de a linha pedagógica ser modificada. Pipocam nos grupos de WhatsApp, por exemplo, comentários de que cotistas do fundo Bahema organizaram um fórum com a presença do deputado Jair Bolsonaro (PP) e concederam um prêmio a um político paulista ligado ao movimento Escola sem Partido, que prega uma visão mais conservadora da educação. O clima anda pesado nos aprazíveis jardins da Gávea.

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