Pijama, o novo item essencial na temporada de confinamento
Enquanto os trajes sociais acumulam poeira nestes dias de isolamento, ele ganha até versões de grife
A nova rotina ditada pela pandemia transformou sala em escritório, quarto em escola, cozinha em restaurante e também revolucionou o dresscode das pessoas que, quarentenadas, passam 24 horas por dia em casa. Enquanto roupas sociais e trajes de festa acumulam pó nos cabides, o pijama é alçado a peça fundamental na passarela do lar.
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De acordo com o Google Trends, ferramenta que mapeia as tendências de consumo na internet, houve um salto de 142% nas buscas pela vestimenta em maio, em comparação com o mesmo mês em 2019. “O pijama possibilita inúmeras combinações, com estilo e, acima de tudo, conforto. É a hora dele”, defende Luiza Brasil, à frente do perfil @mequetrefismos, no Instagram, em que divide suas reflexões sobre moda, beleza e comportamento com mais de 70 000 seguidores.
O conceito das duas peças para dormir é uma invenção oriental. Sua chegada à banda ocidental do planeta deve-se à invasão da Pérsia pelo Império Romano, entre 92 a.C. e 627 d.C. Foi quando os militares encontraram entre os hábitos locais as calças para o pernoite. Até então, mulheres e homens ocidentais usavam camisola — a deles, menor no comprimento. De lá para cá, o conjunto de calça e blusa ganhou variações e chegou a virar símbolo de status. “Até a Revolução Industrial, no século XIX, o pijama era privilégio apenas da classe mais rica”, lembra Maya Marx, professora de história da moda no Istituto Europeo Di Design, no Rio.
Os filmes hollywoodianos, que mostravam Audrey Hepburn e Marilyn Monroe reluzentes em seus trajes de dormir, popularizaram a ideia. Muitas décadas depois, outro fenômeno ajudou a tirar os pijamas do armário. “A cultura nerd, em que as pessoas passam bastante tempo em casa às voltas com jogos, filmes e séries, contribuiu para consolidar essa opção no dia a dia”, observa Maya.
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Os números sustentam que essa indumentária vive tempos áureos depois de estabelecido o isolamento social. “Tive de contratar mais duas pessoas para ajudar na confecção”, conta Maria Antonia Chady, dona da marca de roupas para dormir Ayla, que vende suas criações há quatro anos por meio de uma plataforma on-line. Com a pandemia, a estilista ficou preocupada com o baque da crise no caixa, mas teve uma grata e inesperada surpresa: as vendas triplicaram desde que o novo coronavírus apareceu no Brasil.
O aquecimento do mercado de trajes para dormir também foi percebido por Ana Carolina Lentini, proprietária da franquia Valisere, instalada no BarraShopping. “A procura nesta época do ano costuma ser maior por causa do inverno, mas nunca vendemos tanto”, festeja a empresária.
Assim como a máscara de proteção, que se tornou item de primeira necessidade e entrou na linha de produção de várias grifes, agora é a vez do pijama. Acostumada a fazer vestidos de festa e casamento, Julia Golldenzon, que tem um ateliê no Leblon, precisou se adaptar. “Quem vai comprar hoje um vestido para sair à noite? ”, pergunta, com razão. Resultado: ela pôs a equipe para trabalhar com todo o afinco na criação de pijamas que aliassem “conforto a glamour”.
Os novos ventos também sopraram para o lado da estilista Isabela Capeto. Sua recente coleção é toda de roupas 100% à base de algodão justamente para ser usadas em casa (ou não, pois estes tempos vão passar). “Temos de desconstruir o conceito de pijama”, diz ela. “Mesmo quando acabar a quarentena, acho que vamos ver muitas pessoas vestindo a peça por aí, mas não pijamas como esses a que estamos acostumados. Acredito que venha uma leva bem criativa e estilosa”, aposta.
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As redes sociais, a vitrine do momento, exibem modelos de todos os tipos, cores, estampas e cortes. A cantora Ivete Sangalo fez sua live de estreia com um conjuntinho de calça e camisa em poá rosa que virou objeto de desejo. Vendido a 395 reais, esgotou em três dias na loja. Anitta, Bruna Marquezine, Fernanda Paes Leme, Giovanna Antonelli, Alice Wegmann e até mesmo Caetano Veloso também já apareceram com seus trajes de dormir na internet, mas a psicóloga Glauce Côrrea, da Santa Casa de Misericórdia do Rio, faz uma válida ressalva.
“É importante que as pessoas mantenham minimamente uma rotina. Passar o dia de pijama pode deixar a sensação de não ter saído da cama, o que não é bom para a produtividade”, afirma. O que não significa que o conforto deva ser posto em xeque, muito pelo contrário. E que essa ideia não se descole da moda quando a pandemia acabar.
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