Como PF descobriu plano de militares para matar Lula, Alckmin e Moraes
Eles monitoraram passos das autoridades e tramaram envenenamento, segundo as investigações; cinco suspeitos foram presos
A Polícia Federal deflagrou nesta terça (19) a Operação Contragolpe, para desarticular uma organização criminosa responsável por ter planejado um golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os investigadores identificaram a existência de um detalhado planejamento operacional, denominado “Punhal Verde e Amarelo”, que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022, com objetivo de assassinar não só de Lula, mas também do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que à época presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Todos vinham sendo monitorados. Segundo a PF, os suspeitos se valeram de “elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022. Os investigados são, em sua maioria, militares do Exército com formação em Forças Especiais (FE), os chamados “kids pretos”. Quatro deles foram presos, além de um agente da própria PF. Duas das prisões foram no Rio, e uma em Niterói.
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De acordo com os investigadores, “o planejamento elaborado pelos investigados detalhava os recursos humanos e bélicos necessários para o desencadeamento das ações, com uso de técnicas operacionais militares avançadas, além de posterior instituição de um ‘Gabinete Institucional de Gestão de Crise’, a ser integrado pelos próprios investigados para o gerenciamento de conflitos institucionais originados em decorrência das ações”.
Os agentes cumpriram cinco mandados de prisão preventiva, três mandados de busca e apreensão e 15 medidas cautelares diversas da prisão, que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, a proibição de se ausentar do país, com entrega de passaportes no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, e a suspensão do exercício de funções públicas. O Exército Brasileiro acompanhou o cumprimento dos mandados, que foram efetivados em Goiás, Amazonas e Distrito Federal, além do Rio. Os fatos investigados nesta fase da investigação configuram os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa.
Parte dos indícios veio de material que já tinha sido de vetado de aparelhos do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e foi restaurado pelos investigadores. Cid depôs novamente à Polícia Federal nesta terça (19) para prestar esclarecimentos. Outra parte, ainda maior, veio dos aparelhos celulares de outros militares. Pelo menos seis pessoas participaram do plano no dia 15 de dezembro daquele ano, segundo a PF. As mensagens indicam que o plano foi abortado, mas não deixam claro o motivo da desistência. Em fevereiro, uma operação também relacionada ao mesmo inquérito prendeu militares do Exército e um ex-assessor da Presidência e fez buscas contra uma série de aliados do ex-presidente Bolsonaro.
As investigações revelaram que os golpistas começaram a monitorar o deslocamento de autoridades ainda em novembro de 2022, após a eleição e antes da posse de Lula. O monitoramento teve início após uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa Walter Souza Braga Netto, que foi candidato a vice de Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições presidenciais. A PF diz que, entre as ideias cogitadas pelo grupo, estava a de envenenar Moraes. “Foram consideradas diversas condições de execução do ministro Alexandre de Moraes, inclusive com o uso de artefato explosivo e por envenenamento em evento oficial público. Há uma citação aos riscos da ação, dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto”, afirma um trecho do documento da PF. Segundo os investigadores, os envolvidos admitiam inclusive a possibilidade de eles morrerem no andamento da suposta operação golpista.
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O grupo cogitou também “neutralizar” (assassinar) Lula e Geraldo Alckmin, então presidente e vice-presidente eleitos. Mais uma vez a hipótese de envenenamento foi levantada, segundo as investigações. “Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico“, descreve a PF. Ainda de acordo com os investigadores, para que a tentativa de golpe tivesse êxito, os suspeitos tratavam da necessidade de também assassinar o vice-presidente Geraldo Alckmin, que assumiria a Presidência da República em caso de morte de Lula. “Já o codinome Joca, por sua vez, é uma referência ao citado vice-presidente Geraldo Alckmin. […] Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de Geraldo Alckmin que a chapa vencedora estaria extinta”.
Veja quem são os alvos da PF na operação Contragolpe:
Mario Fernandes, general de Brigada (da reserva), ex-assessor da Presidência de Jair Bolsonaro e integrante dos “kids pretos”, foi secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República em 2022. Atualmente, é assessor do deputado e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel do Exército e integrante dos “kids pretos”;
Rafael Martins de Oliveira, tenente-coronel do Exército e integrante dos “kids pretos”;
Rodrigo Bezerra de Azevedo, tenente-coronel do Exército e integrante dos “kids pretos”;
Wladimir Matos Soares, policial federal