Pesquisa mostra como os cariocas usam o Tinder
Levantamento feito com 150 homens e mulheres revela as preferências de cada gênero no principal aplicativo de paquera on-line
As vésperas do Dia dos Namorados, uma multidão lota os shoppings da cidade à procura do presente ideal em meio às vitrines repletas de corações. Nos restaurantes, o menu e a decoração estão sendo preparados cuidadosamente para receber os casais na próxima sexta (12). Para os solteiros, ainda está em tempo de conseguir uma companhia na noite mais romântica do ano. Graças à tecnologia, é possível arranjar um pretendente em um estalar de dedos, ou melhor, em um deslizar de fotos na tela do celular. Criado em 2012 por universitários americanos e hoje presente em 190 países, o Tinder, o principal aplicativo de paquera on-line, segue firme, gratuito, em seu papel de cupido digital. O Brasil, aliás, é o segundo maior mercado do programinha, atrás apenas dos Estados Unidos. São cerca de 10 milhões de pessoas cadastradas e 1 milhão de matches por dia, isto é, de combinações entre usuários que se curtiram e iniciaram um bate-papo. Apesar de São Paulo registrar o maior número de “tinderelos” e “tinderelas”, como são apelidados os adeptos do aplicativo, por aqui há 7,3% mais matches do que por lá. É oficial, portanto: os cariocas são os mais ativos do país na pegação virtual.
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A facilidade de operar o aplicativo, cujo nome significa material inflamável, ajuda. Basta a pessoa criar uma conta associada ao Facebook, selecionar a faixa etária desejada do candidato e um raio de distância — o dispositivo permite rastrear usuários a até 160 quilômetros. Como num passe de mágica, surge na tela do telefone um cardápio de pretendentes com a respectiva foto, bastando um toque no ícone em formato de coração para marcar os que agradam. Já para descartar um candidato é só deslizar a imagem para a esquerda ou clicar no X que ele some. Caso o interesse seja correspondido na outra ponta, o software acusa o match e o par é direcionado automaticamente a uma tela em que pode iniciar o bate-papo privativo. “As pessoas perderam o preconceito de conhecer outras on-line. Paquerar na internet não é mais coisa de fracassado, é como ir a um bar ou a uma festa”, afirma a gerente de marketing do aplicativo no Brasil, Rochane Garcia. Mas, afinal, o que acontece depois? Durante uma semana, VEJA RIO dedicou-se a entender como os cariocas usam o mais popular programinha de azaração virtual. Para isso, foram feitas 150 entrevistas, metade delas com mulheres de 19 a 53 anos, a outra metade com homens entre 16 e 44 anos.
O resultado foi surpreendente. Os entrevistados responderam a quarenta questões em um levantamento que investiga desde as intenções individuais no aplicativo até as preferências físicas e de personalidade. Ao contrário do que muitos podem imaginar, à primeira vista, não foram só os rapazes que admitiram usar a plataforma em busca de sexo (72%). O estudo revela que 48% do público feminino também navega pelo Tinder à procura de diversão sexual. “Como as mulheres sabem que foram retribuídas, e que não vão levar um fora, elas se sentem mais seguras inclusive para fazer propostas ousadas, como um sexo casual”, acrescenta Rochane. “É claro que a internet e esses aplicativos funcionam como um facilitador para a libertação sexual da mulher, que aceita cada vez mais com naturalidade que ela pode procurar sexo por puro prazer”, endossa a psicanalista Regina Navarro Lins, autora de onze livros sobre relacionamentos. “Ali você conhece muita gente nova, disposta a sair e transar, e não fica na dependência de ter de ir à rua para paquerar alguém”, completa.
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Homens e mulheres são bem diferentes ao utilizar o aplicativo, como já era de esperar. De acordo com o levantamento, 60% das mulheres não tomam a iniciativa de fazer contato, enquanto 83% dos rapazes partem direto para o ataque. Além disso, as moças são muito mais seletivas — 60% das entrevistadas gostam de até cinco pretendentes por dia; já os homens estão mais preocupados em atrair o maior número de ofertas possível, selecionando quinze ou mais candidatas ao flerte diariamente. Eles também se pautam pela beleza e pelo corpo. “Para os homens, o que está em jogo ali é meramente físico. Há uma facilidade enorme de escolha, por isso eles não têm muito critério”, afirma a antropóloga e professora da UFRJ Mirian Goldenberg, autora do livro Sexo, que será lançado no próximo dia 23 pela Editora Record. “O jeito como a maioria deles usa o aplicativo é impressionante: é quase como folhear uma página de revista, eles mal param para dar uma olhada, e o que importa, claramente, é a aparência”, diz.
+ Outros aplicativos de paquera ganham popularidade entre os cariocas
Desde os anos 90 a internet vem revolucionando a forma de as pessoas se comunicarem, encurtando as distâncias. Os programas de troca de mensagens logo caíram nas graças dos internautas, propiciando contatos mais frequentes com quem mora longe. Daí para as salas de bate-papo on-line, em que os usuários nem sequer se conheciam, foi um pulo. Na genealogia do Tinder, no entanto, figuram os sites de relacionamento, que surgiram há mais de dez anos permitindo que os solitários (ou nem tanto) trocassem mensagens. O negócio explodiu. Um dos expoentes no segmento, o Par Perfeito, por exemplo, contabilizava 5 milhões de adeptos em 2011. Atualmente, são mais de 30 milhões. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pela democratização dos smartphones nos últimos anos, que tornaram a paquera virtual possível em qualquer lugar, hora ou situação. O mais famoso canal de comédia dos Estados Unidos, o College Humor, autenticou o fenômeno ao criar um vídeo em que revisita a fábula de uma das princesas mais queridas da Disney, a Gata Borralheira, com o título de Tinderella. A esquete animada mostra como seria a vida da personagem nos dias de hoje. No conto de fadas contemporâneo, visualizado mais de 6 milhões de vezes, ela não esperou até que a fada madrinha salvasse sua vida amorosa: preferiu usar o Tinder. Assim como vêm fazendo alguns milhões de cariocas à procura de amor (ou só de sexo mesmo).
Seletivas e apaixonadas
Mulheres escolhem mais, acreditam no amor virtual e conversam com vários ao mesmo tempo
Namoro em família
“Uma vez, dei match com um menino de São Paulo que estava no Rio a trabalho. Era um cara liberal, surfista, tinha morado na Austrália. A gente não conseguiu marcar de sair, mas nós continuamos nos falando direto. O papo era tão bom que decidi encontrá-lo em sua casa de praia no Guarujá. Pesquisei a vida dele inteira no Facebook, no LinkedIn, comprei a passagem e fui. Chegando lá, conheci a família t-o-d-a do cara. Absolutamente todo mundo estava de férias no apartamento, inclusive uma tia e três sobrinhas pequenas. Foram três noites de sexo, desenho animado em família e mamadeiras. Até fralda eu troquei.” (Amanda, 27 anos)
Os feios que me perdoem
“Já teve homem perguntando quais eram as minhas fantasias, convidando para fazer ménage, e já vi até foto de um cara sendo chicoteado, dizendo que gostava de mulheres dominadoras. Há também os engraçadinhos, como o que dizia no perfil que sabia a diferença entre “mas” e “mais”. Os feios, no entanto, são o pior tipo. Confesso que curto alguns pelas coisas legais que escrevem na descrição, mas é sempre um tiro no pé. Depois, ficam atrás de você como psicopatas. Um desses, uma vez, começou a regular a minha vida através das redes sociais, perguntando se eu não ia parar em casa, se ia sair à noite de novo.” (Camila, 25 anos)
Deus grego
“Uma vez, conheci um fotógrafo bonitão e marquei um encontro em um restaurante japonês. Chegando lá, meu queixo caiu. Aquilo não era um homem, era um deus grego de 1,90 metro sentado à mesa me esperando com seus lindos olhos azuis e uma garrafa de saquê. A noite foi ótima, mas acabamos perdendo o contato porque ele era americano, estava só de passagem pelo Rio. Quando joguei o nome dele no Google, descobri que era modelo e tinha feito várias campanhas internacionais. Foi o homem mais lindo com quem já fiquei na minha vida.” (Gabriela, 28 anos)
Paixão platônica
“Um cara de Curitiba estava passando o fim de semana no Rio e combinamos de nos encontrar no domingo para um almoço. Fomos a um restaurante em Botafogo, mas, antes, passei no hotel para buscá-lo. Ele entrou no carro mexendo no celular. Foi quando reparei na foto do descanso de tela do aparelho: era eu. Perguntei, rindo mas assustada, o que a minha foto estava fazendo ali. Ele ficou desconcertado, disse que tinha apertado algum botão sem querer. Fomos almoçar, mas fiquei tão aflita para ir embora que nem esperei a sobremesa. Ele ainda tentou me beijar na saída, mas falei que não ia rolar.” (Raquel, 34 anos)
Idade adulterada
“Há alguns dias conheci um rapaz de 37 anos. Conversamos e nos adicionamos no Instagram, mas ele não tinha nenhuma foto. Achei estranho e comentei isso com ele. De repente apareceram catorze imagens de uma vez só. Nesse meio-tempo, ele disse que precisava me falar uma coisa e confessou que na verdade tinha 40 anos. Quando nos encontramos ao vivo em um barzinho em Copacabana, a idade pulou para 45. Ele disse que mentia porque não queria coroas dando em cima dele no Tinder. E a gente achando que só mulher mente a idade…” (Vanessa, 28 anos)
Ele já estava noivo
“Graças ao Tinder, reencontrei, após onze anos, um rapaz que estudou comigo. Ele parecia interessado em mim. Conversamos por uma semana e marcamos um encontro. Fomos a um bar e ficamos, mas depois disso ele sumiu. Na época, eu me senti muito mal, pois achei que o problema fosse comigo, que ele não tivesse gostado, porque, antes de sairmos, ele era do tipo que mandava bom-dia bem cedinho e boa-noite. Tentei adicioná-lo no Facebook, ele não aceitou. Como tínhamos amigos em comum, acabei descobrindo que ele era noivo fazia oito anos.” (Isabela, 29 anos)
Atirados e objetivos
Os homens costumam tomar a iniciativa, curtem muito mais candidatas do que as mulheres, mas dispensam logo o bate-papo com as mais chatas
A louca do pão de alho
“Vinha conversando com uma menina há mais de um mês até que ela me mandou uma mensagem dizendo que estava num churrasco e que queria passar lá em casa depois. Topei na hora, claro. Mas ela chegou completamente bêbada, sem falar nada que fizesse sentido, e cheirando a pão de alho, cerveja e cigarro. Veio para cima de mim, começou a tirar a roupa, mas não dava. Eu estava vendo a hora em que a menina vomitaria em cima de mim. A gente morava no mesmo bairro. Ainda a coloquei no carro e fui deixá-la em casa. Mas ela ficou tão braba comigo porque não rolou nada que foi me xingando por todo o caminho.” (Paolo, 35 anos)
Plano de fuga
“Antes do Carnaval deste ano, conheci uma mulher que parecia bem interessante. Como de costume, combinei de buscá-la em casa. Para minha surpresa, as fotos do seu perfil no Tinder em nada correspondiam à realidade. Ela era especialmente feia e gorda. Nada contra, mas a mulher precisa se assumir como é. Meu plano inicial era ir a um lugar mais tranquilo, como algum bar na Lagoa, mas, diante daquela situação, resolvi partir para o Baixo Gávea, um local bem mais barulhento e agitado. Enrolei por quarenta minutos e dei a desculpa de que teria de correr bem cedo no dia seguinte” (Leandro, 35 anos)
Eu quero sexo
“Até eu conhecer a minha namorada, com quem vou me casar no fim do ano, em Las Vegas, encontrei muita mulher maluca. Lembro do meu primeiro match. Como não estava tendo muito retorno, comecei a curtir o perfil de todo mundo, sem critério, para aumentar minhas opções. A primeira menina com quem conversei me mandou a seguinte mensagem: ‘Sabe que match para mim é m-e-t-e, né?’. E disse que com ela não tinha papinho, que a gente podia marcar logo o motel para ir direto ao ponto.” (Afonso Tresdê, 32 anos)
Mãe solteira procura
“Comecei a trocar mensagens com uma menina de 23 anos, o papo fluiu e logo passamos para o telefone. Dois dias depois, combinamos de tomar um café em um shopping. Estava lá sentado e vi uma mulher mais velha vindo. Achei estranho, dei uma encarada, ela também. Na hora, pensei: ‘Caramba, não é possível’. Mas era. A mulher de uns 50 e poucos anos se aproximou, se apresentou e revelou que as fotos usadas no Tinder eram, na verdade, da filha dela. Ela era bonita e inteligente, porém fiquei anestesiado. Conversamos um pouco, mas expliquei que não passaria disso.” (Alexandre, 38 anos)
A perseguida
“Já aconteceu de eu sair com uma menina que, no primeiro encontro, confessou ser procurada pela Justiça (risos). Como havíamos falado muita besteira por telefone, eu a convidei direto para o meu apartamento, e ela topou. Quando chegou, foi logo acendendo um baseado. Depois de uma garrafa de vinho, disse que queria me contar uma coisa: estava sendo processada por estelionato. Jurou, no entanto, que era inocente. Como a moça era linda, e eu gosto de um pouco de caos na vida, não a dispensei. Saímos mais uma vez, mas, como ela havia acabado de terminar um noivado, queria quantidade.” (Marcos, 31 anos)