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O herói tricolor

Protagonista do tetracampeonato conquistado pelo Fluminense, o mineiro Fred celebra o título, a volta à seleção e as delícias da beira-mar carioca, por onde costuma deslizar de patinete elétrica. Só não o chame para surfar

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h17 - Publicado em 21 nov 2012, 13h54
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fred-fluminense-01.jpg (Redação Veja rio/)
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Um gol pode decidir uma partida ou um campeonato. No caso do atacante Fred, definiu muito mais do que isso. Aos 19 anos, relegado ao banco de reservas do América Mineiro depois de reiterados atos de indisciplina, ele foi escalado na última hora para enfrentar o Vila Nova (GO), em partida da Copa São Paulo de Juniores de 2003. Mal havia sido dada a saída, ele teve o lampejo de chutar de primeira, ainda do círculo central, e fez história. Do apito inicial até o momento em que a bola cruzou a baliza se passaram exatamente 3 segundos e 17 centésimos ? foi o gol mais rápido do futebol mundial àquela altura. Após correr o planeta, a façanha desencadeou uma guinada na vida do jogador. O jovem que estava em via de ser dispensado acabou mantido no clube e assinou seu primeiro contrato profissional. Começava ali uma trajetória triunfante que, quase uma década depois, culminou com a conquista do Campeonato Brasileiro no domingo passado (11), seu segundo título da competição nas últimas três temporadas. O camisa 9 sobressai como o protagonista da impecável campanha do Fluminense, time que tem o ataque mais positivo e a defesa menos vazada do torneio. De quebra, ele lidera a tábua de artilheiros. ?Vivo um momento mágico?, reconhece o goleador, que é cheio de peculiaridades: morre de medo de avião, é viciado em videogame, carrega sempre um nécessaire com creminhos e circula de patinete elétrica pela orla. Para coroar a excelente fase, voltou a ser convocado para a seleção, após um ano e meio esquecido pelo treinador Mano Menezes. ?Meu sonho agora é ganhar a Copa do Mundo?, conta.

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Uma sessão de fotos realizada na Praia de Ipanema, na semana anterior ao título, dá bem a dimensão da estatura do craque, logo cercado e reverenciado por dezenas de admiradores. Fred é de fato um jogador que em determinados aspectos difere dos demais ? e não apenas dentro de campo. Ao se mudar para o Rio, em vez de escolher a Barra, como é praxe entre os colegas, optou pela Avenida Vieira Souto, em Ipanema. Mora em um três-quartos de frente para o mar, que chama atenção pela simplicidade (exceto pela localização privilegiadíssima). O oposto, por exemplo, da caricata mansão de Tufão, o boleiro aposentado de Avenida Brasil. Alugado já com a mobília, o apartamento está praticamente intacto, como foi entregue, com largos espaços vazios e desprovido de peças sofisticadas ou exageradas. O desapego em relação à decoração, entretanto, não se repete à mesa, em que Fred denota um gosto, digamos, mais refinado. Um de seus programas preferidos é sair para jantar, o que faz ao menos três vezes por semana. Frequenta restaurantes badalados, como o Antiquarius e o Sushi Leblon (veja o quadro), e costuma pedir nas refeições o vinho branco francês Chablis Joseph Drouhin 2009, cuja garrafa custa em torno de 160 reais.

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[—FI—]

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Seu apartamento, com vista para as Ilhas Cagarras, é um consulado mineiro no Rio. Lá, sempre hospeda parentes e amigos de infância. Um deles, o conterrâneo Rodrigo Martins, o Barriga, mora com ele. Espécie de anjo da guarda, mistura de secretário particular e faz-tudo, ele é quem administra a casa, faz as compras, as malas e até a comida, se preciso. Numa ação em família, a irmã de Fred, Karina, cuida dos investimentos e o irmão, Rodrigo, é seu empresário. ?Ele ajuda todo mundo. Deu até casa a amigos?, conta a irmã, que vive entre o Rio e Belo Horizonte. Fred, claro, também se presenteia com alguns mimos. Tem na garagem um Porsche Panamera Turbo, avaliado em 950?000 reais, e um BMW X6. Esse modelo, aliás, fez com que virasse alvo de piadas, depois que reclamou no Twitter, rede em que conta com meio milhão de seguidores, dos defeitos da máquina de 500?000 reais. ?Às vezes falo demais. Não esperava tanta repercussão, mas pelo menos resolveu o problema?, comenta. Também ficou surpreso com a estridência que causou ao posar nu para o fotógrafo Fernando Torquatto, usando apenas uma bola como tapa-sexo. Pelo resultado do ensaio, fica evidente sua preocupação com a aparência. Sua rotina de cuidados, digna de um metrossexual, inclui protetor solar, hidratante para o rosto e o corpo e um creme especial para domar os cachos. Carrega sempre a tiracolo um nécessaire com as loções ? antes que alguém pergunte, não há pó de arroz ali. Vaidoso, gosta de usar peças das grifes Hugo Boss, Armani e Dolce & Gabbana, mas a barba por fazer lhe dá uma aparência meio relaxada. ?Em apenas uma tarde, já gastei milhares de euros em roupas na Champs-Elysées?, conta, citando a avenida parisiense. Como bom mineiro, ao vir morar no Rio, encantou-se com o mar. Decidiu virar surfista e fez uma aula no Arpoador. Tempos depois, num dia chuvoso e de grandes ondas, arriscou-se a entrar sozinho na água. Resultado: quase se afogou e ficou traumatizado. Aposentou a prancha e agora prefere as redes de futevôlei e os barzinhos de Ipanema, aonde chega de patinete elétrica, seu novo xodó.

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Contratado em 2009, Fred é o símbolo de uma das melhores fases da história do Fluminense, que despencou para a terceira divisão nos anos 90 mas conseguiu dar a volta por cima e se reafirmar no pelotão de elite do futebol brasileiro. Sob a sua batuta, a equipe faturou dois títulos nacionais e um estadual, decidiu uma Copa Sul-Americana e está classificada pela terceira vez para a Libertadores, a principal competição do continente. Não por acaso, Fred é chamado pelos colegas de Dom, um apelido de duplo sentido, que se refere à sua total liderança sobre o grupo (nas Laranjeiras, a brincadeira é dizer que ele manda mais que o presidente do clube, Peter Siemsen), mas também denuncia a fama de conquistador. Desde que se separou da mineira Amanda Goecking, com quem foi casado até 2007 e que é a mãe de sua única filha, Geovanna Grizelda, 6 anos, Fred não engatou um relacionamento mais sério. Já foi visto na companhia de diversas mulheres bonitas, entre elas as gêmeas do nado sincronizado Branca e Beatriz Feres, a ex-miss Brasil Larissa Costa e Lauren Hermsdorff, dançarina do Caldeirão do Huck, porém nada disso foi adiante. ?Tô de olho numa garota aí. Mas, no momento, estou solteiro?, esconde o jogo o camisa 9.

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Filho de um garimpeiro e de uma dona de casa que morreu quando ele tinha 7 anos, o ídolo tricolor viveu uma infância humilde em Teófilo Otoni, onde nasceu. Desde cedo, o pai, Juarez Pinheiro, vislumbrou para o caçula um futuro promissor nos campos. Sob as ordens de Juarez, Fred subia e descia ladeiras, corria na ponta dos pés e treinava chutes a gol diariamente. Aos 9 anos, foi morar no centro de treinamento de um grupo de empresários no interior do Rio, onde ficou seis meses. De volta à cidade natal, o menino magrelo e orelhudo ? apelidado de Topojegue, numa menção ao ratinho Topo Gigio ? chegou a trabalhar como segurança na loja de um tio. Na adolescência, circulou por clubes de Minas e São Paulo até ser aprovado num teste para o América Mineiro. Fez o gol-relâmpago, assinou contrato, ganhou destaque na equipe profissional e, em 2004, foi contratado pelo Cruzeiro. No ano seguinte, acabou comprado pelo Olympique Lyon, por 15 milhões de euros. O voo para a França, aos 21 anos, foi sua primeira viagem internacional. De cara ele teve de enfrentar dois desafios: o pavor de avião e a dificuldade em dominar o idioma, que hoje fala fluentemente. A despeito do tricampeonato francês que conquistou pelo clube, Fred nunca se adaptou totalmente ao futebol de lá. Acostumado a ser paparicado por dirigentes e técnicos no Brasil (nas concentrações do Fluminense, é o único a ter um quarto só para si), não conseguiu digerir o rodízio no time titular que os treinadores europeus costumam fazer. ?Eu jogava uma partida e na outra ficava no banco?, lembra, em tom de lamento. Insatisfeito com a situação, negociou seu retorno ao Brasil, concretizado em 2009.

O goleador do Fluminense integra a lista de craques brasileiros repatriados ainda em alta na carreira. Iniciado com a volta de Romário, em 1995, esse movimento se intensificou nos últimos anos, quando os grandes clubes daqui chegaram a triplicar seu faturamento. Com dinheiro em caixa e a perspectiva positiva proporcionada pela Copa de 2014, muitos deles conseguiram não só manter suas estrelas, como é o caso do Santos de Neymar, como trazer jogadores fora de série, nacionais ou estrangeiros, a exemplo do meia holandês Seedorf, do Botafogo, e do atacante uruguaio Diego Forlán, eleito o melhor jogador do último Mundial, adquirido neste ano pelo Inter (RS). Hoje, o salário de Fred, estimado na faixa de 1 milhão de reais, o mais alto do futebol carioca, está no nível do que fatura um bom jogador de uma equipe de ponta da Europa.

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Vale tanto assim? Muitos acham que vale. ?Ele é o melhor atacante brasileiro da atualidade?, afirma o ex-jogador Romário. ?Não é apenas um ótimo finalizador. É um jogador muito inteligente na área, que antevê a jogada?, destaca o ex-jogador e hoje comentarista Tostão. Apesar dos elogios vindos de dois dos maiores especialistas na posição que o Brasil já teve, o artilheiro não era convocado para a seleção desde a Copa América, em abril de 2011. Há quem atribua a ausência a uma declaração dada pelo seu pai, na qual este admitia que Fred teria simulado uma contusão em setembro do ano passado para que fosse liberado do escrete. ?Toda a comissão técnica sabe que não é verdade. Fui cortado após um exame de imagem que constatou uma lesão na coxa?, defende-se o atacante.

Os problemas musculares em sequência, por sinal, são um fantasma recorrente. Desde que chegou ao Fluminense, em março de 2009, o camisa 9 já teve oito lesões, a mais grave delas no mesmo ano, quando estourou o músculo da coxa direita e temeu nunca mais voltar aos campos. Sua temporada mais efetiva é a que está em andamento. Fred já igualou a marca de 2011, com 43 partidas disputadas. ?Ele aprendeu a conhecer o próprio corpo. Antes, machucava-se muito porque sentia uma dor e ia até estourar. Hoje, na dúvida, pede para sair?, diz um profissional que trabalhou com o jogador. Há outros fatores que podem ter contribuído para a regularidade. Ele próprio dá uma pista. ?Quando cheguei ao Rio, dei uma deslumbrada. Ia a todas as festas?, confessa. ?Hoje evito sair quando o time perde.? Fato é que seu gosto pela noite reverberou a ponto de, no ano passado, ele ter sido perseguido por alguns torcedores tricolores na saída de um bar. No dia seguinte, foi noticiado que o grupo do jogador havia entornado sessenta caipissaquês. Em sua defesa, Fred apresentou a nota que registrava o consumo de 27 doses da bebida, numa mesa que reunia oito pessoas. Revoltado com o episódio, cogitou deixar o clube, mas desistiu da ideia. ?Fora do campo sou uma pessoa absolutamente normal. Não tenho o direito, como qualquer um, de tomar um porre eventualmente??, diz. ?A diferença é que vivo sob pressão. Uma hora o jogador é carrasco, na outra é herói.? Alguém tem dúvida sobre em qual personagem Fred se encaixa desde o último domingo?

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