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O oposto do black bloc

Ainda em gestação, mas com ambições ousadas, o Partido Novo reúne jovens com pensamento liberal

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 2 jun 2017, 13h17 - Publicado em 27 nov 2013, 18h49
Selmy Yassuda
Selmy Yassuda (Redação Veja rio/)
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Há alguns meses, o Leblon foi palco de uma sequência de ruidosos quebra-quebras praticados pelos black blocs, que resultaram em lojas saqueadas e agências bancárias devastadas. Próximo ao apartamento do governador Sérgio Cabral, um acampamento foi montado na Rua Aristides Espínola, onde manifestantes vestidos de preto ocuparam a via pública a pretexto de exigir a renúncia do político. Coincidentemente, nesse mesmo pedaço da cidade, delimitado pelo Jardim de Alah e pela Rua Visconde de Albuquerque, um crescente grupo de jovens se junta em busca de uma alternativa mais construtiva ? e civilizada ? para mudar o rumo da política nacional pelas vias legais. É em um escritório no Leblon que se reúnem os integrantes do Partido Novo, um projeto que tem como cláusula pétrea o empenho de instaurar o ideário liberal nas esferas do Executivo e do Legislativo. “Não aguentava mais ouvir todo mundo reclamando, sem fazer nada”, diz o engenheiro de computação Igor Blumberg, 25 anos. “Como todos os partidos daqui são de esquerda ou de aluguel, o jeito foi criar uma organização a partir do zero.”

Em tese, um partido formado em torno de uma sólida doutrina, que rechace o fisiologismo ou o oportunismo das siglas de aluguel, é, independentemente da inclinação ideológica, uma iniciativa salutar. Essa não é, no entanto, a única particularidade que chama atenção na nova agremiação, gerada num país onde os políticos não gostam de ter seu nome associado ao liberalismo e no qual iniciativas bem-sucedidas nesse sentido, como a privatização das telefônicas, costumam ser demonizadas no debate público. Outro fator de destaque é o engajamento dos jovens pela causa. Apesar de seu principal mentor ser o engenheiro João Dionísio Amoêdo, um executivo de 50 anos que atualmente é conselheiro de um banco e de uma empreiteira, o Partido Novo vem atraindo em larga escala simpatizantes na faixa entre 25 e 35 anos, uma turma que não se sente representada por nenhuma das 39 organizações do quadro brasileiro. “Fico muito entusiasmado quando vejo rostos tão novos nas reuniões. Nosso projeto é de longo prazo, e são eles que vão levar nossas ideias ao poder”, diz Amoêdo.

Nesse longo caminho com o objetivo de ocupar cadeiras em assembleias ou funções-chave no Executivo, a ala mais noviça tem exercido papel fundamental dentro da agremiação. Cabe a ela divulgar a filosofia liberal nas redes sociais, que vêm se mostrando uma poderosa fonte de cooptação de simpatizantes. Eles estão sempre em maioria também nas reuniões semanais realizadas no diretório carioca, provisoriamente instalado em uma sala na Avenida Afrânio de Melo Franco. Outro papel destinado aos jovens integrantes do partido é a organização das palestras mensais, ministradas por economistas adeptos da causa, mas não necessariamente membros do partido, caso de Elena Landau, ligada ao PSDB, e Rodrigo Constantino, presidente do Instituto Liberal. Em determinadas ocasiões, a turma, que está em fase inicial de carreira, cotiza-se para bancar as despesas com o aluguel do espaço e o transporte dos convidados. “Já me interessava pela filosofia do liberalismo quando soube do Partido Novo. Logo procurei me envolver”, diz o financista Andrew Hancock, 28 anos, sempre presente nos encontros.

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Como o debate político de alto nível virou uma atividade escassa no país, a confusão no plano dos conceitos é frequente. Críticos inflexíveis do Estado intervencionista, os integrantes do Partido Novo muitas vezes são comparados aos anarquistas. Nada mais equivocado, pois há um evidente antagonismo com os black blocs, seja no campo das ideias, seja no modo de agir (veja o quadro). Enquanto o batalhão mascarado prega a extinção da propriedade privada e se diz anticapitalista xiita, eles, ao contrário, acreditam que só a total liberdade para acumular riqueza leva ao desenvolvimento da sociedade. “Defendemos a liberdade, mas com responsabilidade individual”, enfatiza Bernardo Santoro, diretor do Instituto Liberal. “É o oposto dos preceitos anarquistas ou de práticas ditatoriais, outra pecha que tentam colar no liberalismo.”

O próximo passo é obter 170?000 assinaturas para referendar a criação do partido. Elas se somariam às 210?000 fichas de cadastro que estão sendo avaliadas em cartório. Não vai dar tempo para participar da corrida presidencial do ano que vem. No entanto, seus filiados creem que a eleição de 2016 contará com representantes do partido. “Tento contribuir com ideias nas reuniões e já penso em me candidatar a um cargo daqui a três anos”, diz o servidor público Manolo Salazar, 25 anos. Que realmente tenham força para oxigenar a política nacional, desgastada por práticas nocivas e tristes figuras recidivas. Sem corrupção e, por favor, sem violência.

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