“Não foi um ano perdido para a educação”, diz pedagoga sobre pandemia
Patrícia Lins e Silva participou da série Colunistas Ao Vivo. "O retorno às escolas requer uma operação de guerra e escancara desigualdades", afirmou
Patricia Lins e Silva, educadora, diretora da Escola Parque e colunista de VEJA Rio, foi a terceira convidada da série Colunistas ao Vivo, no Instagram da revista.
No bate-papo, realizado nesta quarta (24), a pedagoga abordou educação em tempos de pandemia e os desafios encontrados por alunos, professores, diretores e pais neste período.
No final da conversa, Patrícia indicou dois livros para ler durante a quarentena. Confira, abaixo, alguns trechos da live:
Retorno à escola
“Dependemos da vacina e de conhecer ainda melhor essa doença. Enquanto isso não vem, nós estamos correndo um risco em voltar ao ensino presencial. Estamos todos loucos para voltar, tanto os professores quanto as crianças. Um colégio vazio é uma tristeza, sinto muita falta dos barulhos de uma escola cheia. Queremos voltar à Escola Parque em agosto, mas é uma verdadeira operação de guerra. Teremos que higienizar os banheiros a cada uso, as salas deverão ser limpas a toda hora… Chamamos um epidemiologista para que nos ajudasse a montar um protocolo para receber as crianças, mas sabemos que é muito difícil”.
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Tecnologia em foco
“A aprendizagem não precisa ser chata, de jeito nenhum. Escola não deve ser um lugar burocrático, pode ser uma mola propulsora para incentivar a curiosidade dos alunos. O conteúdo clássico está no Google, hoje a aula expositiva perdeu o sentido. Então, agora, conseguimos incorporar de vez a tecnologia em nossa forma de trabalhar. Não acredito que ela vai vir a ser a única forma, mas sim de uma maneira hibrida com o físico. Algo que funciona muito é trazer cenários da vida real que envolvam conteúdos de várias matéria. Quando eu falo de trânsito, por exemplo, posso abordar conteúdos de matemática, física, geografia, história. Temos um mundo novo a explorar”.
Avaliação do ensino à distãncia
“Estamos o tempo todo avaliando o que funciona ou não. Estabelecemos uma relação muito próxima com os pais, recebemos muitos feedbacks e, geralmente, eles estão certos. O que até agora mais nos chamou atenção foi o desenvolvimento da autonomia do aluno. Isso nos fez repensar uma série de questões burocráticas, como avaliações e provas, por exemplo. Ainda estamos aprendendo a lidar com esse momento, mas estamos gostamos desse desafio”.
Abismo social
“Quando falamos sobre ensino á distância, estamos restringindo o assunto a escolas de classes média e alta. Os pais da Escola Parque estão super presentes, participando ativamente. Mas estou falando de uma escola da Zona Sul carioca. A situação dramática que vivem as escolas públicas [sem aulas e material] me entristece. Temos que pensar em um jeito de reduzir essas desigualdades. É o destino do país que está em jogo. Fico com coração partido quando penso nisso, toda criança deve ser educada”.
Legado
“2020 não será um ano perdido, pelo contrário. É um ano de experiências muito fortes. Adaptar-se é muito difícil, mas nossas crianças e jovens vão adquirir muitas coisas novas. Essa mudança, tanto para o aluno quanto para o professor, é um legado. Agora a educação vai aderir totalmente à tecnologia. Foi um vírus, infelizmente, que acelerou esse processo. A certeza que temos em relação a educação é: muita coisa vai mudar nos próximos anos”.
Livros indicados
Sapiens – Uma Breve História da Humanidade – Yuval Noah Harari
21 Lições Para O Século 21 – Yuval Noah Harari
A Sociedade do Cansaço – Byung-Chul Han