Palácio Laranjeiras tem restauro 85% concluído
Residência oficial do governador, palacete erguido a partir dos delírios de um milionário no início do século XX, entra na fase final das obras de conservação
Símbolo de uma época em que o Rio de Janeiro via na França um modelo a ser seguido, o Palácio Laranjeiras começa a exibir, ainda entre andaimes e muita poeira, o antigo brilho que ostentava no passado. Erguido a partir de um projeto arquitetônico delirante, com o que havia de mais requintado em termos de material e acabamento, o casarão é fruto do capricho do milionário Eduardo Guinle (1878-1941). Um dos homens mais ricos do país no início do século XX, ele se propôs a construir uma residência principesca que não ficasse a dever nada a congêneres europeias. Segundo estimativas, as obras teriam consumido até a conclusão, em 1914, 1 milhão de dólares — o equivalente a 24 milhões de dólares de hoje, ou 93 milhões de reais. Tal obsessão contribuiu para a ruína do milionário, que devastou sua fortuna ao construir o palácio. Atualmente, o prédio centenário é destinado à residência oficial do governador, mas desde 2007 não é utilizado para esse fim. A partir de 2012, o governo fluminense passou a conduzir um extenso programa de restauração com o objetivo de devolver ao imóvel o esplendor de outrora. O plano é garantir o máximo de fidelidade ao projeto original, com intervenções que têm contemplado desde a reparação da estrutura do telhado até o delicado processo de limpeza das pinturas que adornam as paredes dos salões.
Ao todo serão aplicados no trabalho 39 milhões de reais, provenientes de treze empresas por meio de programas federais e estaduais de incentivo à cultura. Com 85% das obras concluídas, o objetivo é entregar o palácio pronto para a Olimpíada do Rio. A ideia é que o governador Luiz Fernando Pezão use suas faustosas instalações para receber chefes de Estado que virão assistir aos Jogos. Em meio à crise financeira que o estado atravessa, a primeira-dama Maria Lúcia Jardim se incumbiu pessoalmente da tarefa de arrecadar os recursos que faltam para encerrar os trabalhos. Desde janeiro, já levantou aproximadamente 17 milhões de reais, e agora faltam 2,8 milhões para fechar a conta. “Não estamos preocupados em nos mudar para lá. O objetivo é devolver o palácio aos fluminenses, para que possam conhecer aquelas instalações”, diz Maria Lúcia.
Ao longo dos últimos 100 anos, a suntuosa construção projetada pelos arquitetos Joseph Gire e Armando da Silva Telles, originalmente chamada de Palácio Guinle, passou por três reformas. A mais abrangente foi em 1979, durante o governo de Antônio de Pádua Chagas Freitas (1914-1991). As obras atuais são acompanhadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e compreendem o reparo de itens históricos, como o piso de mosaicos de mármore, e um amplo trabalho de modernização, que inclui a substituição das redes elétrica e hidráulica. Um dos melhoramentos é a instalação de um sistema de ar condicionado em todas as dependências, com 32 máquinas. Outra novidade é o elevador panorâmico do belvedere, a torre que adorna a fachada. O equipamento vai contrastar com o elevador original da casa, o primeiro da América Latina. “Chegamos a pensar em oferecer o casarão a alguma missão diplomática durante a Olimpíada. O dinheiro ajudaria a ampliar os recursos para a obra, mas ainda não tivemos interessados”, explica Leonardo Espíndola, secretário da Casa Civil.
Uma restauração tão minuciosa condiz com a importância do palácio. Depois da morte de Eduardo Guinle, a propriedade foi vendida ao governo federal, em 1947. Transformou-se então em local para recepções oferecidas a visitantes ilustres. Passaram por ali os presidentes americanos Harry Truman e George Bush (pai), Fidel Castro, o papa João Paulo II e músicos como Louis Armstrong e Nat King Cole. Lá também moraram alguns presidentes brasileiros, entre eles Juscelino Kubitschek. A temporada dos governadores começou com a fusão dos estados do Rio e da Guanabara, em 1974, e seis deles moraram no palácio — Leonel Brizola, Marcello Alencar, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão são as exceções. Uma vez pronto, o imóvel será aberto a visitação. Com isso, os cariocas poderão conhecer essa relíquia dos tempos em que o Rio sonhava ser Paris.