“O Rio é a capital do petróleo e da diversidade energética”
À frente da Secretaria de Energia e Economia do Mar, Cássio Coelho fala sobre transição energética e os novos projetos que fortalecem o setor no estado
Servidor público há mais de duas décadas, Cássio da Conceição Coelho passou por posições estratégicas do governo fluminense, como a presidência do Procon-RJ e do Fundo Soberano do Estado e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Desde outubro de 2024, está à frente da Secretaria de Energia e Economia do Mar (Seenemar), criada para integrar o desenvolvimento econômico, a transição energética e a economia azul — conceito que abrange as atividades produtivas ligadas ao mar. Em entrevista a VEJA RIO, o secretário fala sobre os motivos que levaram à criação da pasta, a potência do estado no setor de energia e os desafios de promover oportunidades para quem ainda está à margem desse desenvolvimento.
O Rio de Janeiro é o único estado do país com uma secretaria dedicada exclusivamente à energia e à economia do mar. O que motivou a criação dessa estrutura? A ideia surgiu em 2022, quando eu era secretário de Desenvolvimento Econômico. Já identificava que o petróleo e o gás eram setores fundamentais para o Rio — verdadeiras potências do estado. Em 2023, foi criada a Secretaria de Energia e Economia do Mar, que passou a englobar também outras atividades ligadas ao mar, como a indústria naval, a pesca e o comércio marítimo. Em outubro daquele ano, assumi a pasta, que agora completa um ano de gestão.
Qual é a dimensão da força do Rio nesse setor? O Rio responde por 89% da produção de petróleo e 76% da de gás natural, sendo o maior produtor do país. Levando em conta que o estado tem pequena extensão territorial, trata-se de uma potência enorme nessa área. Nosso desafio é conectar a riqueza gerada por esses recursos à população vulnerável. Criamos o programa Empregos Azuis com este propósito: aproximar o principal setor econômico do estado de quem mais precisa. Mapeamos 11 profissões mais demandadas e estamos formando pessoas que não teriam como custear esses cursos.
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Como funcionam os programas Empregos Azuis e Jovens do Mar, que têm apresentado os jovens a esse setor? O Empregos Azuis forma e emprega profissionais em áreas ligadas à economia do mar, como taifeiro, soldador e operador de empilhadeira. Firmamos convênio com a Marinha e parceria com a Secretaria da Mulher para turmas exclusivas femininas. A meta é formar 6 000 profissionais até 2026, com bolsas do SENAI em municípios costeiros. Já o Jovens do Mar promove inclusão e aproxima estudantes da rede pública da cultura marítima, com visitas a ícones como o Espaço Cultural da Marinha e a Ilha Fiscal, além de aulas de vela e remo na Enseada de Botafogo. Muitos dizem que é o melhor dia de suas vidas — o que mostra o poder transformador da oportunidade.
Como equilibrar o peso do petróleo com a transição energética? A transição é necessária, mas deve ser feita de forma justa e responsável. Hoje temos energia fotovoltaica nos 92 municípios fluminenses e somos o segundo maior produtor de biometano do país. Avançamos com um projeto piloto de energia eólica offshore em parceria com a Petrobras, apoiamos o estudo para conclusão de Angra 3 e temos um projeto de hidrogênio verde no Porto do Açu. O Rio abriga também importantes termelétricas a gás, menos poluentes, e nosso petróleo tem pegada de carbono inferior à média global. Por isso, acredito que o Rio é, ao mesmo tempo, a capital do petróleo e da diversidade energética.
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E como o governo tem estimulado o investimento em energia limpa? O governador regulamentou o Decreto nº 49.703/2025, que obriga termelétricas beneficiadas por incentivos de ICMS a destinar 2% do valor gasto com gás a projetos de eficiência energética e energia renovável. Essa política já vem atraindo investimentos, como o primeiro agro- solar da Região Sudeste, desenvolvido pela GNA, e uma usina fotovoltaica em Itaguaí, proposta pela Karpowership. É uma forma de estimular o setor privado a investir em projetos de compensação ambiental e de diversificação da matriz.
Em que estágio está o projeto de energia eólica offshore? O projeto está em fase de estudos e licenciamento. Em 2025, foram lançadas duas licitações para levantamentos geofísicos e geotécnicos na costa fluminense. Acreditamos que será um marco. Os ventos da região são fortes e constantes, ideais para a geração eólica. Com a implantação desse projeto piloto, vamos chamar a atenção do mundo e atrair novos investimentos para o Rio nessa transição energética.
Outro programa relevante da secretaria é o dos corredores sustentáveis, voltado à mobilidade de baixo carbono. Em que etapa ele está? Esse projeto dialoga diretamente com a estratégia de descarbonização do estado. O GNV (gás natural veicular) sempre teve papel central no transporte fluminense, mas vem passando por um momento de retração. Como o Rio tem a maior infraestrutura de GNV do país, não podemos deixar essa cadeia enfraquecer. A solução foi ampliar o uso do gás natural para caminhões e ônibus pesados, o que reduz emissões e ajuda a revitalizar o mercado. A Naturgy planeja investir em postos de alta pressão, fundamentais para veículos pesados. Essa modernização vai gerar novas receitas e fortalecer a transição energética no setor de transportes.
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Outra iniciativa importante é o Centro de Gerenciamento de Riscos e Emergências em Energia. Qual é o papel dele? O CGREE é um centro estratégico que atua em situações de crise energética. Foi criado na gestão anterior, mas nós o fortalecemos e o estruturamos melhor. Hoje conta com uma equipe especializada, incluindo bombeiros militares, que monitoram o fornecimento de energia em todo o estado. Quando há tempestades ou desastres naturais, o centro coordena a resposta entre concessionárias e órgãos públicos. É um trabalho essencial para proteger serviços públicos críticos e evitar que a falta de luz se transforme em tragédia.
Quais são as próximas ações no horizonte da secretaria? Temos projetos importantes em andamento. O primeiro é um projeto de lei para zerar o ICMS sobre a conexão de energia fotovoltaica, o que deve atrair empresas e ampliar a matriz renovável fluminense. Também estamos propondo a equalização do prazo para reparos e manutenção de plataformas offshore: hoje, grandes petroleiras têm um período maior, enquanto empresas pequenas têm um prazo menor, sob pena de cobrança de ICMS. Queremos ampliar esse prazo para todas, de forma justa e equilibrada. Essa mudança vai estimular a atividade de manutenção naval, gerar empregos e aumentar a arrecadação a médio prazo.
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