O que é a nova Casa Brasil? Reestruturada, instituição assume brasilidade

Com investimentos de 6 milhões de reais, centro cultural retoma vocação original e passa a atuar a favor da cultura nacional, diversidade e inclusão

Por Carolina Ribeiro
Atualizado em 27 jun 2025, 10h16 - Publicado em 27 jun 2025, 06h20
Casa Brasil: reformulada, instituição abrirá as portas para a Orla Conde
Casa Brasil: reformulada, instituição abrirá as portas para a Orla Conde (Dani Dacorso/Veja Rio)
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Moldada em pedras portuguesas e encravada na calçada da Orla Conde, a palavra “horizonte” repousa desde 2016 nos fundos da Casa França-Brasil. Nove anos depois, a obra permanente do artista plástico Yan Braz parece prever o novíssimo movimento desenhado para o centro cultural, que riscou o país europeu do seu nome e, a partir desta sexta (27), passa a atender como Casa Brasil. Inaugurada no último sábado (21), a exposição Flecha, de Mercedes Lachmann, contou com um ritual de defumação para abrir os caminhos. Quem comanda a vigorosa guinada rumo à valorização da produção nacional é Tania Queiroz, 70 anos, diretora da instituição desde 2022. “Essa construção é impregnada de história. A pedido de Dom João VI, foi projetada para ser a Praça do Comércio, onde seriam vendidos bens, riquezas naturais e até mesmo pessoas escravizadas. A Casa Brasil recobra esse caráter original. A gente fala em reposicionamento, mas, na verdade, a ideia é retomar a brasilidade”, elucida.

Na direção: Tania Queiroz divide a gestão da Casa Brasil e do Parque Lage
Na direção: Tania Queiroz divide a gestão da Casa Brasil e Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Daniela Dacorso/Veja Rio)

A fidelidade à cultura brasileira vai se refletir não só na programação de mostras – alternando nomes consagrados com artistas iniciantes -, shows e cursos, como no menu do bistrô-escola, capitaneado pelo Senac, que vai começar a operar de forma volante no mês que vem. Também em julho, a dupla Mayara Veloso e Rafael Pinto dará o pontapé inicial de um programa de residência, em parceria com a hospedaria Congá, também no Centro, e há duas coletivas no radar para o segundo semestre. A primeira será batizada com o nome da instituição e, em seguida, a Casa Fluminense ocupará as paredes e o salão da edificação, só com produções de criadores do estado do Rio de Janeiro. Em breve será aberta a convocação para os artistas. Para colocar o projeto de pé, Tania convocou um time curatorial de peso: Jocelino Pessoa, Carlos Eduardo Félix (Cadu), Marcelo Campos e a indígena Aliã Wamiri Guajajara. “Precisamos representar a nossa sociedade, então diversidade, acessibilidade e brasilidade são conceitos balizadores”, afirma Pessoa.

Brasilidade e inclusão: conceitos se refletem no time de curadores e equipe
Brasilidade e inclusão: conceitos se refletem no time de curadores e equipe (Vicente de Mello/Divulgação)

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A reestruturação do local foi possibilitada pelo edital Novos Eixos, da Petrobras, sob investimento de 4 milhões de reais. Somam-se ao montante 2 milhões de reais oriundos da secretaria estadual de Cultura, que destinou recursos da Lei Aldir Blanc para viabilizar a compra de aparelhos de ar-condicionado. “A Casa Brasil vai ter a nossa cara, valorizando de forma democrática e acessível a arte fluminense e brasileira”, propõe Danielle Barros, à frente da pasta. Uma novidade que promete ser um chamariz é a abertura do acesso direto à Orla Conde, formando um corredor criativo com os vizinhos Centro Cultural Banco do Brasil e Centro Cultural Correios. O portão passou os últimos anos fechado, mesmo após a derrubada da Perimetral e a consequente criação da área de lazer, por razões de segurança. Uma grade será instalada no local, restringindo o acesso à noite, junto com novos pontos de iluminação. “A construção já estimula esse fluxo, entrando por uma porta e saindo pela outra”, lembra Tania Queiroz, que convocou a crítica Daniela Name para produzir um podcast e um app, a fim de aproximar o público das obras ali expostas.

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Embora o casarão date do início do século XIX, só nos anos 1980 começou-se a pensar num fim artístico para o espaço. Então secretário estadual de Cultura, Darcy Ribeiro se aproximou de autoridades para angariar recursos que possibilitassem a restauração do prédio e a implantação de uma instituição destinada ao intercâmbio com a nação europeia. Embora o projeto tenha saído do papel, quase não houve troca entre os dois países. “O último evento patrocinado por uma empresa francesa foi em 1999. Recentemente pedimos apoio a uma retrospectiva do fotógrafo Pierre Verger mas não conseguimos”, relata a diretora da instituição. “Isso foi só uma confirmação de que estamos na direção certa”, acrescenta. A entidade recebe muitas propostas de exposições, então o trabalho é bem mais curatorial que propositivo. Nos últimos anos, passaram por lá individuais memoráveis de expoentes como Iole de Freitas, Ivens Machado, Carybé e Miguel Rio Branco.

Túnel do tempo: de Praça do Comércio à Alfândega, o que funcionou no casarão
Túnel do tempo: de Praça do Comércio à Alfândega, o que funcionou no casarão (./Reprodução)

O ânimo com o qual Tania Queiroz toca a Casa Brasil é proporcional ao empenho no papel de diretora interina da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que acumula desde abril. O simbólico palacete passa por uma gigantesca restauração, orçada em 21 milhões de reais, com previsão de duração de dois anos. “A gente esperava essa reforma há mais de quatro décadas. Recuperar um bem público gratuito é motivo de celebração”, evoca Tania, que foi coordenadora de ensino e professora da EAV entre 1992 e 2016. Até o final de julho, a expectativa é transferir as aulas para o espaço das cavalariças. A escola – que completa 50 bem vividos anos em 2025 – abriga hoje 600 alunos, divididos em três turnos. Mesmo com o prédio principal em obras, Tania promete que as comemorações do jubileu artístico estão de pé: “Vamos ocupar o jardim com sessão de cinema ao ar livre e shows de jazz, para que as pessoas se habituem a usar esse espaço”. Bons e inspirados ventos sopram na cultura fluminense.

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Em obras: palacete passa por reforma com previsão de dois anos
Em obras: palacete passa por reforma com previsão de dois anos (Felipe Azevedo/Divulgação)

 

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