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Os novos marchands

Jovens e versáteis, eles aproveitam a valorização da arte contemporânea para investir em galerias voltadas para a promoção e venda do grafite

Por Rachel Sterman
Atualizado em 5 jun 2017, 14h59 - Publicado em 19 Maio 2011, 18h36
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1 – Jaime Vilaseca, 29 anos Galeria: Vilaseca Assessoria de Arte. Quem representa: Antonio Bokel, Alexandre Cavalcanti, Gabriel Giucci, Herberth Sobral. Os artistas que admira no exterior: o britânico Banksy e o americano Keith Haring. 2 – André Engbrecht Bretas, 31 anos Galeria: Huma Art Projects (será inaugurada no dia 5 de maio). Quem representa: Gais e Marinho. Os artistas que admira no exterior: o italiano Blu, o francês JR e a japonesa Akane Koide. 3 – André Engbrecht Bretas, 31 anos Galeria: Huma Art Projects (será inaugurada no dia 5 de maio). Quem representa: Gais e Marinho. Os artistas que admira no exterior: o italiano Blu, o francês JR e a japonesa Akane Koide.

Eles caminham pela cidade, sempre atentos aos muros desenhados, em busca de um bom negócio. Com faro apurado, tentam pinçar talentos na democrática arte de rua, em que uma grande quantidade de tapeações convive com traços de qualidade. Uma nova safra de marchands – ou art dealers, como gostam de ser chamados – desponta no Rio. Em comum, além da idade, em torno dos 30 anos, a decisão de investir em galerias próprias para dar visibilidade a seu portfólio de apostas, formado quase 100% por grafiteiros. Expoentes desse grupo, Ricardo Kimaid Jr., André Engbrecht Bretas e Jaime Vilaseca desbravam um mercado de grande potencial. Aos poucos, os grafites adquirem status de obras de arte e atingem cotações inimagináveis até pouco tempo atrás. Na semana passada, um quadro feito por Gais, um dos pintores de trabalhos a céu aberto representados por André Bretas, foi vendido por 25 000 reais em um leilão da conceituada Phillips de Pury, em Londres. Mais que o preço em si, chama atenção o local onde foi realizado o pregão. “As pessoas deparam o tempo todo com a arte urbana e querem levá-la para casa”, avalia Vilaseca.

O fenômeno não é aleatório. Ele acompanha a valorização da arte contemporânea no Brasil e no mundo, resultado da pujança econômica global e do rejuvenescimento do público consumidor de arte. Nos últimos dez anos, um trabalho de Vik Muniz, por exemplo, chegou a ter seu preço inflado em mais de 2 000% ? um investimento formidável, três vezes maior que a remuneração média da bolsa de valores no mesmo período. Com relação específica ao grafite, as paredes das grandes metrópoles servem de plataforma para revelar criadores que ganham reconhecimento e cotação galopantes. O caso mais evidente é o do britânico Banksy, um bamba da autopromoção. Conhecido pelas intervenções provocativas e por sua identidade oculta, ele já teve uma de suas criações negociada por 400 000 reais.

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Admiradores da arte urbana e bem informados a respeito da intensa movimentação do setor, os novos marchands do Rio perceberam a oportunidade de juntar as duas pontas: ganhar dinheiro e de forma prazerosa. Caçula do trio, Vilaseca, 29 anos, pegou gosto pela pintura ainda criança, ao frequentar o ateliê de molduras de seu pai. Formado em publicidade, começou a agenciar artistas da área, como Antonio Bokel e Herberth Sobral, até decidir abrir, no ano passado, um endereço dedicado à exposição e comercialização dessa técnica desenvolvida em muros e fachadas. Seu perfil assemelha-se ao do designer gráfico Kimaid Jr., que é filho e neto de galeristas e resolveu manter-se no ramo. Proprietário da Movimento, no shopping Cassino Atlântico, atualmente gerencia a carreira de sete artistas, entre eles o elogiado Toz, baiano radicado no Rio há mais de uma década. O dia a dia deles resume-se a descobrir, difundir e viabilizar os novos talentos egressos dos espaços públicos. “Além de comprar obras para incentivar a produção, fico atento a editais de feiras, concursos e exposições no exterior”, conta Vilaseca.

As atuais galerias cariocas voltadas aos grafiteiros são herdeiras de um conceito que remonta ao começo da década de 50. Um dos pioneiros da atividade por aqui, o italiano Franco Terranova inaugurou, em 1954, sua Petite Galerie, que logo virou ponto de encontro de intelectuais e ajudou a propagar o trabalho de Alfredo Volpi, Roberto Magalhães e Carlos Vergara, entre outros. Nesse período, digamos, mais romântico, destacaram-se ainda duas casas, a Bonino e a Relevo. Aos 90 anos de idade, Terranova opina: “A principal mudança do meu tempo para cá é que o processo ficou bem mais dinâmico”. Na década de 80, uma nova leva de marchands, encabeçada por Thomas Cohn, lançou nomes do quilate de Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Leonílson. Integrante da nova geração de art dealers, André Bretas planeja abrir em maio a galeria Huma, no Humaitá. Paralelamente, mantém o Instituto R.U.A. (Revitalização Urbana Artística), que reúne profissionais de diversos setores para discutir a interferência em regiões degradadas da cidade. A convite da prefeitura, ele vai elaborar um projeto para o Mergulhão da Praça XV. Uma prova de que versatilidade é uma característica marcante entre os novatos.

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