Jornalista, produtor musical, compositor, escritor e roteirista, Nelson Motta é o famoso mil e uma utilidades. Dos festivais de música que participou ao lado de Chico, Caetano, Edu, Dori, aos tempos em que era dono de boate, ele acompanhou de perto as transformações da cidade. E agora se prepara para lançar seu primeiro musical, Tim Maia, com estreia prevista para 5 de agosto com direção de João Fonseca. Bem mais sossegado aos 67 anos, o ex-boêmio diz preferir o sossego da orla pela manhã à badalação das casas noturnas. “Depois de uma caminhada na praia, nada parece ruim”, diz. Confira o roteiro com seus programas preferidos pelo Rio.
Você esta escrevendo um livro sobre a vida de Glauber Rocha, produzindo um musical e um filme, tem programas em rádios e coluna em telejornal. Sobra tempo para curtir o Rio?
Sempre! Quando encontro uma brecha, gosto de vagabundear pela Livraria da Travessa de Ipanema, pegar um cineminha no Estação Ipanema, e depois coroar o programa com um dos sorvetes da Mil Frutas.
E qual é o seu refúgio preferido na cidade?
O calçadão de Ipanema e do Leblon. Caminho todos os dias de manhã bem cedo. Considero o privilégio dos privilégios. Depois da caminhada, nada parece ruim, tudo tem jogo.
Seu bairro preferido?
Ipanema. Minha vida está toda ali. Médicos, dentista, loja de informática, laboratório, cartório. Tudo meu se resolve entre a Praça do Obelisco (Bar Vinte) e a Praça General Osório. Costumo passear olhando as pessoas como num filme. Vivo Ipanema como uma cidade do interior.
Qual restaurante você indica?
O Ten Kai, um japonês excelente na Rua Paul Redfern, a Osteria Dell’Angolo, que tem o melhor (e dos mais caros) couvert da cidade, mas que vale cada azeitona. Também tem o simpático e eficiente Artigiano, no Jardim de Alá, que não é um assombro gastronômico, mas jamais decepciona e sempre mantem ótimo nível, a eficiência do serviço e os preços muito digestivos.
Rock in Rio, Copa do Mundo, Olímpiadas. O Rio está na moda de novo?
Para mim, nunca saiu. A Copa e as Olimpíadas vão dar um upgrade sim, mas as melhores coisas da cidade sempre estiveram aqui – e continuarão: a paisagem, o espírito carioca e o Fluminense.
Uma paisagem inesquecível, que traga boas lembranças?
A praia de Ipanema vista do Arpoador – ou o Arpoador visto do mirante do Leblon. Mas a vista mais bonita da orla mesmo é a da praia de Copacabana.
Quais são os artistas cariocas que estão fazendo um bom trabalho musical hoje?
Inúmeros. Jor Ben Jor, Fernanda Abreu, Marisa Monte, Pedro Luís, Casuarina, Paulinho da Viola, Seu Jorge, Orquestra Imperial, Marcelo D2, Roberto Menescal. São carioquíssimos e de alta qualidade.
Quando está fora do Rio, do que sente mais falta?
Do mar de Ipanema.
E o que te irrita na cidade?
O que não entendo muito bem é a quantidade absurda e crescente de farmácias em Ipanema e Leblon. Ou tem muita gente doente ou o pessoal adora um remedinho.
Em seu último livro, “Força Estranha”, você fala do Rio dos anos 60. Sente saudades dessa época?
Na verdade discordo dos saudosistas que falam do rio paradisíaco dos Anos Dourados, dos anos 60, que também vivi. A orla de Ipanema e Leblon, por exemplo, é mil vezes melhor agora. Com iluminação, calçadão, quiosques, chuveiros, ciclovia. A Lagoa também: no tempo do Tom Jobim, se podia pescar e nadar na água limpa. Mas, havia quatro favelas nas margens da Lagoa, o resto era mangue. Olhem como ela é hoje, tem quadras, parques, quiosques, jardins. Sou mais o Rio de agora.
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