Em mais um recuo de Paes, motos não terão velocidade limitada no Rio
Após pressão de motociclistas, prefeitura desiste de impor limite de 60 km/h e de proibir circulação nas pistas centrais de grandes avenidas

Em mais um recuo diante de pressões de categorias organizadas, o prefeito Eduardo Paes decidiu rever pontos centrais do Plano de Segurança Viária anunciado há menos de duas semanas. Em reunião com representantes de motociclistas na terça-feira (27), no Palácio da Cidade, ficou acertado que não haverá mais limite de 60 km/h exclusivo para motos, tampouco restrição à circulação desses veículos nas pistas centrais das avenidas Brasil, das Américas e Presidente Vargas — medidas que haviam sido anunciadas como parte de um esforço para reduzir o alto número de acidentes na cidade.
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A confirmação da mudança veio por meio de nota da prefeitura, no início da noite de quarta-feira (28): “Após reunião com a Federação de Moto Clubes, em 27/05, a Prefeitura do Rio irá revisar dois pontos do Plano de Segurança Viária: a regulamentação de limitação da velocidade máxima para as motocicletas nas vias da cidade em até 60 km/h e a proibição da circulação de motocicletas nas pistas centrais”.
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O presidente da Associação dos Motociclistas do Estado do Rio de Janeiro (AMO-RJ), Carlos Maggiolo, que participou do encontro, comemorou a decisão e afirmou que outras propostas também foram deixadas de lado, como a compra de 150 radares específicos para fiscalizar motociclistas.
— Graças a Deus, caíram essas medidas. A proibição das pistas centrais, por exemplo, colocaria os motociclistas em maior risco, ao obrigá-los a circular entre ônibus, caminhões e acessos movimentados — disse Maggiolo.
Segundo ele, a imposição do limite de 60 km/h poderia aumentar a gravidade dos acidentes, ao deixar os motociclistas no ponto cego dos carros. “Quem está em velocidade um pouco maior se torna mais visível no trânsito. Limitar demais a velocidade nos torna vulneráveis”, justificou.
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Também participaram da reunião o presidente da CET-Rio, Luiz Eduardo Oliveira; Gustavo Lorenzo, do Salão Moto Brasil; Danilo Sacramento, do podcast Trocando o Óleo; Humberto Montenegro, da Federação dos Moto Clubes do Rio; o advogado Armando Souza; e Alfredo Barbosa de Lima, diretor do Sindimoto, conhecido como “Alfredo Cartilha” por ter escrito um manual de conduta para motociclistas.
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— As pistas centrais são mais seguras para a moto. Quem anda nelas escapa do caos que são as laterais — comentou Cartilha. Ele também criticou a ideia de ampliar a fiscalização com radares: “O motociclista reduziria apenas nos pontos em que soubesse da presença deles e depois voltaria a acelerar”.
A prefeitura ainda não esclareceu se manterá outras ações do plano original, como a criação de faixas exclusivas para motos e parcerias com aplicativos de entrega para penalizar infratores.

Segunda mudança na semana
Esta foi a segunda vez, em poucos dias, que o prefeito voltou atrás em medidas anunciadas. Na mesma terça-feira, Paes se reuniu com quiosqueiros e barraqueiros para debater ajustes no novo decreto que regula a orla da cidade. A prefeitura decidiu liberar novamente a música ao vivo nos quiosques — agora sob regime de autorregulamentação — e permitir o uso de nomes nas barracas, desde que sigam um padrão visual estabelecido.
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A venda de bebidas em garrafas de vidro, antes proibida, também foi autorizada, com a condição de seguir regras específicas. Caberá à concessionária Orla Rio a fiscalização das normas, com previsão de multas que variam entre R$ 1 mil e R$ 2 mil para os quiosques que desrespeitarem as regras.
O decreto nº 56.072, publicado em 16 de maio, estabelece uma nova padronização para o comércio nas praias, incluindo barraqueiros e ambulantes, sob o argumento de melhorar a segurança e o ordenamento urbano.
Acidentes em alta
Ao apresentar o plano de segurança viária, Paes citou números alarmantes: em 2024, até agora, a Secretaria Municipal de Saúde prestou 19 mil atendimentos a vítimas de acidentes envolvendo motocicletas — um aumento de 32% em relação ao ano anterior. Ainda segundo a prefeitura, 69% das vítimas de acidentes de trânsito na cidade são motociclistas.
Mesmo com os dados, os representantes da categoria insistem que as medidas previstas no plano poderiam aumentar os riscos, e não reduzi-los.
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— O prefeito estaria jogando os motociclistas para um verdadeiro carrossel da morte. Do jeito que foi pensado, o plano criava mais perigo do que segurança — concluiu Carlos Maggiolo.