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Motobatedores passam a escoltar ciclistas para protegê-los do trânsito

Segundo a secretaria municipal de Saúde, o número de atendimentos a ciclistas vítimas de acidentes de trânsito mais que dobrou de 2023 para cá

Por Natália Boere
Atualizado em 12 set 2025, 10h00 - Publicado em 12 set 2025, 06h53
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Todo cuidado é pouco: os motociclistas que acompanham treinos de bicicleta costumam ser xingados por condutores de carros impacientes (Leo Lemos/Veja Rio)
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Em Vale Tudo, Afonso Roitman subiu inúmeras vezes a Grota Funda pedalando. Atrás dele, um motociclista escoltava todo o percurso. Engana-se quem atribui a cena a um capricho de triatleta bilionário. Antes do amanhecer, entre 4h e 5h30, é comum passar por grupos de ciclistas acompanhados por motobatedores na Lagoa, no Leblon, em Ipanema e na orla da Barra e do Recreio.

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Munidos de coletes e capacetes refletivos, para serem vistos mesmo no escuro, esses profissionais tornaram-se figuras fundamentais para garantir a proteção dos atletas, mesmo que nem sempre consigam livrá-los de acidentes. A diretora criativa Renata Americano, 43, pedalava ao lado de cinco colegas, com escolta, quando foi atropelada por um motoqueiro em Barra de Guaratiba, em abril de 2024.

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Ela passou por duas cirurgias e levou seis meses para se recuperar. Encantada pelo esporte, voltou a treinar, sempre na companhia de um batedor, quando pedala entre os carros. “Ele me pega em casa e cuida de mim. Além da sensação de segurança, sei que pode prestar socorro rapidamente”, diz Renata.

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Depois de sofrer um acidente, Renata Americano só pedala no trânsito com escolta (Leo Lemos/Veja Rio)

O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que os carros devem respeitar a distância mínima de 1,5 metro ao ultrapassar ciclistas. Além disso, determina que veículos maiores e motorizados têm responsabilidade sobre os menores e propelidos pelo condutor. No entanto, muitos motoristas parecem ignorar as regras. Em agosto, a bicampeã sul-americana de triathlon Márcia Ferreira foi atropelada, com três de seus atletas, por um carro em alta velocidade, por volta das 4h, na Enseada de Botafogo.

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Há 28 anos, naquele mesmo ponto, ela teve a carreira de alto rendimento interrompida após um acidente. Como se dirigia à Área de Proteção ao Ciclista de Competição (APCC), no Aterro, pista exclusiva para o pedal às terças e quintas, bem cedinho, não estava acompanhada por batedores. “É um trajeto de 2 quilômetros que faço há 25 anos. Não imaginei que cruzaríamos com um motorista tão imprudente e irresponsável. Além de tentar fugir sem prestar socorro, ele estava com a habilitação vencida”, brada Márcia.

Esse não foi um caso isolado. Quem atesta é o motociclista Ricardo Rodrigues, que acompanha a atleta há quatro anos. “Motoristas encostam no meu pneu traseiro e passam xingando, dizendo que a pista não é lugar de ciclista”, relata Rodrigues. Ele recebe cerca de 200 reais por escolta e faz, em média, três por semana. No último ano, a demanda pelo serviço dobrou.

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Raphael Pazos (à direita), fundador da Comissão de Segurança no Ciclismo, numa APCC (Rodrigo Molina/Divulgação)

Fundador do motoclube Anjos do Esporte, que reúne 25 motoqueiros especializados em escoltar esportistas em treinos e competições, Beto Vivas viu o número de profissionais dedicados subir mais de 65% no grupo desde a pandemia, época em que o ciclismo explodiu na cidade. A função, no entanto, exige preparo e cautela. “É preciso se posicionar na quina do pelotão para que os motoristas entendam que a faixa da esquerda é da bicicleta”, descreve. “Até o deslocamento de ar de um carro em alta velocidade passando perto da bike pode derrubar um praticante da modalidade”, alerta Raphael Pazos, fundador da Comissão de Segurança no Ciclismo.

O número de atendimentos a ciclistas vítimas de acidentes de trânsito também cresceu vertiginosamente. Segundo a secretaria municipal de Saúde, foram 598 entre janeiro e abril de 2023, 918 no mesmo período de 2024 e 1 376 nos quatro primeiros meses de 2025. O Corpo de Bombeiros já registra aumento de 4% nas ocorrências na capital fluminense ao comparar o período de janeiro a julho de 2024 com 2025. “É preciso reduzir o limite de velocidade dos carros, porque as lesões são diretamente proporcionais ao impacto. O ajuste na legislação pode ser feito pela autoridade municipal”, defende o major Fabio Contreiras, porta-voz da corporação.

Ele lembra ainda que capitais como Bogotá e Amsterdã ampliaram a malha cicloviária e aumentaram a fiscalização e a punição de infratores, reduzindo o número de tragédias. “Falta vontade política. As nossas leis são de reação em vez de prevenção”, resume Vivi Zampieri, criadora do projeto de educação viária Bike na Pista. Questionada por VEJA RIO se há a possibilidade de redução da velocidade nas vias e planos para extensão de ciclovias, a CET-Rio limitou-se a reforçar, em nota, “a importância do respeito às normas de trânsito e da convivência segura entre os modais”. Salve-se quem puder.

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