Tirando um tema instrumental, todas as outras oito composições de Acabou Chorare (1972), entre elas a faixa-título, Preta, Pretinha e Brasil Pandeiro, ganharam status de clássicos da música popular brasileira. Para os Novos Baianos, aquele repertório representou uma mudança radical de sonoridade, sob influência do genial João Gilberto, classificado por Moraes Moreira como o produtor espiritual do disco. Ao lado do filho Davi Moraes, o guitarrista e compositor recria o álbum ao vivo no Instituto Moreira Salles, na Gávea. A apresentação, para 113 felizardos, já está com os ingressos esgotados.
Por que não se juntaram todos os integrantes para a reedição do repertório? Lá é muito pequeno, mas não é só isso. É muito difícil reunir todo mundo, cada um foi para o seu lado e tem ideias musicais diferentes. Pepeu Gomes é quem eu encontro com mais frequência, porque mora no Rio. Baby, só muito de vez em quando. Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor moram na Bahia. Além disso eu gravei todas essas músicas no DVD A História dos Novos Baianos e Outros Versos. Estou com todas debaixo do dedo.
Qual foi a participação efetiva de João Gilberto em Acabou Chorare? Ele e Galvão são conterrâneos, conheciam-se de Juazeiro. Quando João voltou dos Estados Unidos, Galvão foi procurá-lo e um belo dia ele apareceu na nossa casa. João dizia que o sonho dele era ter um grupo com todos os músicos morando juntos. De certa forma viveu esse sonho com a gente. Ele apareceu no exato momento em que estávamos reunindo músicas para o segundo disco. Não implicava com a guitarra, mas sentia falta de brasilidade, foi quem nos apresentou à música de Assis Valente.
Seu filho morou até os 3 anos no sítio dos Novos Baianos, em Jacarepaguá. Você repetiria a experiência? Se voltasse à minha juventude, sim, mas hoje não seria possível. Hoje cada um pensa de um jeito, tem ideias diferentes sobre música e religião, entende? Na época, ninguém estava com o ego inflado, estávamos todos trabalhando juntos, jogando para o time.