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Uma bula para cada um: medicação customizada reduz efeitos e acerta a dose

A farmacogenômica aponta como a genética pode orientar prescrições mais seguras e eficazes

Por Renata Busch
7 nov 2025, 07h05
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Tecnologia a serviço da saúde: fatores como o tempo de metabolização no organismo são levados em conta nesta prática (Carlos Duarte/Getty Images)
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Um estudo publicado em maio na prestigiada revista americana Science mostrou que o Brasil tem a maior diversidade genética do mundo. São cerca de 8,7 milhões de mutações inéditas, número superior a todas as outras investigações já feitas ao redor do planeta. Diante de tanta diversidade, a farmacogenômica, ciência que estuda a influência dos fatores genéticos na resposta a medicações, vem ganhando espaço.

A partir de um teste simples, de análise de sangue ou esfregaço bucal, é possível conhecer os genes de cada um e trazer resultados mais efetivos a diversos tratamentos. “As práticas convencionais de prescrição são uma das principais causas de toxicidade medicamentosa, sendo responsáveis por aproximadamente 10% das internações e até 5% de ocupação dos leitos em todo o mundo”, afirma Jamila Perini, professora de farmácia da Uerj. “A prescrição guiada pode reduzir reações adversas em até 30% e tornar o tratamento mais econômico ao equilibrar eficácia e segurança”, complementa Joana d’Avila, 47 anos, professora de farmácia da PUC-Rio.

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Pacientes na batalha contra o câncer têm sido rotineiramente submetidos a testes moleculares antes de iniciar a jornada rumo à cura. Atualmente, existe uma lista de mais de trezentos remédios em que a farmacogenômica se aplica. “Quem metaboliza rapidamente um medicamento o elimina de forma mais veloz, logo o efeito é reduzido. Isso pode explicar por que certas pessoas não respondem a um determinado tratamento”, explica Joana.

Já indivíduos que metabolizam lentamente podem sofrer efeitos colaterais por acúmulo da substância no organismo. Um exemplo é o anticoagulante oral de baixo custo varfarina. Cerca de 17% da população do país tem o perfil lento para a metabolização, o que pode causar hemorragia. Por outro lado, 40% dos brasileiros apresentam resistência, necessitando de doses acima do usual. O exame, por enquanto, não é coberto pelo SUS ou por planos de saúde, e custa aproximadamente 600 reais. “Infelizmente, ainda é uma realidade para poucos na prática clínica”, lamenta Jamila.

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Na seara dos tratamentos psiquiátricos, os pacientes costumam experimentar três medicações antes de encontrar a mais adequada. A farmacogenômica, portanto, pode encurtar esse caminho tortuoso. “Dependendo do perfil, isso pode gerar insegurança e desconforto. Ter um exame que aponte uma direção personalizada ajuda na adesão e reduz essa agonia”, observa o psiquiatra Vítor Pereira, que incorporou os testes à rotina do consultório há cerca de cinco anos. “Mas nada substitui o encontro humano, a escuta terapêutica e o acolhimento de quem está em sofrimento psíquico”, ressalta o médico.

Um estudante de 30 anos, morador de Niterói, que prefere não se identificar, foi diagnosticado com transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) aos 7 e depressão aos 23. Tentou várias opções desde 2012 e, no ano passado, ajustou os remédios depois da avaliação genética. “Desde então, consigo interagir melhor, tenho mais concentração e disposição para estudar e cumprir tarefas do dia a dia. Os tiques nervosos diminuíram e me sinto mais calmo e confiante”, relata.

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Prescrição guiada: reações adversas são reduzidas e tratamento fica mais econômico, afirmam especialistas como o médico Vítor Pereira (Mario Pamplona/Divulgação)
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+Rio é o principal polo de pesquisas ligadas ao envelhecimento no país

A precisão é essencial na terceira idade, quando a função do fígado fica mais comprometida e ocorrem mudanças na capacidade de absorção dos medicamentos. “Os idosos costumam usar múltiplos remédios e normalmente têm um metabolismo mais lento. A customização ajuda a reduzir reações adversas e até mesmo as quedas e as confusões mentais”, explica o psiquiatra. Pereira destaca outro benefício no campo da psiquiatria: a redução do tempo para atingir estabilidade emocional e com menos efeitos colaterais.

“É uma evolução natural da prática farmacêutica e médica, e uma das ferramentas mais promissoras para promover a longevidade com qualidade”, concorda Joana, professora da PUC-Rio. Para a especialista, com o tempo, essa abordagem será integrada à rotina clínica, e o uso de fármacos será mais racional e eficiente. Num futuro próximo, cada ser humano poderá dispor, enfim, de sua própria bula.

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Sob medida

Quando a medicação personalizada pode ser útil

  • Quando o paciente não responde bem aos tratamentos tradicionais ou apresenta muitos efeitos colaterais.
  • O tratamento do câncer é beneficiado porque a doença segue um padrão de variantes genéticas.
  • Quadros de depressão grave, resistentes às práticas terapêuticas convencionais.
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