“Marielle era uma ameaça aos poderes constituídos”
Colega de bancada e, como ela, estreante na Câmara Municipal, Tarcísio Motta busca entender as circunstâncias do assassinato de Marielle Franco
O PSOL tem a segunda maior bancada na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. No grupo de seis vereadores eleitos em 2016, os estreantes Tarcísio Motta e Marielle Franco eram particularmente próximos: fizeram campanha juntos, ocupavam gabinetes vizinhos e planejavam enfrentar as eleições no fim do ano com uma chapa puro-sangue: Motta para governador e Marielle como vice. A saudável convivência e os planos para o futuro foram brutalmente interrompidos na noite de ontem, com o assassinato da vereadora. Seu amigo Tarcísio Motta foi um dos primeiros a chegar ao local do crime e não descansa desde ontem, mas parou por um instante para conversar com VEJA RIO. .
As investigações sobre o crime avançaram de alguma forma?
Não estou acompanhando diretamente as investigações, quem está fazendo isso é o deputado Marcelo Freixo, em contato direto com a delegacia de homicídios, a polícia civil. Não tenho notícias novas, mas percebo que todo o operativo está empenhado no avanço das investigações. Reconheço isso, a prefeitura, inclusive, disponibilizou o Centro de Controle Operacional, que tem câmeras espalhadas pela cidade.
O que, na atuação da vereadora Marielle Franco, pode, de alguma forma, ter contribuído para que decidissem calá-la desta forma brutal?
A denúncia dela sobre a violência policial em Acari não foi parte de uma ação mais incisiva, ela fez isso através de uma postagem nas redes sociais, tinha contato com familiares de vítimas, é um tipo de trabalho que ela já fazia desde o tempo da comissão de direitos humanos. Não havia nenhum relato de ameaça, nem a ela nem a ninguém da nossa bancada. Eu convivia diariamente com ela, meu gabinete era o lado do dela, não havia nenhuma avaliação de que corríamos risco. Agora, ela, como vereadora, com a perspectiva política dela, era sim uma ameaça aos poderes constituídos, paralelos e oficiais. Acho que a atuação da Marielle levou a essa execução. Portanto, precisamos de respostas. Pode ter sido o 41º Batalhão da PM (acusado de atos de violência em Acari)? Pode. Pode ter a ver com as críticas que ela fazia à intervenção federal? Pode. Mas a pergunta que importa é a seguinte: Por quê?
Do que você vai sentir mais saudade?
Do sorriso dela.