Em 1975, Maria Venina da Conceição Araujo ingressou, como auxiliar de enfermagem, no Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, onde trabalhou até se aposentar, em 2010. Lá, conheceu o projeto Amigas do Peito, criado há dez anos com o objetivo de apoiar mulheres que tiveram câncer de mama. Prometeu que, assim que tivesse tempo, daria a sua contribuição. E cumpriu a promessa. No ano seguinte à sua aposentadoria, juntou-se ao grupo de voluntárias que tocam o projeto. “Ensino tricô, crochê, reciclagem, fazendo fuxico e florzinhas. É uma espécie de arteterapia”, conta Maria, de 70 anos. “Mas eu não sou a única. Somos um grupo multidisciplinar, com psicóloga, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social”, ela faz questão de esclarecer.
“Muitos maridos deixam a mulher ao saber da doença. Ela fica sem rumo, em meio a uma doença grave”
O combinado entre as voluntárias é que se revezem nos encontros que acontecem semanalmente com as pacientes. Maria, no entanto, vai toda semana. “É que as outras ainda trabalham; eu sou a única aposentada. Então toda quarta saio de casa, no Centro, às 6h30 e passo a manhã inteira no hospital”, relata ela, que não vê nisso nenhum sacrifício. “Para mim, é gratificante. Parei de trabalhar, mas não fiquei em casa vendo TV. No grupo, a gente bate papo, descontrai, faz festinhas, passeia, uma dá apoio à outra. É uma rede de solidariedade”, acredita.
O projeto Amigas do Peito atende cerca de sessenta mulheres, com idade entre 38 e 84 anos, que estão em tratamento. “Há muitas que chegam deprimidas, com problemas financeiros sérios porque o marido as abandonou ao saber do diagnóstico. Elas ficam sem rumo. É uma doença grave e ainda cercada de preconceitos”, ressalta. A história de cada uma delas será mostrada no documentário Amigas do Peito — Rede Afetos no Cuidado, produzido pelo Ministério da Saúde e com previsão de lançamento para até o fim do mês, quando será exibido em hospitais e outros órgãos públicos.
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