Marcia Noleto criou um grupo de apoio a mães que perderam os filhos
Após a morte da filha em um acidente de helicóptero, a relações-públicas criou o Mães Sem Nome para ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo problema
A vida da relações-públicas Marcia Noleto pode ser dividida entre antes e depois de 17 de junho de 2011. Até então, ela era apenas uma mãe de um casal de jovens com um cotidiano pacato e um emprego no consulado da França havia mais de uma década. Naquele dia, entretanto, uma tragédia se abateu sobre sua família. Namorada de Marco Antônio Cabral, um dos filhos do então governador Sérgio Cabral, sua primogênita, Mariana, então com 20 anos, morreu em um acidente de helicóptero. A aeronave levava sete pessoas que haviam deixado o Rio para passar o fim de semana em um resort, quando caiu, no litoral sul da Bahia. Nas sessões de terapia após o acidente, Marcia pensava no que fazer para sair da depressão. Resolveu, então, procurar outras mães que haviam passado por traumas semelhantes — caso das mulheres cujos filhos morreram nas chuvas que atingiram a Região Serrana em 2011. “Eu tinha uma necessidade muito grande de compartilhar a minha dor”, lembra. Dois meses após a morte da filha, ela criou uma página no Facebook batizada como Mães sem Nome, para dividir experiências. “Quando você perde os pais, fica órfão. Se perde o marido, vira viúva. Mas não há palavra no dicionário que defina quem perde um filho. Por isso escolhi esse nome para o grupo”, conta.
“Quando você olha para o outro, parade ver só oseu problema”
O que inicialmente era apenas um espaço virtual para trocar vivências acabou crescendo e virou um grupo de apoio a mães enlutadas. Hoje, trabalham voluntariamente ali doze mulheres que enfrentaram a dor de perder um filho. Elas integram uma espécie de diretoria na qual desempenham diferentes funções. Há, por exemplo, um núcleo de psicologia que atende genitoras na mesma situação, a preços populares. A mais recente conquista é uma parceria com a universidade IBMR, que, a partir do próximo ano letivo, cederá seu espaço para reuniões semanais nos mesmos moldes daquelas dos Alcoólicos Anônimos, em que as mães poderão partilhar suas histórias. O envolvimento de Marcia com o projeto é tamanho que ela decidiu pedir licença do posto no consulado e acaba de ingressar na faculdade de psicologia. “Quando você olha para o outro, para de ver só o seu problema. Eu percebi que não estou sozinha. Meu sonho é conseguir montar um centro de terapia equipado para pessoas enlutadas”, diz.
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