Rio mal assombrado
Veja alguns locais da cidade famosos por concentrar fantasmas e conheça as histórias que os cercam
Portas rangendo, sussurros, passos, lustres e cortinas que balançam misteriosamente com as janelas fechadas e até aparições de almas penadas são alguns dos relatos sobrenaturais de certos pontos da cidade. Dizem que um dos lugares mais mal assombrados do mundo é o castelo de Edimburgo, na Escócia, mas o Rio também tem seus fantasmas. Conheça prédios e instituições cariocas conhecidos por sua atividade supostamente paranormal. Você acredita?
O Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, mais conhecido como Castelinho do Flamengo, é o centro das atenções na Zona Sul quando o assunto é o além. Conta-se que na década de 30 os donos do imóvel morreram atropelados. A filha do casal, Maria de Lourdes, passou então a ser criada por um tutor, que roubou seus bens, a prendeu na torre e a maltratou. Na década de 70, a construção se transformou em um cortiço habitado por moradores de rua, até que eles começaram a fugir de lá. Há relatos de que eles sentiam alguém tocando neles durante a madrugada, enquanto dormiam. Alguns chegaram a presenciar aparições de uma mulher, supostamente Maria de Lourdes, que teria voltado para retomar o que pertencia a ela.
Mas é a Cinelândia o bairro que parece concentrar a maior quantidade de assombrações por metro quadrado do Rio. Quem garante é Milton Teixeira, um dos maiores especialistas em história da cidade que, durante anos, foi guia do passeio Tour Fantasma. Em seu roteiro de dar calafrios estavam construções como o Arco do Telles, o Theatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e a Câmara dos Vereadores. Nestes lugares, segundo Teixeira, é comum escutar gritos, sussurros, correntes sendo arrastadas e, com sorte (ou azar), avistar até mesmo alguma aparição. “Em todos os prédios geralmente os fantasmas são ex-funcionários ou pessoas que os frequentavam”, afirma Teixeira.
Segundo a professora de história Cláudia Rodrigues, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), o Arco do Telles é um dos clássicos cariocas do terror. “Por volta do século 18, a região reunia muitos criminosos. Ali teriam vivido também uma feiticeira africana e uma bruxa conhecida pelo nome de Bárbara dos Prazeres, vinda da Europa”, explica a historiadora. Milton Teixeira vai além. Ele conta que, no início do século 19, quando a bruxa começou a ficar velha, ela passou a perseguir crianças para uma poção de rejuvenescimento à base de sangue jovem. “Ela acabou sendo presa, mas, em 1830, desapareceu”, conta o guia. Não à toa, há relatos de sons de gargalhadas, lamentos e choros no Arco.
Outro prédio cheio de mistérios é o do Museu Histórico Nacional, antigo Arsenal da Marinha, no Centro. Lá, o corpo de Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira, foi esquartejado em uma das celas do calabouço. Sua cabeça foi então erguida em Vila Rica, hoje Ouro Preto, em Minas Gerais, para servir de exemplo aos inconfidentes. Os demais pedaços foram espalhados pelo Caminho Novo, uma das estradas reais que davam acesso à região das Minas Gerais à época do Brasil Colônia.
As assombrações também parecem rondar o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. O casarão de São Cristóvão,onde a família real viveu é cercado de histórias que deixam até os mais céticos de cabelo em pé. Desde a morte da imperatriz Leopoldina, em 1826, há relatos sobre suas supostas aparições nos aposentos do antigo palácio. Consta até que um antigo vigilante noturno do museu chegou a pedir transferência do setor após ouvir, em plena madrugada, ruídos vindos das escadas e o barulho de uma máquina de escrever. Ao seguir os sons, nada foi encontrado.
Já o fantasma do escritor Olavo Bilac é frequentador assíduo do Theatro Municipal, onde também vagam almas penadas de bailarinas, cantores e compositores. “Bilac se identificou para uma médium e até recitou poesia. A seção foi ao ar na extinta TV Manchete, em 1996”, conta Teixeira. “Tenho saudade da época em que as pessoas tinham medo de sair de casa à noite por causa de fantasmas. Hoje, infelizmente, o medo é outro: é daqueles que estão vivos”, diz.