Lixo preocupa moradores do Rio, que não sabem como lidar com ele
96% consideram reciclar importante, mas 72% não separam recicláveis, diz pesquisa
Com a melhor das intenções, Juliana Faria, moradora da Barra, abriu espaço para uma lixeira azul em seu apartamento. Marco da entrada da coleta seletiva na rotina da publicitária, o recipiente reúne, desde fevereiro, a parcela de seu lixo destinada à reciclagem. No condomínio, inclusive, há caçambas exclusivas para esse tipo de resíduo. O problema nessa história virtuosa é o final ainda em aberto. “Até hoje, não tenho certeza se não misturam o que separo em casa”, confessa Juliana. Na dúvida, ela segue fazendo a sua parte, ao contrário da maioria dos fluminenses. Realizada a pedido da companhia de bebidas Ambev, uma pesquisa do Ibope divulgada neste mês revela que 96% dos moradores do Estado do Rio consideram a reciclagem importante para o futuro do planeta. Lindo. No entanto, segundo o mesmo estudo, 72% dos entrevistados não separam materiais recuperáveis no lixo de casa. “As pessoas têm consciência ambiental, mas não sabem como colocá-la em prática”, resume Filipe Barolo, gerente de sustentabilidade da Ambev.
O objetivo da enquete foi lançar luz sobre a relação dos cidadãos com aquilo que descartam. Para três em cada quatro consultados, o meio ambiente é uma das maiores preocupações atuais. Um porcentual equivalente considera o detrito responsabilidade de quem o produz — mesmo depois de jogado fora. Por outro lado, 64% admitiram saber pouco sobre separação de rejeitos, e o desconhecimento a respeito de cooperativas de reciclagem atingiu 78% do grupo. Apenas 3% tinham consciência, por exemplo, de que as caixinhas do tipo longa-vida, usadas por marcas de leite e sucos, podem ser reaproveitadas. A Comlurb e outras empresas de coleta atuam basicamente na logística: fazem a sujeira sumir da porta das casas. Isso é ótimo mas, de certa forma, contribui para a ignorância da população. “Falta informação, faltam campanhas sistemáticas de conscientização”, avalia Luciana Freitas, gerente de resíduos da Bolsa de Valores Ambientais do Rio.
Como se sabe, os habitantes da Terra estão abusando. Fundada em 1970, e hoje mantida por uma rede de 100 000 profissionais mundo afora, a Associação Internacional de Resíduos Sólidos publicou, em março, um relatório mostrando que 25 milhões de toneladas de sobras vão parar nos mares todo ano. As reações à tragédia anunciada existem, mas ainda são tímidas. No último dia 7, a Câmara Municipal do Rio aprovou lei que obriga ambulantes, bares e restaurantes a trocar os canudos de plástico por versões de papel. Todo esforço é bem-vindo, já que as casas cariocas produzem 4 750 toneladas de restos por dia. Desse total, porém, apenas 3% são recuperados, informa a Comlurb. “Mandar recicláveis para aterros é gastar à toa com transporte e diminuir a vida útil desses espaços”, explica Paulo Ribeiro, consultor na área e coordenador do projeto Recicoleta. Dica: o site Rota da Reciclagem lista cerca de 100 pontos de entrega voluntária, cooperativas de catadores e até lojas onde se compra material que pode ser reaproveitado. Faça como a Juliana e passe da preocupação à ação. A natureza agradece. ß