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Livro reúne 230 fotos surpreendentes da cidade feitas entre 1902 e 1930

No apagar das luzes das comemorações em torno dos 450 anos do Rio,obra da editora Bem-Te-Vi promove uma bola volta ao passado

Por Pedro Tinoco
Atualizado em 2 jun 2017, 12h19 - Publicado em 12 dez 2015, 00h00

Jornalista, ex-governador do Estado da Guanabara e político de discursos inspirados, e muitas vezes coléricos, Carlos Lacerda (1914-1977) ganhou o presente de um admirador cuja identidade se perdeu no tempo. Com sua morte, o filho, o editor carioca Sebastião Lacerda, desde criança um entusiasta da fotografia, herdou a maleta com poucas imagens de papel em meio a uma montanha de negativos de vidro e de película. Guardado com cuidado por décadas, o material não poderia ter sido revelado em melhor hora: 230 fotos saídas desse tesouro esquecido recheiam Rio Belle Époque — Álbum de Imagens (B­­em-Te-Vi; 288 págs.; 70 reais), trabalho notável que ganha as prateleiras no finzinho das comemorações dos 450 anos da cidade — o lançamento acontece na terça (15), na Livraria da Travessa de Ipanema. A expressão em francês no título define costumes dos primeiros anos do século XX. Na obra em questão, aplica-se a aspectos da vida carioca observados entre 1902 e 1930, período em que se circunscrevem as imagens escolhidas.

O acervo impressiona por indicar um ineditismo capaz de surpreender especialistas. É o caso de Alexei Bueno, responsável pela seleção iconográfica e autor do texto que, no livro, descreve as imagens e as situa ao longo de capítulos repletos de informação histórica. “O conjunto mais significativo é o dedicado ao Morro do Castelo, antes, durante e depois de sua destruição. As fotos têm uma luminosidade linda, parece que foram feitas hoje”, explica o escritor, ex-diretor do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e membro do Conselho Estadual de Tombamento. Berço da cidade, o morro foi posto abaixo, a jatos d’água, em obra que ignorou preocupações maiores com a preservação da memória. “Os ossos de todos os fundadores do Rio de Janeiro, heroicos companheiros de Estácio de Sá, e os dos primeiros povoadores, que se encontravam todos, evidentemente, sepultados na Sé Velha ou na Igreja dos Jesuítas, desceram junto com a lama”, escreveu Bueno, antes de esclarecer que se salvaram — e hoje estão na Igreja dos Capuchinhos — uma imagem do padroeiro, os restos mortais de Estácio de Sá e o marco da fundação.

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A belle époque carioca teve momentos mais amenos. Da maleta herdada por Sebastião Lacerda, diretor executivo da editora Bem-Te-Vi, também saíram poses de beldades à beira-mar, o flagrante insólito da cabeça da estátua do Cristo, sobre a grama, ainda longe do topo do Corcovado, e uma imagem triunfal da Revolução de 30. Nela, vitoriosos no movimento que depôs o presidente Washington Luís e levou Getúlio Vargas ao poder aparecem em volta do obelisco da Avenida Rio Branco. Variada, a coleção original exibe em profusão imagens de personagens, paisagens e construções desaparecidas. Além disso, guarda um segredo. “Dá para imaginar que os trabalhos são de, pelo menos, três ou quatro autores, mas não há assinaturas nem outra pista sobre eles”, diz Bueno. O nome de Augusto Malta (1864-1957) emerge como um palpite razoável. Seria ele, além do famoso fotógrafo oficial do Distrito Federal entre as décadas de 1900 e 1930, um pioneiro freelancer? “Ele fez muita coisa por fora. O pesquisador e colecionador George Ermakoff tem recibos de venda de positivos do Malta. Acho bem provável”, opina Bueno.

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