Mais livro, menos farmácia: médicos se unem para abrir sebo em Laranjeiras
Casa 11 tem 76 sócios - incluindo enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e estudantes de medicina - e será aberta oficialmente no dia 15 de julho
O remédio é simples e não tem contraindicação. Um grupo de 54 médicos – e mais nutricionistas, psicólogos e estudantes de medicina – se uniu para endossar a receita, prescrita para os cariocas a partir do próximo dia 15, quando inauguram oficialmente o sebo e livraria Casa 11, em Laranjeiras: “Mais livros, menos farmácias”. O que se tornou o lema da empreitada, numa cidade que vê muitos empreendimentos serem fechados para dar lugar a um sem número de drogarias, foi visto por uma das 74 sócias do estabelecimento numa pichação no muro de um terreno baldio perto da antiga Perinatal. “Quando li, vi uma sintonia clara com a sociedade adoecida de que falo no meu doutorado em Psicologia. Estou fazendo minha parte no tratamento dela”, conta a clínica geral Rita Iglezias.
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A história começa quando a também médica Ana Mallet – que foi dona da livraria Largo das Letras, em Santa Teresa, por cerca de 20 anos e também cursou Letras – viu o imóvel vazio, numa galeria da Rua das Laranjeiras, e teve uma ideia. Ela sugeriu a um grupo de colegas que se juntassem para alugar o espaço, com cada um dando 100 reais: “Podíamos abrir um sebo!”. “Fiquei com aquilo na cabeça. Como trabalho no Instituto Nacional de Cardiologia, quase em frente, resolvi atravessar a rua para dar uma olhada. Na volta, respondi: topo!”, relembra Rita. Não foi a única. O grupo cresceu, e inclui ainda 20 profissionais da área de educação e dois economistas. “Somos um coletivo de apaixonados por livros. Todos amadores, no melhor sentido”, resume a médica, explicando que as decisões são tomadas num grande grupo de WhatsApp. Eles se dividiram em comissões, como as de doações e compras, limpeza e redes sociais.
O nome do milagroso remédio, assim como a logomarca, foi escolhido assim. O “casa” vem das próprias características do imóvel que, apesar de estar no interior da galeria, tem porta, janelas e a própria numeração (11) como as de uma casinha de vila. Rita foi buscar na astrologia os subsídios para defender sua proposta de nome, que acabou vencendo a acirrada eleição. “Não sei nem qual é meu ascendente”, frisa a canceriana, “mas descobri que a penúltima casa da Mandala Astrológica nos fala essencialmente dessa coletividade. Os valores humanos, as ações em conjunto, a solidariedade, como olhamos e cuidamos do outro, as amizades que marcam nossa vida e nos abrem a outros círculos sociais”.
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Fechado o negócio e escolhido o nome, faltava encher aquele espaço vazio. “O universo começou a conspirar. Uma amiga disse que estava com mil livros para doação, e acabou doando até estante. Outros contribuíram com mesa, cadeiras”, enumera Rita. Já estão lá cerca de 3.000 livros, entre novos e usados, e mais 2.500 ficaram guardados num “cafofo” que virou uma espécie de reserva técnica. O local, ainda que involuntariamente, já está funcioanando numa espécie de soft opening: “As pessoas entram, olham, gostam de alguns exemplares e querem comprar. Mesmo antes de ter maquininha ou PIX oficial falo para levarem e pagarem depois. Uma pessoa me disse: ‘mas você nem me conhece’. Se mora aqui perto e só voltar depois e fazer o pagamento”, diz a médica. O importante é encontrar a cura.
A Casa 11 fica na Rua das Laranjeiras, 371, loja 11.